Resenha
Edição 156 > Aurélio Peres - Um militante comunista desbravador
Aurélio Peres - Um militante comunista desbravador
“A biografia de Aurélio Peres é atual, nos coloca em face do que foi a resistência desde 1964, e sua passagem para a redemocratização. Portanto é uma biografia de ricos ensinamentos, que através das jornadas de lutas do biografado, nos remete hoje à comparação histórica desse período do regime militar, com a ocupação do poder pelas forças extremistas de direita e o flagrante da volta da resistência pela democracia e liberdade na atualidade”. Renato Rabelo

Aurélio Peres - Vida, fé e luta
Autor: Osvaldo Bertolino
ISBN: 978-85-7277-198-6
Edição: 1
Ano: 2018
Formato: 23cmx16cm
Páginas: 558
Preço: R$ 65,00
Disponível em: http://www.anitagaribaldi.com.br
Voltei do exílio, onde vivia nos arredores de Paris, em 12 de outubro de 1979, logo depois de Diógenes Arruda e antes de João Amazonas, os quais voltavam também ao Brasil após anos de expatriamento. Era o começo, ainda atropelado, da anistia que manifestava os estertores do longo regime ditatorial, imposto desde começo de 1964, através de um golpe de Estado, conduzido pelos militares.
Tínhamos diante de nós mais uma gigantesca tarefa a realizar na extensa vida do Partido Comunista do Brasil, que exigia a sua reunificação e reestruturação, a sua continuidade. Contudo contávamos com dirigentes experientes e abnegados, que conseguiram sobreviver à sanha do arbítrio e violência do regime militar, os quais se mantinham no país.
A eles se juntaram os que estavam fora do país, destacando-se, sobretudo, João Amazonas, o mais experiente e destacado dirigente comunista e, ainda mais, em consequência da súbita morte de Arruda, que ampliava o vazio deixado pelos quadros mais distinguidos do Partido. O terror da ditadura deixou um brutal rastro de sangue, ceivando a vida de inúmeros combatentes, entre eles, quadros muito relevantes à condução do Partido.
Além dessa tragédia para os comunistas, era preciso enfrentar ideias derrotistas e liquidacionistas, que brotam em momentos como estes. Por outro lado, podíamos contar, resultante do valioso papel combatente desses quadros heroicos e da coerência ideológica do PCdoB, uma contrapartida valiosa em situação tão adversa, que a luta nesse momento pôde conceder, como a integração dos quadros e contingentes da Ação Popular.
(...)
Em meio à situação que pontilhava tantos desafios foi um prémio dos céus já encontrar militando, na fase dos estertores do regime militar, como deputado federal, Aurélio Peres. Sim, atuando como Deputado Federal, eleito em 15 de novembro de 1978, compondo o bloco dos Autênticos do MDB.
Aurélio vinha da Ação Católica, depois ingressou e militou na Ação Popular e, então, já fazia parte daqueles membros dessa Organização, que se integravam ao PCdoB, participando da sua estrutura dois” (Na integração da AP ao PCdoB, a incorporação foi feita inicialmente ao nível da Direção Nacional, mantendo as estruturas estaduais sem junção organizativa entre PCdoB e AP. Isto por uma justa função de segurança, ainda na vigência da ordem ditatorial, sendo as vinculadas ao primeiro denominada de estrutura um”, e as relacionadas à segunda de estrutura “dois”.)
Neste cuidadoso e minucioso trabalho biográfico sobre a trajetória de Aurélio Peres, Osvaldo Bertolino, já com rica experiência de pesquisa e elaboração biográfica nos oferece ricos relatos da vida, das ideias e do exemplo extraordinário de um filho de trabalhadores rurais, que surgiu como uma liderança expressiva, em um contexto histórico marcado pela transição que anunciava um novo tempo, que descortinava a superação do longo período de chumbo vivido pelo povo brasileiro.
(...)
Não imaginávamos que após 30 anos, passando por esse golpe parlamentar de 2016, se culminaria por via legal, por meio da vitória eleitoral, numa ocupação do poder central pela extrema-direita. Esta tomou o leme da direita para implantar na continuidade do governo Temer, o estabelecimento de um poder ultraliberal, entreguista e pró-hegemonia do imperialismo estadunidense, agressivamente ultraconservador, defensor de ideias aquém da modernidade, do final do século XVIII – se atentem para o que propõe para educação e os direitos civis – com um caráter autoritário, se espelhando na ditadura instituída em 1964. A dramaticidade de 1964 volta como farsa em 2018.
A biografia de Aurélio Peres é atual, nos coloca em face do que foi a resistência desde 1964, e sua passagem para a redemocratização. Portanto é uma biografia de ricos ensinamentos, que através das jornadas de lutas do biografado, nos remete hoje à comparação histórica desse período do regime militar, com a ocupação do poder pelas forças extremistas de direita e o flagrante da volta da resistência pela democracia e liberdade na atualidade.
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Nesse sentido, a explanação biográfica primorosa de Aurélio Peres, escrita por Osvaldo Bertolino, põe o leitor diante da vida e da luta do simpatizante e da liderança que compunha a resistência nas condições de um regime de exceção, ditatorial, que atingiu fortes traços de fascistização, sobretudo após o Ato Institucional número 5 (AI-5). Traz a lume, através da trajetória de Aurélio Peres, com grande riqueza analítica, as formas de terror espalhadas pelo regime e seus asseclas, que, nesse momento, os vencedores do pleito presidencial de 2018 procuram emendar uma narrativa para justificar o rastro de sangue, o crime hediondo da tortura e redimir o golpe militar. (...)
*Renato Rabelo é presidente da Fundação Maurício Grabois. O texto desta resenha é composto de trechos do prefácio assinado por Rabelo no livro biográfico sobre Aurélio Peres.