Editorial
Edição 141 > Lutar, resistir, derrotar o golpe
Lutar, resistir, derrotar o golpe

No atlas político de um mundo regido por uma crise capitalista, a maior desde a Grande Depressão de 1929, a direita neoliberal e as forças reacionárias avançam seus domínios por países de vários continentes.
Como bem afirmou o professor Luiz Gonzaga Belluzzo, ao analisar o golpe de Estado em andamento no Brasil, “trata-se de retomar o Poder Formal para ajustá-lo ao Poder real dos Donos do Poder”. E arremata: “O verdadeiro poder está concentrado no capital financeiro e nos seus porta-vozes na Grande Mídia. Hoje é a lógica da finança globalizada que avança no território outrora ocupado pelas opções da política democrática”.
Na América do Sul, a Argentina já foi amealhada por esse caudal reacionário, é dramático o cerco ao governo de Maduro na Venezuela e aumentam as pressões sobre os governos de Morales e Correa, da Bolívia e Equador, respectivamente. Antes golpes de Estado assemelhados a este em curso no Brasil já depuseram Lugo no Paraguai e Zelaya em Honduras.
Chegou a vez do Brasil.
Desde 12 de maio, depois de longa, ampla e bravia resistência democrática e popular, o Palácio do Planalto caiu nas mãos de um governo ilegítimo, chefiado por Michel Temer.
A presidenta Dilma Rousseff, afastada do cargo pelo Senado Federal, será julgada em até 180 dias. Do Palácio da Alvorada, com coragem política e fibra inquebrantável, ela lidera e inspira a resistência.
Trata-se de um golpe “moderno”. Não marcha, tramita. Tramita cumprindo prazos, ritos e liturgias, na Câmara, no Senado, com a opinião pública sob a ditadura dos monopólios da mídia, com ação seletiva de setores da Polícia Federal e do Judiciário.
Embora asséptico, mas igualmente aos que outrora infestaram a trajetória da República, o golpe em andamento fere de morte a democracia e seu objetivo é aviltar a soberania nacional, cortar direitos do povo e dos trabalhadores.
O golpe – embora “tramite” aceleradamente para se consumar – pode, sim, ser derrotado.
O golpismo teve 55 votos dos 81 integrantes do Senado, na votação da admissibilidade. Se dois senadores alterarem seus votos no julgamento, o impeachment fraudulento será derrotado.
O relatório do senador Anastasia, apesar de mil artifícios, não conseguiu provar que a presidenta Dilma Rousseff tenha cometido crime de responsabilidade. Não conseguiu porque não há crime de responsabilidade. Nesta fase do julgamento essa verdade inconteste será ainda melhor demonstrada.
O ministério do governo ilegítimo de Michel Temer foi todo ele montado visando a assegurar os 54 votos necessários para condenar a presidenta Dilma. Além disso, Temer usará os demais cargos, usará a estrutura do Estado e do governo para arrebanhar os votos dos senadores e, assim, consumar o golpe.
A dificuldade da consumação do golpe é que, para tal, há necessidade de condenar quem não cometeu nenhum crime. Aos olhos da opinião pública brasileira e internacional, é preciso transformar o Senado num tribunal de exceção, e condenar uma pessoa inocente.
Os golpistas, impiedosamente, farão isto, mas uma força pode detê-los.
Essa força é a resistência popular e democrática dos trabalhadores e de amplos setores progressistas, que se levantou nas ruas, nas universidades, nas redes sociais, em manifestos e atos, de juristas, artistas, e de múltiplos segmentos da sociedade.
A areia escorre no funil da ampulheta e a democracia está por um fio! Mas este fio é forte porque foi tecido no curso de muitas lutas e nos custou muitas vidas.
À luta: Vencer o golpe no Julgamento do Senado e se opor resolutamente ao governo ilegítimo de Michel Temer.
Adalberto Monteiro
Editor