Homenagem
Edição 148 > Gilse Westin Cosenza: uma mulher imprescindível (1943-2017)
Gilse Westin Cosenza: uma mulher imprescindível (1943-2017)
Gilse Maria Westin Cosenza nasceu em 1943 na cidade de Paraguaçu (MG). No movimento estudantil, foi militante da Juventude Estudantil Católica (JEC), da Juventude Universitária Católica (JUC) e da Ação Popular (AP). Na prisão, sofreu torturas físicas, psicológicas e sexuais. Com a integração da AP ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB), passou a militar no Partido e foi uma das responsáveis pela sua reconstrução no Ceará. Transferindo-se para São Paulo, assumiu a presidência da União Brasileira de Mulheres (UBM) e dirigiu a Comissão Nacional de Mulheres do PCdoB. De volta a Minas Gerais, foi presidente do PCdoB em Belo Horizonte e integrante da direção estadual do Partido

A seguir, trechos do depoimento de Gilse publicado como capítulo do livro Repressão e Direito à Resistência - os comunistas na luta contra a ditadura (1964-1985). São Paulo: Anita Garibaldi, coedição com a Fundação Maurício Grabois, 2013.
Meu pai, José Nicodemo Cosenza, era um comerciante extremamente católico, conservador e patriarcal. Para ele, suas filhas deveriam fazer o ginásio e depois o magistério – isso era o máximo que ele admitia. Dar aula para crianças seria, segundo ele, a única profissão aceitável para uma mulher, até se casar e se tornar uma respeitável esposa e mãe.
O fato de não haver ginásio para mulheres em Paraguaçu, minha cidade natal, fez com que eu fosse para o internato no Colégio das Irmãs dos Santos Anjos, em Varginha. O internato era rígido e nos deixava muito presas. E eu sentia que era preciso movimentar as coisas e ir mais adiante.
Minha mãe, Simone Westin Cosenza, professora primária, era o modelo de esposa e mãe tradicional, totalmente submissa ao marido e com 11 filhos. Estava sempre grávida e com uma criança agarrada a ela. Vivia preocupada em não desagradar a meu pai. Eu dizia desde menina que não queria casar nunca. Incomodava-me tremendamente a diferença entre o tratamento dado a meus irmãos mais velhos e a mim, as amarras que me eram impostas.
(...) Ao entrar no Instituto de Educação, achei tudo maravilhoso e comecei a me mexer. Conheci imediatamente Helena Paixão, que era dirigente da JEC naquela escola e me convidou para entrar na organização. Eu desconfiei: achava que aquilo era para ser freira, ser “filha de Maria”. Mas ela me convenceu que não. Disse que a JEC era para cuidar das pessoas, para brigar pelas questões sociais. Helena dizia que Cristo não queria justiça só para depois da morte, mas para ser usufruída em vida e que a organização queria mobilizar os estudantes com esse objetivo. Então, entrei para a JEC e imediatamente criamos o grêmio estudantil, do qual fui diretora. Isso tudo aconteceu nos primeiros anos da década de 1960. Naquele momento, começava a luta pelas reformas de base.
A crise da legalidade, quando os militares tentaram impedir a posse de Jango em 1961, nem chegou até nós no colégio. A primeira luta mesmo foi pelo acesso à educação. A partir disso, as discussões foram se ampliando. Começamos a perceber a ligação da questão da educação com a luta pela reforma agrária, contra o imperialismo, pela independência do Brasil, pelos direitos sociais dos trabalhadores. Criamos um grupo para dar aulas de alfabetização nas favelas pelo método Paulo Freire. Aí nosso contato com os problemas sociais aumentou. Percebemos que a luta era maior e envolvia também a urbanização, a saúde, a questão da moradia. Ou seja, passamos pouco a pouco a ter uma visão mais ampla dos problemas de nossa sociedade.
Terminado o terceiro ano no Instituto de Educação, decidi que faria um curso superior que me colocasse em contato com as questões sociais. Resolvi cursar Serviço Social na Pontifícia Universidade Católica (PUC), assim como outras companheiras da JEC, e fazer da minha profissão um instrumento de luta em benefício do povo.
(...) As aulas começaram em fevereiro de 1964. A essas alturas eu estava absolutamente enfronhada em tudo o que estava acontecendo no país. Nesse período, já havia ingressado na Juventude Universitária Católica (JUC).
Desde a madrugada do dia 1º de abril de 1964, as rádios anunciavam a “revolução redentora”, ou seja, o golpe militar. Havia tanques nas ruas, aquela confusão toda. Chegamos de manhã à faculdade e começamos a discutir o assunto. Não queríamos assistir às aulas, mas ir para as ruas. Fizemos uma passeata em direção à Praça Sete, achando que lá poderia haver gente para nos dar armas, o que nos possibilitaria fazer frente aos militares. Estudantes de outros cursos e escolas também se dirigiram ao local pensando a mesma coisa. Mas ali só encontramos o Exército e ninguém para nos dar armas, nem para nos organizar. Então, frustrados, nos perguntamos: “E agora?”.
Decidi que era preciso resistir de alguma forma e que a JUC já não me bastava. Enquanto a Ação Popular foi legal, eu não entrei. Na hora em que se tornou clandestina com o golpe, no dia 1º de abril, passei a integrá-la. E novamente Helena Paixão é que me recrutou.
(...) Fui até a Faculdade de Economia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) para avisar Abel Rodrigues, meu namorado e companheiro da AP. Ele ficou preocupado que eu sumisse e não nos víssemos mais. Decidimos avisar nossas famílias que desapareceríamos por uns tempos, e o motivo dessa atitude.
Meu pai teve um ataque de asma, dizia que ia morrer de tantos problemas que eu provocava. Ele dizia: “Comunista e foragida da polícia? Não dá, eu não aguento”. De repente, perguntou: “E o namorado?”. Respondi que ele ia comigo. “Juntos? Não, além de comunista, perseguida pela polícia e amasiada, não dá, eu morro! Sempre fui católico, eu sou temente a Deus”. Bom, foi aquela confusão e resolvemos nos casar rapidinho. As famílias não aceitavam casamento só no civil, tinha que ser no religioso também.
Marcamos o casamento com um padre progressista na igreja de Santo Antônio. Quando comunicamos isto a minha irmã Gilda e a seu namorado, o Henfil (Henrique de Sousa Filho), ele disse: “Gente, se é para limpar a barra moral de vocês com a família, vamos nos casar todos juntos. Assim, limpa logo a barra de todo mundo de uma vez”.
(...) Estava indo tudo bem até que surgiu o Ato Institucional número 5 (AI-5), em 13 de dezembro de 1968. Em janeiro, recebemos, pelo rádio, um recado codificado para irmos a uma reunião, em Belo Horizonte no mês de fevereiro, que analisaria a nova situação e discutiria como continuar a luta sem sermos presos ou assassinados.
A mensagem codificada funcionava assim: combinávamos em Belo Horizonte, antes de viajar, um código que tinha três partes (nomes de pessoas que ofereciam a música, as músicas e nomes de pessoas a quem eram oferecidas). Usávamos aqueles programas de rádio em que uma pessoa oferece uma música para outra.
Combinávamos uma série de músicas e nomes que mudavam as três partes, com aqueles recados básicos: “Venha para a reunião”, “Saia da área”, “Vai chegar alguém” etc. O local do encontro, dia, horário, senha e identificação já eram também preestabelecidos. Ouvíamos esses programas diariamente, e, num deles, estava o recado.
Em fevereiro de 1969, portanto, fomos até a capital mineira; eu estava com sete meses de gravidez e entrei em trabalho de parto durante a reunião. A bolsa arrebentou e eu corria para o banheiro toda hora. Somente no fim da manhã um companheiro, Carlos Melgaço, estudante de Medicina, achou estranho alguém urinar tanto e percebeu que a bolsa tinha rompido.
A reunião foi interrompida, Loreta Valadares e Solange Nóbrega ficaram cuidando de mim e os meninos foram procurar um médico progressista, aliado, para fazer o parto depressa porque eu estava com a prisão preventiva decretada.
Quando chegamos ao hospital, constatou-se que eu estava grávida de gêmeos. Voltei para o aparelho da organização, pois naquele hospital não tinha vaga e, então, arrumaram um hospital na Lagoinha, e o médico era aliado da AP. As duas crianças nasceram muito pequenas, com 1,2 kg e foram para a incubadora. Saímos do hospital rapidinho, mas eu ia visitá-las todos os dias.
Uma das crianças sobreviveu apenas 15 dias. Estava muito fraca e acabou morrendo nos meus braços. Juliana também estava muito frágil e ficou um mês na incubadora. Tivemos de arrumar um casal de amigos para me esconder com ela: Ana Tereza e José Afonso. Rodrigues voltou para a roça. Juliana era hospitalizada a todo momento por causa de pneumonia, gastroenterite, hepatite. Por motivo de segurança, mudei para a casa de outro casal de amigos: Corina e Júlio César.
O dia 17 de junho era aniversário da minha irmã mais nova, Gilvânia, de quem eu era madrinha. Pedi à Corina que ficasse com Juliana para que eu fosse à casa de meus pais dar notícias sobre a neta e parabenizar minha irmãzinha.
Quando eu já estava na casa da minha família, tocou a campainha. Minha mãe tinha uma daquelas portas com grade de ferro e uma parte de vidro. Ela abriu e eram dois agentes do Dops. “Viemos revistar a casa porque acabamos de prender o seu filho, Gildásio, e ele nos deu este endereço”. A reação de minha mãe foi impressionante: “Gildásio não mora aqui e vocês não vão entrar. Eu não os conheço. Na minha casa não entra nenhum homem desconhecido, só quando o meu marido estiver”. E os milicos diziam: “Mas nós somos do Dops, da polícia”. Minha mãe respondeu: “Então, tragam uma autorização do juiz, senão não entra”. Em seguida, ela bateu a porta de vidro, trancou tudo e ficou vigiando.
(...) Fui para a casa de Loreta e Melgaço. Aparentemente estava tudo bem; parecia que eles estavam cozinhando. Quando entrei, a repressão estava lá. Nosso pessoal tinha caído. Os agentes haviam feito uma operação pente-fino e pegaram mais de 100 pessoas da AP e da igreja. Levaram-me e eu dizia que não sabia de nada; para disfarçar, perguntei se queriam dinheiro. Eles queriam saber o que eu tinha ido fazer lá. Respondi: “Soube que aqui morava uma moça chamada Celeste, que faz roupinha de tricô para neném, e eu tenho um neném, quero encomendar roupinha”. Foi aquela confusão; os caras começaram a me dar tapas e o lenço acabou caindo. Um dos milicos viu a mancha no meu pescoço e disse: “Essa é a subversiva de pinta, pode levar. Nós a conhecemos, está no arquivo”.
Levaram-me para uma sala de aula da Polícia Militar, onde havia um monte de gente sentada nas cadeiras. Na hora em que cheguei à porta, a primeira pessoa que vi foi meu irmão Gildásio, passando frio. Ele estava com um agasalho de tricô todo puído. Quando ele me viu, se abaixou na cadeira e fez um sinal perguntando de minha filha. Fiz outro sinal respondendo que não estava comigo.
Ficamos presos um bocado de tempo. Havia mais de 100 pessoas ali. Eles nos vigiavam até para ir ao banheiro. Tínhamos de usar de porta aberta. Todas as mulheres que estavam presas menstruaram, e tivemos de pedir a eles que comprassem absorventes. Pegaram o dinheiro das bolsas dos presos e mandaram comprar uma porção de absorventes. Mesmo nessa situação, tínhamos de ir ao banheiro de porta aberta, na frente dos caras de arma na mão. Isso é uma humilhação terrível.
Um dia, pegaram Gildásio e eu e nos levaram ao Colégio Militar. Procuraram nos confrontar, mas a única coisa que admitíamos é que éramos irmãos. E mais nada. Depois eles mandaram os homens para a Penitenciária de Neves e nós para a Penitenciária de Mulheres. Os agentes colocaram Delcy Gonçalves – a Sissi –, Loreta Valadares, Laudelina Carneiro, Maria do Rosário e eu na solitária.
(...) A rotina de torturas continuou. Já havia passado muito tempo desde a minha prisão e eles ainda não tinham conseguido montar o tal do IPM. Por isso, estavam sendo cobrados. Soubemos que o general tinha dado um pito neles, dizendo que eram incompetentes, que estavam sendo vencidos e enrolados por cinco mulherzinhas. Então, tiraram-me de lá e me levaram para o Colégio Militar. Capitão Lacerda falou: “Gilse, sinto muito”. Ele tentava se fazer de bonzinho. Léo espancava, Lacerda dizia que lembrava a filha que tinha perdido e que não queria que fizessem nada disso comigo, os caras é que eram ruins. E Lacerda continuou: “Olha, Gilse, o coronel já perdeu a paciência com você e eu estou sofrendo muito porque não queria que eles fizessem nada com você. Vão te entregar para o Léo. E o Léo é sádico, é doente. Ele gosta de ver mulher sofrer e se excita com isso”. Quando eu estava saindo, passei devagar pela Loreta e ela disse: “Caiu a Bahia. Presta depoimento”. Até então eu não tinha dado nenhum depoimento. “Dê o seu depoimento, admita alguma coisinha para ver se a gente para com isso tudo”. Então, me levaram.
Léo, Jésus e um desconhecido me vendaram, me levaram para longe e quando me tiraram a venda percebi que estava num posto policial de estrada. Isso era por volta das 7h da noite. E então começou nova sessão de tortura. Jésus e Léo me mostraram um papel assinado por Góes onde se lia: “Extrair depoimento de Gilse a qualquer custo”. E disseram: “Ordem do coronel”.
Começou então uma sessão ininterrupta de tortura. Latinha, espancamento, pau-de-arara. No pau-de-arara, o cacetete com pontinha nas nádegas e no pé. Choque elétrico na vagina, nos dedos da mão e do pé e por aí afora. Fui ficando arrebentada e pensava: “Não posso perder a consciência, a noção do que eu estou fazendo”. Então, disse que falaria. Eles me tiraram do pau-de-arara. Exigi: “Mas primeiro, quero minha roupa toda”. E vesti. “Agora quero ir ao banheiro”. “E agora quero um cafezinho e um cigarro, senão não falo”.
Depois de ter tudo isso, comecei a dizer as mesmas coisas que já tinha falado desde o início. “Sou uma democrata, luto pela independência nacional” e tal. Perguntaram quem eu conhecia e eu disse que não conhecia ninguém. Perceberam a minha enrolação, tiraram minha roupa toda de novo, rasgaram, me colocaram de novo no pau-de-arara e começaram tudo novamente.
De cabeça para baixo no pau-de-arara, percebi que havia um basculante que dava para a estrada. No início da noite, tinha barulho de carro passando, depois ficava tudo quieto. Pensei: “Vai começar a clarear e eu tenho que aguentar até lá porque aí começa a passar carro e gente e alguém vai escutar os gritos”. Minha esperança era o sol.
Quando ouvi o primeiro barulho de um carro passando, disse a eles que falaria. Léo me tirou do pau-de-arara e eu nem conseguia parar de pé. Jogou-me no chão de cimento; eu estava muito arrebentada e mesmo assim ele me violentou. Veio feito louco para cima de mim.
Fiquei lá jogada um bocado de tempo e depois eles mandaram que eu me vestisse e prestasse o depoimento. De acordo com o que Loreta tinha dito, admiti que tinha sido da AP quando era estudante, que tinha participado de uma reunião, mas não sabia o endereço, e que quando deixei de ser estudante não participei mais. E eles me perguntavam quem eu conhecia e eu continuava dizendo não conhecer ninguém. Então, disseram: “Mas você não conhece ninguém? Você é maluca?”. Respondi: “Conheço o meu pai, José Nicodemo Cosenza, minha mãe, Simone Westin Cosenza e meus irmãos”. Então, falava o nome dos dez irmãos. Eles ficavam furiosos.
Prestei o depoimento exatamente como quis: pequenininho, admitindo apenas que eu já tinha sido da AP. Eles começaram a me pressionar, ameaçando me colocar de novo no pau-de-arara se eu não falasse das outras pessoas que estavam na reunião. Respondi: “Podem me colocar, podem me matar, podem fazer o que quiser. Eu falo de mim, mas me recuso a dizer qualquer nome para não comprometer outras pessoas”. Isso está lá no depoimento.
Nesse momento, já tinha clareado e eles não podiam me colocar de volta no pau-de- arara ali. Eu tinha calculado isso. Eles acabaram aceitando esse depoimento e me levaram embora. Então, foram tomando depoimento das outras quatro, também sob tortura.
Quando chegou setembro, eles nos tiraram da solitária e juntaram as presas políticas das várias organizações – da Corrente Revolucionária de Minas Gerais (Corrente), do Comando de Libertação Nacional (Colina), da AP – num lugar da penitenciária. Um dia parou um ônibus com cortinas fechadas, e nos prenderam a todas, uma na outra, com algemas que apertam se puxar. Colocaram todas dentro do veículo e ameaçaram que poderiam nos matar e desovar nossos corpos sem que ninguém pudesse achá-los.
Fomos levadas para a Penitenciária de Linhares, em Juiz de Fora, onde a situação era outra. Góes ficou bravo porque o processo nosso era completamente inconsistente. E voltaram para nos reinquirir no presídio, mas ali era sem tortura.
(...) Minha saída da prisão foi uma mistura de esperteza e sorte. Meus advogados, Afonso Cruz e Carlos Cateb, foram aos milicos pedir minha soltura com base em minha absolvição. O comandante, que controlava tudo o que dizia respeito aos presos políticos, tinha viajado para uma reunião. Estava um substituto, que não controlava absolutamente nada. Os advogados chegaram com tudo certinho, os carimbos dos coronéis, dos generais, mostrando que eu tinha sido absolvida e foi dada a ordem de soltura.
Cateb foi me buscar e me advertiu que no dia seguinte o engano seria descoberto e os militares estariam atrás de mim para me prender novamente. Então, eu precisava “esquecer” de Minas Gerais.
Afonso conseguiu localizar Rodrigues em São Paulo, avisamos à família e fui para lá. Minha mãe me acompanhou até que eu me encontrasse com ele.
Arrumamos uma identidade, um barraco para morar e começamos a trabalhar na periferia de São Paulo. Imediatamente me colocaram para atuar na Comissão de Segurança da direção nacional da AP, ligada diretamente a Aldo Arantes e Péricles de Souza. Rodrigues já estava na Comissão de Segurança. Eu cuidava dos contatos clandestinos, correspondências, e avaliação de pessoas saídas da prisão, ponto de chegada para militantes do Brasil todo, com códigos, escrita invisível, essas coisas. Quando tinha reunião, Rodrigues ia junto para montar a segurança do local e viajava com os dirigentes.
Depois, entramos em contato com Gilda e Henriquinho e eles nos levaram Juliana com quase dois anos de idade. Era para termos tido só Juliana, mas, mesmo usando pílula, engravidei novamente. Naquelas condições de sobrevivência e com riscos de segurança, havia uma pressão para abortar. Cheguei a ir à clínica, mas desisti. Decidimos ter a criança e nasceu Gildinha (nome em agradecimento a Gilda e Henriquinho).
Então, um companheiro da AP nos ensinou a trabalhar com fotografia, nos deu uma aparelhagem de cópia de fotografia e nos ensinou a fazer documentos falsificados para os companheiros. Fazíamos isso em casa. E assim íamos sobrevivendo, trabalhando como fotógrafos, militando e cuidando das crianças.
Até que em 1975 – quando já tínhamos entrado no PCdoB junto com o contingente da AP –, Pedro Pomar e Péricles foram conversar conosco sobre a questão da segurança. A repressão estava chegando perto e nós quase fomos presos algumas vezes; tivemos que mudar de casa e de identidade duas vezes. Eles nos propuseram ir para o Ceará, onde o partido inteiro tinha caído. Lá a repressão não nos conhecia, podíamos criar uma vida legalizada e procurar reconstruir e reorganizar o partido.
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A doce revolucionária Gilse Consenza
Na noite do dia 28 de maio de 2017, recebemos com grande tristeza a notícia do falecimento da dirigente comunista Gilse Cosenza. Nos últimos anos ela enfrentava, com a coragem que era sua marca, um longo tratamento de câncer.
Gilse demonstrou fibra, caráter e abnegação em favor da causa da democracia e da construção de uma sociedade mais justa. Na juventude não se dobrou aos horrores da tortura e da ditadura militar. Sua militância no movimento estudantil, na luta pela emancipação da mulher e pelos direitos humanos sempre foi destacada e é motivo de honra e orgulho para o nosso partido.
Gilse foi membro do Comitê Central, do Comitê Estadual do Ceará e do Comitê Estadual de Minas Gerais. Nestes espaços contribuiu com seu pensamento teórico e firmeza de valores e ideais.
Neste momento de despedida queremos nos inspirar em seu exemplo de combatividade, de ousadia, de disciplina e, sobretudo, de alegria e de esperança num futuro socialista.
Gilse Consenza, nossa doce revolucionária, presente!Luciana Santos
Presidente Nacional do Partido Comunista do Brasil