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Edição 145 > Trump vence alavancado pela reação à crise capitalista
Trump vence alavancado pela reação à crise capitalista
Nos artigos publicados na imprensa ligada ao grande capital sobre a eleição de Donald Trump existe uma tendência de atribuir importância excessiva ao papel do indivíduo na história. Isso depois de essa mídia ter assumido durante todo o processo eleitoral uma atitude claramente de campanha contra o candidato considerado não oriundo do establishment. Longe esteve este tipo de análise de praticar um jornalismo minimamente equilibrado. Como sabemos, o indivíduo é produto de circunstâncias históricas, sua ação não surge do nada. Veremos aqui opiniões de analistas sobre a eleição desse outsider que levam em consideração essa premissa do contexto histórico. São visões que consideram a eleição americana de 2016 anômala – criada em um contexto de uma grave crise econômica e financeira do capitalismo – que vem gerando fenômenos políticos importantes tanto em países desenvolvidos como nos periféricos. Veremos também uma avaliação de como as primeiras medidas anunciadas pelo presidente eleito indicam importantes alterações na política externa e interna. Internamente, os postos-chave do novo ministério deverão ser ocupados por representantes da direita estadunidense

“Trump representou uma derrota, pela direita, da agenda neoliberal”
O último grande tsunami econômico e financeiro mundial teve seu epicentro em Wall Street com o que ficou conhecido como crise do “subprime”. De 2007-2008 para nossos dias, quase uma década de profundas repercussões atingiu toda a face do Planeta, sendo que os bancos e as instituições financeiras que geraram a crise se recuperaram consideravelmente às custas dos assalariados estadunidenses e dos trabalhadores de países da União Europeia, e de praticamente todas as demais Nações do mundo.
A crise também veio revelando um mundo mais multipolar, que assiste um Estados Unidos cada vez mais imperial, que sustenta sua economia nos maiores déficits públicos e externos que o sistema capitalista já registrou. Suas forças armadas vêm praticando intervenções guerreiras praticamente livres de quaisquer convenções internacionais sustentadas também pela mais poderosa fonte de informações que mais produzem propaganda do que notícias. Mas essa crise fez emergir ao mesmo tempo forças internas que, mesmo sendo direitistas, revelaram quanto o povo é contrário a práticas ditas globalizantes, que prejudicam os trabalhadores do próprio centro imperialista.
Segundo Luís Fernandes, professor de Relações Internacionais pela PUC-Rio e membro da direção nacional do PCdoB, Donald Trump “vence com um discurso muito forte, um discurso também contraditório”. Ao analisar a forma e o conteúdo do debate travado por Trump contra a candidata democrata Hillary Clinton afirmou: “Por um lado, (o candidato republicano) tem um elemento associado a temas de direita e até de extrema-direita, um discurso politicamente incorreto, contra as minorias, contra homossexuais, contra a integração. Um preconceito contra a religião muçulmana, identificando seus praticantes como terroristas”. Fernandes também alerta que a proposta de criar uma muralha na fronteira do México com os EUA para impedir a entrada de mexicanos mostra uma visão preconceituosa em relação aos latinos, associando-os a preguiçosos bandidos e traficantes. “Mas que, por outro lado, ele tem um discurso crítico da situação”. Para Fernandes seu próprio lema da campanha: “Vamos fazer a América Grande de Novo” teve por parte dos eleitores a seguinte leitura: “essa política liberalizante enfraqueceu os EUA, o país perdeu dinamismo econômico e está perdendo postos de trabalho”.
Esse é um discurso, destacou Luís Fernandes, que anuncia medidas protecionistas do mercado e do emprego do trabalhador americano. Esse discurso cala fundo no trabalhador branco, pobre, dos cinturões industriais em decadência nos Estados Unidos e que se ressente do trabalho, como ele propagandeou na campanha, dos “empregos que perdemos para o México e para a China”, afirmando que “precisamos recuperá-los”. Deste ponto de vista, “ele (Trump) representou uma derrota, pela direita, da agenda neoliberal, o que não quer dizer que ele não tenha alternativas a isso, essa é outra discussão, que vamos ter de acompanhar os seus posicionamentos”.
Em 23 de novembro Trump anunciou pela televisão um pacote de medidas que serão implementadas a partir do dia 21 de janeiro. Nestas medidas dos primeiros cem dias – como estão sendo chamadas – não estão incluídas as propostas de construção do muro na fronteira entre o México e os EUA e nem tampouco o fim da reforma do sistema de saúde de Obama, o Obamacare. Talvez o aspecto do anúncio mais importante tenha sido o de que logo no primeiro dia de seu mandato Trump deverá retirar os Estados Unidos da Parceria Comercial TransPacífica (TPP, na sigla em inglês) e do Nafta, um acordo de livre comércio dos EUA com o México e o Canadá.
Estas parcerias econômicas são de grande interesse das principais empresas transnacionais estadunidenses e envolvem, além dos EUA, no caso específico da TPP, mais onze países. Seu objetivo geopolítico era o de tentar isolar a China que não faz parte do Acordo. Como o TPP não foi até agora ratificado pelo Congresso americano, Trump ainda pode retirar os EUA por um ato do Executivo, tornando-o obviamente inútil para os demais países.
Como consequência desses anúncios de Trump a respeito da saída da Parceria TransPacífica, o primeiro-pinistro da República Socialista do Vietnã já declarou diante da Assembleia Nacional de seu país que está em preparação uma notificação do governo vietnamita de que no momento exato que os EUA se retirem da TPP o Vietnã também retirará sua adesão. No caso do Nafta, um acordo já em vigor, ele vai exigir muita negociação para ser eventualmente desfeito, embora também só dependa de decisão do Congresso americano. Mas bastou o anúncio da posição de Trump de que retiraria seu país do Nafta, o México já sentiu o impacto da medida com uma violenta queda em suas Bolsas de Valores, com previsão de queda significativa de seu PIB nos próximos anos.
“A própria democracia, como modelo, vem perdendo credibilidade”
Na mesma linha de raciocínio de Fernandes, o escritor e jornalista espanhol Ignácio Ramonet afirma que “é preciso entender que desde a crise financeira de 2008 – da qual ainda não saímos – nada mais é igual em lugar nenhum. Os cidadãos estão profundamente desencantados. A própria democracia como modelo vem perdendo credibilidade. Os sistemas políticos têm sido sacudidos até as raízes. Na Europa, por exemplo, se multiplicam os terremotos eleitorais – o ‘Brexit’ foi só um deles. Os grandes partidos tradicionais estão em crise. Em todo o mundo, percebemos a ascensão de formações de extrema-direita (na França, na Áustria e nos países nórdicos) ou de partidos antissistema e anticorrupção (na Itália e na Espanha). A paisagem política parece ter se transformado radicalmente.”
E disse mais: “Eis que esse fenômeno também chegou aos Estados Unidos, um país que já conheceu, em 2010, uma onda populista devastadora, encarnada então pelo Tea Party. A surpreendente vitória do multimilionário Donald Trump prolonga essa tendência e constitui uma revolução eleitoral que nenhum analista previa. Embora se mantenha aparentemente a velha bicefalia entre democratas e republicanos, a vitória de um candidato tão heterodoxo como Trump constitui um verdadeiro sismo”.
“Trump não é um antissistema, e tampouco um revolucionário”
Ignácio Ramonet, que já foi o redator-chefe do jornal Le Monde Diplomatique, analisa a eleição insistindo que a mensagem de Trump não é semelhante à de um partido neofascista europeu. “Não é um ultradireitista convencional. Ele mesmo se define como um ‘conservador com senso comum’ e sua posição, no leque da política estadunidense, se situaria mais exatamente à direita da direita. Empresário multimilionário e superestrela da tele realidade, Trump não é um antissistema, e tampouco um revolucionário, obviamente. Não representa uma censura ao modelo político em si, mas sim aos políticos que o pilotam. Seu discurso é emocional e espontâneo”.
No plano econômico, Ramonet conclui em sua análise da campanha eleitoral que Trump critica a globalização econômica, convencido de que esta acabou com a classe média. Segundo ele, a economia globalizada está falhando cada vez mais em oferecer soluções às pessoas, e lembra que, nos últimos quinze anos, mais de 60 mil fábricas tiveram que fechar as portas nos Estados Unidos, e quase cinco milhões de empregos industriais bem pagos desapareceram. Lembra que Trump é um fervoroso defensor do protecionismo. Propõe aumentar as taxas, sobretudo aos produtos importados.
“Muita gente na política e na mídia luta para tentar naturalizar o que aconteceu”
Interessante notar que o prêmio Nobel da Economia em 2008, Paul Krugman, editorialista constante do jornal The New York Times, alguns dias antes das eleições presidenciais nos Estados Unidos, publicou um artigo em que argumentava por que a candidata do Partido Democrata Hillary Clinton venceria o pleito, “provavelmente por uma ampla margem de votos”, depois “de ter nocauteado o rival (Trump) em três debates sucessivos”. Agora, passado o terremoto eleitoral, lamenta ele que “muita gente na política e na mídia luta para tentar naturalizar o que aconteceu”, dizendo que “tudo isso está certo (a vitória dos republicanos) e que poderemos trabalhar com Trump”. E ele mesmo contesta: “Não, não e não, não podemos! O próximo ocupante da Casa Branca será um mentiroso patológico (...); Ele já está se envolvendo com racistas, antissemitas e os teóricos da conspiração; sua administração será a mais corrupta da história da América”.
Bernie Sanders apela para uma “oposição vigorosa à intolerância” de Trump
No caso do senador Bernie Sanders – candidato derrotado por Hillary já nas primárias do Partido Democrata –, ele se pronunciou apoiando os protestos que se multiplicaram em vários Estados americanos contra a eleição de Trump. O senador quer mudanças no Partido Democrata, ao qual acusa de ter “ignorado a classe trabalhadora”. Afirma ele que “A nossa função é nos opormos vigorosamente através de milhões e milhões de pessoas e de muitas maneiras diferentes”. “Preocupa-me muito que o presidente Trump nos faça andar para trás e nós, progressistas, não vamos permitir que isso aconteça.
Chegamos muito longe para agora voltarmos ao racismo e ao sexismo”, sublinhou o ex-candidato à nomeação democrata. “Ao longo dos anos, o Partido Democrata tornou-se um partido mais preocupado em angariar dinheiro de personalidades abastadas do que em trazer trabalhadores para o partido e enfrentar a classe milionária, Wall Street, os laboratórios farmacêuticos ou as companhias de seguros. Não tem sido forte na defesa das necessidades das famílias dos trabalhadores”, afirmou Sanders.
“Os democratas se concentraram numa elite que arrecadou incríveis quantias de dinheiro, mas que ignorou a classe trabalhadora, a classe média e os cidadãos de baixos rendimentos deste país”, reforçou Sanders. Neste contexto, “penso que as pessoas disseram: ‘Bem, os democratas não o fizeram, vou tentar este Trump’”, acrescentou o senador do Estado de Vermont. “Agora precisamos criar um movimento de base de milhões de pessoas que queiram transformar este país”, defendeu Sanders, afirmando ainda estar trabalhando “para encontrar e apoiar uma nova liderança para o Partido Democrata e um processo inteiramente novo pelo qual damos as boas-vindas aos trabalhadores e aos jovens a esse partido”.
No sentido das preocupações de Bernie Sanders, a prefeitura da cidade de Nova Iorque lançou uma campanha para resistir a possíveis políticas de
Trump contra minorias raciais, étnicas e religiosas, assim como para tranquilizar os que vivem atemorizados com o próximo governo eleito. O prefeito democrata, Bill de Blasio, declarou que as autoridades da cidade se recusarão a cooperar com Trump caso ele resolva aplicar medidas políticas discriminatórias contra os imigrantes.
No plano geopolítico Trump afirma que vai buscar o diálogo
Por sua vez, o escritor Moniz Bandeira – que se especializou no estudo e análise da história das relações entre os Estados Unidos e a América latina – está convencido de que Donald Trump deverá optar por buscar um terreno comum para o diálogo com as nações, e não o conflito. Bandeira lembra que um bom exemplo dessa linha de conduta é a aproximação de Trump com o presidente da Federação Russa, Vladimir Putin, a fim de chegar a um acordo, ao contrário do que aconteceu com o presidente Barack Obama.
Entretanto isso, outro tipo de sinalização geopolítica se verifica quando Trump liga para a Chefe de Estado de Taiwan – província chamada de rebelde por parte da República Popular da China – rompendo uma atitude do governo dos EUA, desde 1979, que levava em conta a política chinesa de “Uma só China”.
Já em relação ao Brasil, Bandeira considera que não haverá muito interesse de Trump de incrementar os contatos com o Brasil, nem com a Argentina no Cone Sul. Diz ele que “Donald Trump talvez seja menos intervencionista e mais isolacionista e protecionista”. O grande pensador brasileiro que hoje vive na Alemanha faz a seguinte análise da situação econômica dos EUA: “A infraestrutura americana está se deteriorando. A dívida pública é de 19,7 trilhões de dólares em 2016, e a previsão é de saltar para US$ 23,3 trilhões, enquanto o PIB [Produto Interno Bruto], estimado em US$ 16,9 trilhões em 2016, não vai conseguir chegar a US$ 18,5 trilhões em 2020. Entre 2001 e 2016 Washington gastou US$ 4,7 trilhões ou mais nas guerras no Afeganistão e no Iraque, de acordo com um estudo da Universidade de Brown”.
“É absurdo ver vitória de Trump como retrocesso”, diz Mangabeira Unger
Adotando uma outra ótica, no entanto, o professor da Universidade de Harvard e ex-ministro de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger, prega que “a eleição de Trump é a expressão da rebeldia da maioria trabalhadora branca do país contra seu abandono. Aí a crítica é: Trump não é uma resposta adequada. Mas em política tudo tem a ver com as alternativas. Então, o que é melhor- Continuar com essa ortodoxia conservadora do Partido Democrata ou virar a mesa- Essas são as alternativas reais da política real, argumenta Mangabeira.
“A partir dessa reviravolta em Washington”, afirma Mangabeira, “os americanos devem buscar uma resposta mais adequada e séria para o problema que a eleição de Trump revela: o resultado da eleição foi fruto do grande vazio criado na política americana, há meio século, pelo abandono dos interesses da maioria trabalhadora branca do país. O Partido Democrata substituiu o projeto do New Deal (série de programas implementados entre 1933 e 1937 pelo democrata Franklin Roosevelt para reformar a economia americana) por concessões aos interesses das minorias e pela representação da visão de mundo da classe que mora nos subúrbios ricos. Diante disso, o Partido Republicano construiu uma fórmula exitosa”. E conclui seu pensamento dizendo que “portanto, criou-se um grande vazio na política americana, que pedia um outsider”.
Nesta abordagem das consequências da eleição de Donald Trump, tentamos identificar – com a contribuição de vários pensadores da cena mundial – os grandes movimentos que estão nas raízes desse fenômeno político ocorrido no Estado, que é o principal ator das relações internacionais na atualidade. Em 2017 haveremos de verificar como o establishment nos EUA se relacionará com o novo governo, criando as novas políticas que determinarão a face dos Estados Unidos numa era de grandes incertezas e instabilidades, não somente para o império americano, mas para os povos de todo o mundo.
* Pedro de Oliveira é jornalista e membro da direção da Fundação Maurício Grabois
As particularidades do sistema eleitoral nos EUAAs eleições nos EUA tradicionalmente ocorrem nas primeiras terças-feiras de novembro, a cada quatro anos, desde 1797. Naquela primeira eleição saiu vencedor George Washington, um homem sem partido. Hoje, elas podem ser iniciadas de forma antecipada na medida em que o dia da eleição não é um feriado nacional para o exercício do voto. É um dia normal de trabalho. As eleições não são obrigatórias e a campanha eleitoral se preocupa além de fazer a divulgação de seus candidatos, tentar convencer os eleitores a procurarem os locais de votação. No país que atualmente é líder em inovações tecnológicas as eleições são feitas através de voto manual em papel ou cartões perfurados.
Existe uma percepção generalizada de que o processo de eleição presidencial nos Estados Unidos é direto. Mas não é. Desde sua concepção pelos chamados “Pais Fundadores” da Constituição americana, historiadores relatam que, ao ser concebido o sistema eleitoral dos EUA, prevaleceu uma preocupação para que não pudesse ocorrer uma “ditadura das massas” – que poderia se basear em votações expressivas nos principais centros urbanos daquele país, desconsiderando as regiões mais profundas e rarefeitas do país.
Segundo o argumento daqueles líderes que escreveram a Constituição, para combater esta possibilidade e permitir que houvesse uma representação mais equilibrada entre grandes centros urbanos e pequenas cidades do interior foi criado um Colégio Eleitoral em nível nacional. O Brasil – que utilizou a experiência americana ao construir seu próprio sistema de governo – também consagrou em sua Constituição esta instância de eleição presidencial. Tanto é que o primeiro presidente do período de transição da ditadura militar para a democracia, Tancredo Neves, foi eleito em Colégio Eleitoral, contra a candidatura de Paulo Maluf, em 1985. E o atual presidente ilegítimo Michel Temer, se for acusado formalmente pela Operação Lava Jato de ter cometido crime, poderá eventualmente ser substituído por um presidente (ou presidenta) eleito(a) pelo Colégio eleitoral a partir da metade da gestão presidencial, ou seja, a partir de 2017 (Dilma foi eleita em 2014).
Numa época histórica em que a maioria dos países europeus era monarquia hereditária, a ideia de um presidente com mandato limitado era revolucionária. No entanto, o fato de a eleição não ser direta revela medo do establishment de se ver batido pela pressão popular. A eleição presidencial nos Estados Unidos é federalizada pela Constituição. Cada um dos 50 estados americanos e o Distrito de Colúmbia têm a responsabilidade de organizar, em sua área de jurisdição, a eleição dos presidentes do país e também de seus respectivos governadores, deputados para a Câmara dos Representantes (435 membros) e senadores (100). Quando George Washington foi eleito presidente em 1789, apenas 6% da população americana tinham condições de votar. Na grande maioria dos 13 estados dos EUA, somente os proprietários de terras – maiores de 21 anos –tinham direito a voto. Hoje a Constituição permite que todos os cidadãos acima de 18 anos possam votar.
Embora os nomes dos candidatos apareçam nas cédulas, tecnicamente as pessoas não votam diretamente. Os eleitores selecionam um grupo de “eleitores presidenciais” (é o que ensinam os informativos das embaixadas americanas espalhadas pelo mundo) igual ao número de deputados e senadores a que os estados têm direito no Congresso. O candidato com o maior número de votos em cada estado conquista todos os “votos eleitorais” daquele estado. Os eleitores de todos os 50 estados e do Distrito de Colúmbia – um total de 538 pessoas – formam o que é conhecido como Colégio Eleitoral referido acima.
Os eleitores de cada estado se reúnem na capital de seu estado logo após a eleição e votam no candidato com o maior número de votos populares em seu estado. Para ser eleito presidente, ou presidenta, o candidato deverá obter pelo menos 270 votos de um total possível de 538. Algumas anomalias são produzidas neste esquema, como por exemplo na eleição do George Bush filho, que obteve menos votos populares que o candidato democrata Al Gore e levou a presidência porque teve a maioria dos votos no Colégio Eleitoral, ou seja 271 versus 266 e uma abstenção.Da mesma forma, agora, o republicano Donald Trump foi eleito presidente por ter tido 306 votos no Colégio Eleitoral contra 232 da democrata Hillary Clinton que, por sua vez, obteve 0,2% a mais de votos populares em relação a Trump.
Esse fato fez com que o cineasta e documentarista Michael Moore lançasse uma campanha para desqualificar a vitória de Trump e para mostrar como o sistema eleitoral americano está arcaico. Moore, aliás, foi um dos que alertavam desde o início do ano sobre a possibilidade da vitória conservadora liderada pelo bilionário de Nova Iorque.
O bipartidarismo se impôs
Os dois maiores partidos do sistema partidário americano se constituíram a partir da rivalidade que se estabeleceu durante a Convenção da Filadélfia no final do século XVIII entre os apoiadores de Thomas Jefferson e Alexander Hamilton. Nesta ocasião, os correligionários de Jefferson defendiam as teses republicanas de mais direitos para os estados, contra as teses federalistas de Hamilton pelo fortalecimento dos direitos da União. Com a desagregação do Partido Federalista e de um período de confusão política, o dualismo reapareceu nas eleições presidenciais de 1828, com a oposição entre os “democratas” agrupados em torno de Andrew Jackson e os “nacional-republicanos” capitaneados por Clay e Adams que também eram chamados de “whigs”.
Muitas vezes, como reporta Maurice Duverger em seu clássico Os Partidos Políticos (publicado em 1951), no curso da história dos Estados Unidos, houve tentativas de constituição de uma terceira via partidária, mas todas elas acabaram fracassando. Na verdade, vários partidos políticos foram fundados no país, mas não conseguiram quebrar o bipartidarismo que impera até hoje. O início do século XX assistiu o nascimento do Socialist Party, em 1900, do Progressive Party em 1915, do Communist Party of USA em 1919, do Prohibicionist Party, do American-Labor Party, do Farmer-Labor Party, do New-Deal Independent Party, da Liga dos filiados a Nenhum Partido, sendo que todos estes partidos tiveram pelo menos um membro deputado na Câmara dos Representantes, à exceção do Partido Comunista. Destes todos o que teve maior representação na Câmara foi o Progressive Party – com 17 membros na Câmara de Representantes e senadores em várias legislaturas.
Apesar de Trump ter sido eleito à margem da direção do Partido Republicano, que ele formalmente representa, esta será a primeira vez, desde 1928, que o Partido Republicano controlará ao mesmo tempo a Presidência dos EUA, a direção da Câmara dos Representantes e o Senado Federal, e poderá também obter maioria na Suprema Corte, já que o nome indicado por Obama não passou pelo Congresso, abrindo caminho para uma nova indicação por parte de Trump.