Editorial
Edição 145 > Onda conservadora emerge da crise capitalista
Onda conservadora emerge da crise capitalista

Um elenco de fatos e fenômenos não homogê- neos, mas convergentes, indica que uma onda conservadora, reacionária aflora do âmbito da grande crise do capitalismo. Crise que começou em 2007- 2008 e prossegue sem data para terminar.
A eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, a sucessão presidencial francesa desde já polarizada entre a “direita da direita” neoliberal versus a direita fascista, a reentronização dos conservadores com uma agenda ultraliberal na Argentina e no Brasil fazem parte da cor cinzenta que vai tingindo o mapa do mundo. A saída do Reino Unido da União Europeia é crivada de polêmica, mas dialoga com aspectos fundamentais dessa tendência conservadora.
O capital financeiro, os rentistas – simbolicamente “Wall Street” – foram o detonador da crise. Mas, como já foi escrito neste espaço, os rentistas de posse da maioria dos Estados nacionais do centro capitalista administraram a crise, utilizando a riqueza das nações, via Bancos centrais, para se safarem das falências. Pouco tempo depois, já haviam retomado ganhos astronômicos.
De posse dos parlamentos, de posse da grande mídia, usando governos fantoches a ferro e fogo, os oligarcas do capital financeiro arrancam direitos do povo, ao som de cânticos em louvor à austeridade fiscal, fecham hospitais, escolas, reduzem salários, fecham postos de trabalho, cortam aposentadorias, enfim, alargam ao extremo as desigualdades sociais. Em outras palavras: canalizam o Orçamento dos países para abastecer a lógica da globalização financeira mundial.
Por sua vez, o imperialismo, sobretudo o estadunidense, lança o ônus da crise sobre os ombros dos povos, promove guerras, pressiona, conspira, cerca, bloqueia o polo de países que representam uma ameaça ao domínio que exerce no mundo.
Nos Estados Unidos, trabalhadores, camadas mé- dias com perdas crescentes de salários e padrões de consumo, refugaram o cardápio amargo do establishment, do Partido Democrata e Republicano, e foram “capturados” pela pregação redentora da Grande América, de Donald Trump. Encurralado, seduzido, o eleitorado sufragou uma saída mais à direita, de inspiração fascista.
Na Europa, à exceção momentânea de Portugal, cresce a direita neoliberal nos escombros de uma dita socialdemocracia que sucumbiu por completo aos ditames da globalização financeira, às políticas de austeridade.
Na América do Sul, o ciclo de governos patrióticos, populares e democráticos, inaugurado em 1998, sofreu duro revés com o retrocesso havido na Argentina e no Brasil.
Períodos históricos semelhantes ao que vivemos demandam, além da tenacidade da resistência, da jornada de lutas dos trabalhadores e dos povos, orientações táticas capazes de agregar e pôr em movimento amplas forças políticas e sociais em torno de alternativas democráticas, patrióticas e populares.
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Princípios homenageia o legado de Fidel Castro Ruz. O legado de Fidel é o legado da revolução que chefiou. Uma ilha, outrora subjugada, saqueada, humilhada, se tornou, aos olhos dos oprimidos do mundo, símbolo da coragem e da capacidade de um povo de construir, sob a bandeira do socialismo, uma pátria soberana, direcionada ao progresso social e à solidariedade. Mesmo sob o bloqueio do imperialismo, o povo cubano nunca se rendeu, nunca abdicou de persistir no projeto de construir um país próspero, de homens e mulheres livres. Que Cuba, esse indomável animal marinho, prossiga nesta gloriosa rota.
Adalberto Monteiro
Editor