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História

Edição 137 > Pequena história de um século da Grande Revolução de Outubro

Pequena história de um século da Grande Revolução de Outubro

Bernardo Joffily*
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Princípios publica nesta edição o quarto artigo da série de textos do jornalista Bernardo Joffily sobre a Revolução Russa, que completará 100 anos em 2017. A série procura contribuir com o debate sobre o significado e as lições deste que foi um dos principais acontecimentos da história contemporânea. No artigo desta edição, Joffily aborda a longa Guerra Civil Russa, fala sobre a fundação da Internacional Comunista e finaliza com um breve relato da morte de Lênin e o conflito Stálin-Trotsky

A sobrevivência da URSS: Guerra Civil, NEP, -socialismo em um só país-, polêmica com Trotsky

A Revolução de Outubro, a maior que a história conheceu, teve desfecho fulminante e apenas um milhar de militares mortos e outro tanto de civis. Logo em seguida, porém, começou a reação, sob a forma de guerra civil, que durou longos anos e ceifou 1,5 milhão de vidas

Vermelhos contra Brancos

Apesar do nome consagrado pela história, Guerra Civil, a tentativa de sufocar a revolução no berço incluiu pesada intervenção estrangeira. Tropas de 14 países invadiram o território russo, com destaque para as das metrópoles imperialistas da Entente - Inglaterra, França, Japão e Estados Unidos -, inconformadas com o cumprimento da promessa bolchevique de tirar a Rússia da Primeira Guerra Mundial.

Incitados, armados e financiados por essas potências, os contrarrevolucionários russos levantaram a cabeça. No verão (setentrional) de 1918, o poder soviético controlava só uma fração do país. E travava um combate de vida ou morte em três frentes: a Leste (Sibéria e Montes Urais), a Sul (que incluía a região do Don e tinha seu QG na Península da Crimeia) e a Noroeste (onde os exércitos anglofranceses ocuparam as cidades de Arcangel e Murmansk). A imprensa estrangeira dava como certo que o poder dos Sovietes sucumbiria em semanas, no máximo dois ou três meses.

Em linhas gerais, foi uma guerra dos Brancos contrarrevolucionários contra os Vermelhos revolucionários. Porém, vista mais de perto, ela apresentava um cenário mais diverso e complicado, especialmente no lado Branco, com muitos personagens, perseguindo objetivos próprios e às vezes conflitantes.

Os principais chefes Brancos provinham da aristocracia czarista e mal ocultavam a intenção de restaurar o antigo regime autocrata-latifundiário. Era o caso do almirante Aleksandr Kolchak, que se proclamou -regente supremo da Rússia-, e também o dos generais Anton Denikin e Pyotr Wrangel, o Barão Negro.

Mais ou menos sob esses chefes, combatia uma constelação de senhores de guerra. Em geral era forte a presença de cossacos e de kulaks (camponeses ricos). O Exército Verde, dos kulaks, se empenhou em execuções sumárias e pogroms que assassinaram mais de 70 mil judeus. As forças burguesas - kadetes - e pequeno-burguesas - mencheviques e social-revolucionários - alinharam-se aos Brancos contra o que consideravam o mal maior, o bolchevismo, e em represália foram proibidas pelo regime. Já general polonês Jozef Pilsudski [1867-1935] tentou anexar metade da Ucrânia e mais a Bielorrússia. Um corpo de exército formado por prisioneiros de guerra tchecoslovacos, autorizado pelo Estado soviético a regressar ao seu país, deixou-se envolver na luta contra os Vermelhos. Havia ainda o líder anarquista Nestor Makhno, que formou o seu Exército Negro, em conflito intermitente com Vermelhos e Brancos. E em março de 1921 rebelaram-se por duas semanas os marinheiros de Kronstadt - a fortaleza heroina de 1917 -, clamando por uma -terceira revolução- contra a -comissariocracia- comunista, mas com apoio de kadetes, social-revolucionários, anarquistas, Brancos, e da França.

"A pátria socialista em perigo!"

O Estado soviético (após 1922, União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, URSS) percebeu que aquela era uma luta de vida ou morte. Sob as insígnas -A pátria socialista em perigo!- e -Tudo para o front!-, o Exército Vermelho, com 300 mil homens no início, em meses alcançou 1 milhão e ao final 5 milhões. Os melhores combatentes foram enviados à frente de combate (inclusive muitos marinheiros de Kronstadt, o que explica em parte a rebelião de 1921); entre eles, metade dos militantes do Partido e da Juventude Comunista.

O Partido incumbiu Leon Trotsky de chefiar o esforço bélico, na função de comissário do povo para Assuntos Militares. A polícia política, Tcheka, que teve papel de destaque, foi confiada ao veterano bolchevique Félix Dzerjinski [1877-1926]. O georgiano Josef Stálin [1879-1953], outro bolchevique desde 1903, deixou o Comissariado do Povo das Nacionalidades para assumir o Exército Vermelho na Frente Sul.

Socialmente, a Guerra Civil foi um combate entre os operários e camponeses pobres, Vermelhos, e as potências interventoras, latifundiários, burgueses e kulaks, Brancos. Os camponeses médios, segmento mais numeroso do campesinato, eram o fiel da balança, disputado pelos dois campos. Lênin recomendava que era preciso -saber chegar a um acordo com os camponeses médios, sem cessar nem um minuto a luta contra os kulaks e tomando como sólido apoio só os camponeses pobres- (LÊNIN, t. XXIII, pág. 294, ed. russa).

Por certo tempo os camponeses médios vacilaram, o que explicou êxitos iniciais Brancos, como no Don. Depois, convenceram-se de que um triunfo Branco traria de volta o latifúndio, aderiram em massa aos Vermelhos e com isto decidiram o conflito.

Os generais Brancos tombaram um a um. Denikin sucumbiu no Cáucaso em outubro de 1919. Dois meses depois o exército de Kolchak debandou de Omsk, os Vermelhos entraram na -capital Branca- e fuzilaram Kolchak. Em novembro de 1921 o Barão Negro, encurralado na Crimeia, fugiu. Mas só em março de 1922, após cinco anos de guerra, o Exército Vermelho arrebatou ao Japão o porto siberiano de Vladivostok, último bolsão de ocupantes estrangeiros.

A Internacional Comunista

Um dos mais fortes motivos da ajuda imperialista aos Brancos foi evitar que o exemplo russo se propagasse. Não só na Rússia os trabalhadores e soldados estavam fartos da Primeira Guerra. De 1917 a 1923, um ascenso revolucionário sacudiu a Europa.

Em 1918 estourou a Revolução Alemã, a partir dos marinheiros e com formação de sovietes. Ela derrubou o governo, o kaizer Guilherme II e a monarquia. Não era uma revolução de tipo bolchevique. Longe disso, contentou-se em empossar um governo social-democrata e introduzir clausulas socias na Constituição de Weimar. Mas mesmo assim era uma revolução. Forçou o brusco fim da guerra. E logo levou ao Levantes Espartaquista (a Liga Espartaquista, tendo à frente Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht, acabara de fundar o PC da Alemanha), à Semana Vermelha em Berlim e à formação de um governo soviético na Baviera. Rosa e Liebknecht foram assassinados, o levante, sufocado lançaram a sua semente.

O Império Austro-Húngaro também desmoronou. A Hungria proclamou sua república dos sovietes, que resistiu de março a julho de 1919. Também na Áustria desenvolvia-se o movimento revolucionário. Em março, os marinheiros da frota de guerra francesa enviada contra a Rússia seeebelaram sob a direção do mecânico André Marty. Novos Partidos Comunistas iam surgindo por toda a Europa.

Neste ambiente, reuniu-se em Moscou, em março de 1919, o congresso de fundação da Internacional Comunista, ou Terceira Internacional. Lênin, dirigiu o evento. Os 52 delegados, vindos de 34 países, aprovaram um Manifesto ao proletariado internacional e estabeleceram como pedra angular dos PCs o princípio do centralismo democrático, -liberdade de discussão, unidade na ação-.

O Comunismo de Guerra

A política econômica do poder soviético durante a Guerra Civil, conhecida como Comunismo de Guerra, foi ditada pelas condições extraordinariamente difíceis de então. Ela colocou sob controle estatal não só as grandes indústrias mas também as pequenas e médias. Impôs o trabalho obrigatório, a burgueses que jamais haviam trabalhado. E, em especial, proibiu o comércio privado de cereais e requisitou todo excedente de grãos para abastecer o exército e as cidades.

A requisição era um fardo pesado para o mujique, impedindo-o de comerciar livremente o seu trigo, aveia e a cevada. Foi um dos fatores que inclinou inicialmente contra os Vermelhos parte dos camponeses médios. Com o transcorrer da guerra e a ameaça de contrarreforma agrária nas regiões em poder dos Brancos, o campesinato por fim se engajou na defesa dos Sovietes, mas nem por isso deixou de protestar de forma simples e eloquente: reduzindo o plantio. Isso, e pelas conduções gerais de ruína econômica, reduziu à metade a produção agrícola russa de 1920, face à de 1913, último ano antes da Guerra Mundial.

A cena na indústria era ainda pior. A produção da grande indústria, caiu sete vezes em 1913-1920. As fábricas estavam na maioria paradas, as minas, destruídas e inundadas. A fundição de ferro russa em 1921 foi 3% daquela de antes da guerra. E isto quando o termo de comparação era a velha Rússia czarista do pré-guerra.

A penúria econômica tinha impacto direto na vida do povo. Sob o Comunismo de Guerra, os operários de Moscou e Petrogrado recebiam uma ração de pão de um oitavo de libra a cada dois dias. Escasseavam artigos tão elementares como trigo, carne, roupas e calçados, fósforos, sal, petróleo, sabão.

Só o -espírito revolucionário russo-, a elevada consciência revolucionária dos operários e camponeses, a direção do Partido Bolchevique e de Lênin explicam que o povo tenha tolerado tamanhas privações, e lutado, com heroísmo, até a vitória. Mas os povos só fazem revoluções para viver melhor; aceitam sacrifícios, às vezes colossais, em nome da revolução, porém com a condição de, ao final das contas, melhorarem de vida.

Com sua severidade extrema, o Comunismo de Guerra só tinha razão de existir nas circunstâncias excepcionais da Guerra Civil. Finda a guerra, era indispensável aposentá-lo. Outra política econômica se impunha para a edificação pacífica da indústria, da agricultura e do bem-estar das massas trabalhadoras.

A Nova Política Econômica

Em março de 1921, o 10º Congresso do Partido aprovou, por proposta de Lênin, a Nova Política Econômica, mais conhecida pela sigla NEP. Esta representou a passagem da fase de conflito armado para a de construção pacífica da nova sociedade. Representou também determinadas concessões à economia de mercado e ao capitalismo: um recuo passageiro para permitir o avanço.

Discursando para o Soviete de Moscou, Lênin explicou esse recuo:

-Nova Política Econômica! Estranha denominação: foi chamada nova política econômica porque marcha para trás. Hoje recuamos, parece que retrocedemos; mas fazemo-lo para, depois tomar impulso e saltar adiante com mais força. [...] Não sabemos ainda onde e como devemos reagrupar-nos, adaptarmo-nos, reorganizarmo-nos, para em seguida passarmos à mais tenaz ofensiva. [...] Já demonstramos que não se trata de uma utopia, mas de uma obra à qual os homens consagram suas vidas. Todos os vimos, já está feito. É preciso transformar, mas de modo que a maioria das massas trabalhadoras, os camponeses e operários, olhem e digam: -Não falem, falamos nós; vocês conseguiram resultados melhores; depois deles, nenhuma pessoa sensata pensará jamais em voltar ao passado-.- (Discurso perante o Pleno do Soviete de Moscou, 20 de novembro de 1922, https://www.marxists.org/espanol/lenin/obras/oe12/lenin-obrasescogidas12-12.pdf, pg. 145).

A NEP trocou com a requisição dos excedentes de cereaispor um imposto em espécie, muito mais modesto, deixando os camponeses comerciarem livremente o restante. Permitiu também o comércio privado, a abertura de pequenas fábricas e outras empresas privadas. Apostou pesado no capitalismo de Estado. E criou também concessões para atrair grandes investidores estrangeiros, como o financista inglês Leslie Urquhart; ex-financiador dos Brancos; ou o industrial estadunidense Armand Hammer, que terminou amigo de Lênin e morando anos em Moscou; ou o também norte-americano Gerald Ford, que construiu uma grande montadora automobilística em Gorki.

Os resultados não se fizeram esperar. Em 1926 a indústria pesada superou a marca do pré-guerra. Em 1927 foi a vez da produção carbonífera e em 1928 da safra de cereais e da produção industrial e agrícola como um todo. No plano políotico-social, a Nova Política dotou de novas bases materiais, e nova solidez, a aliança operário-camponesa na URSS (sigla da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, constituída em 1922).

A NEP vigorou até 1928, quando cedeu lugar à política econômica dos Planos Quinquenais e da Coletivização agrícola. Hoje, nesta Pequena história que revisita a experiência soviética do ponto de vista do século 21, cabe a pergunta: não terá havido aí alguma precipitação- No mínimo, é forçoso constatar que a experiência soviética terminaria por sucumbir. Que todas as experiências socialistas que souberam resistir e chegaram aos nossos dias praticam políticas econômicas que se parecem em boa medida com bisnetas da NEP. E que as mais exitosas nos resultados econômicos concretos são justo as que enveredaram mais cedo e mais resolutamente por esse caminho: a China, que deflagrou -sua NEP- em 1978, e o Vietnã, onde ela data de 1986.

Morte de Lênin, conflito Stálin--Trotsky

O discurso citado acima, de novembro de 1922, foi o último pronunciado por Lênin. Logo em seguida o líder e teórico maior da Revolução Bolchevique sofreu um acidente vascular cerebral e não mais se recuperou.

Lênin sempre tivera uma saúde frágil. E se ressentia da tentativa de assassinato sofrida em 1918, quando, após visitar uma fábrica em Moscou, foi alvejado por três tiros de revólver pela social-revolucionária Fanny Kaplan. Uma das balas, alojada no pescoço, perto da coluna vertebral, só pôde ser extraída mais de três anos mais tarde. Meses depois, o AVC paralisou-lhe o lado direito. Com dificuldades para falar, ele ainda escreveu até o início de 1923, artigos dedicados ao controle operário-camponês sobre o Estado e também seu chamado Testamento, um conjunto de notas que cita prós e contras Stálin, Trotsky, Bukharin, Zinoviev, Kamenev e Georgi Piatakov [1890-1937], inclinando-se, inconclusivamente, por uma direção colegiada.

Em janeiro de 1924, novo AVC matou Lênin, aos 53 anos. A morte coincidiu com um auge do prestígio do líder do Partido Bolchevique [a partir de 1922 rebatizado Partido Comunista (bolchevique) da URSS], na Rússia e no mundo inteiro. E também com o acirramento de divergências na direção do Partido, polarizadas por Stálin e Trotsky.

Trotsky, embora fosse o segundo nome mais célebre da Rússia revolucionária, vinha colecionando controvérsias com a direção bolchevique, sobre o Acordo de Brest-Litovsk, o papel dos sindicatos na construção socialista, a NEP ou ainda a condução na Guerra Civil. Logo após a morte de Lênin, outra polêmica ganhou força, entre a concepção de Trotsky sobre a -revolução permanente- e a de Stálin, secretário-geral do Partido, sobre a -construção do socialismo em um só país-.

Datam dessa época dois dos textos mais conhecidos de Stálin, Sobre os fundamentos do leninismo (1924) e Questões do leninismo (1925). Nelas, o secretário-geral defendeu a possibilidade de edificar o socialismo mesmo caso a revolução tardasse em outros países, e também cunhou o termo marxismo-leninismo, para designar -o marxismo de nossa época, a época do imperialismo e das revoluções proletárias-. Trotsky retrucou com o livro 1905 (1925), que o triunfo da revolução socialista em um país atrasado, como a Rússia, só resistiria ao cerco internacional capitalista se fosse rapidamente secundado por revoluções em outros países.

A contenda teórica e política decidiu-se em favor de Stálin. No 13º Congresso (1923), Trotsky já ficou em dificuldades, confinado à condição de líder de uma Oposição de Esquerda com diminuta influência dentro ou fora do Partido. A marginalização prosseguiu com seu afastamento do governo (1925) e do Birô Político bolchevique (1926), expulsão do Partido (1927), deportação para Alma Alta (1928), expulsão da URSS (1929) e por fim o assassinato no exílio mexicano (1940), pelo espanhol Ramón Mercader, ao que tudo indica a mando de Moscou.

Desde a enfermidade de Lênin, Stálin assumiu as rédeas do Partido (embora não as do Estado, até 1946) por três longas décadas. Esta longa permanência marcaria a fundo a trajetória soviética, pelo sim e pelo não.

* Bernardo Joffily é jornalista, tradutor, colaborador de Princípios e autor do Atlas Histórico IstoÉ Brasil 500 anos.

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