Economia
Edição 137 > EUA, império e espectros múltiplos da decadência
EUA, império e espectros múltiplos da decadência
Quaisquer análises da situação do sistema de relações internacionais que apenas ressaltem as ameaças de "guerra nuclear" global desse imperialismo, unilateralizando o quadro de forças - seja por "boas intenções" de concentração da tática de ataque no inimigo principal, seja por superdimensionar a questão do poderio militar americano "cometem o erro inaceitável do enterro da dialética"

Toda e qualquer análise da posição atual do imperialismo norte-americano no sistema de relações internacionais, longe do simplismo, tem o dever científico de não apenas enxergar seu poder militar ou sua eterna ameaça terrorista de deflagração de uma -guerra nuclear- mundial. Unilateral, embora taticamente centrada na denúncia da gendarmeria imperial, essa visão paralisa a dialética emanada do desenvolvimento das contradições. Levando em conta inclusive a atual superioridade militar dos EUA.
Por exemplo: em formulações centrais de Paul Kennedy e seu clássico Ascensão e queda das grandes potências (Campus, 1989), se lê que a história dos últimos 500 anos de rivalidade internacional mostra que apenas segurança militar não é suficiente -jamais-: no curto prazo pode até -conter ou derrotar rivais-, porém ao se estender demais -geográfica e estrategicamente- - e mesmo isso ocorrendo num nível -menos imperial- volta-se à -proteção- e menos ao -investimento produtivo- -, provavelmente verá a redução de seu poderio econômico, -tristes implicações para a sua capacidade de manter em longo prazo o consumo de seus cidadãos e sua posição internacional- (p. 511).
De outra parte, a constatação da decadência multiforme do imperialismo estadunidense é factual até para pensadores reacionários como o finado Samuel Huntington, que enxergava o declínio americano como parte integrante da passagem da geopolítica do poder global do Ocidente para o Oriente:
-Pela primeira vez na história, a política mundial é, ao mesmo tempo, multipolar e multicivilizacional. A modernização econômica e social não está produzindo nem uma civilização universal de qualquer modo significativa, nem a ocidentalização das sociedades não ocidentais- (Choque de civilizações e a reconstrução da ordem mundial, Objetiva, 1997 [1996], p. 19).
A eternização dos mitos
Do ponto de vista estrutural, o secretário assistente do Tesouro do governo Reagan, Paul Craig Roberts, tem insistido sistematicamente sobre o que chama de passagem ao -subdesenvolvimento- dos Estados Unidos da América. Analisa o economista - como inúmeros pesquisadores - que o transportar da manufatura da grande empresa americana especialmente à Ásia (-outsourcing-) acelerou fortemente o fenômeno da desindustrialização do país.
Ironizando as fantasias de neoliberais das universidades de Harvard e do MIT (Centro Industrial e Tecnológico de Massachussets), Roberts reforça suas opiniões relembrando que os centros industriais dos EUA se tornaram -cascas- daquilo que simbolizavam: Detroit perdeu 25% da sua população, assim como Gary Indiana 22%, Flint Michigan 18%, e St. Louis 20% dela!
Noutro longo e veemente enfoque (-O futuro dos Estados Unidos será a ruína-) [1], Roberts afirma que os EUA instalaram um nível de corrupção e manipulação na sua economia, assim como sua política externa, atualmente, que simplesmente seriam impossíveis em outros tempos, quando a ambição de Washington era conter a União Soviética. -A ganância pelo poder hegemônico fez de Washington o governo mais corrupto do planeta-, diz.
Ao ser explícito asseverando que nenhum outro país no mundo entrega a -um bando de vigaristas e crápulas de Wall Street- a direção de sua economia e sua política externa, bem como o domínio completo de seu Banco Central e de seu Tesouro - -a serviço de 1% da população- -, o economista vai bem além: todos deveriam agradecer ao presidente russo Vladimir Putin, pois ele tem o poder de destruir a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e todo o sistema financeiro ocidental inteiro quando quiser. Bastaria anunciar que, -como a OTAN declarou guerra econômica contra a Rússia, a Rússia não mais venderá energia para os membros da OTAN-.
Miséria à americana
Simultaneamente à desindustrialização escancarada, novos dados sobre a trágica decadência do império norte-americano revelam que no início deste ano já somavam 3,5 milhões de pessoas sem moradia, o que significa o triplo desse número desde 1983; estão sem teto 1,5 milhões de crianças dentre as 15 milhões que passam fome. Igualmente triplicaram nesse período para 18 milhões as casas-fantasmas (vazias e sem moradores!). A própria UNICEF (ONU) descreve atualmente os EUA como um país que menos protege suas crianças, em cuja lista aparece (inacreditavelmente) abaixo da Grécia e em apenas duas posições acima da Romênia. Eram 60 mil os sem-teto no último inverno, sendo a metade crianças [2].
Já o cientista político e matemático Charles Ferguson [3] afirma que entre 2001 e 2007, anos exatamente anteriores à detonação da crise financeira (das hipotecas subprime) de agosto de 2007, o 1% do topo da pirâmide das famílias americanas abocanhou metade do crescimento total da renda do país. Para o também autor do prestigiado documentário Inside job (Trabalho interno), no começo de 2014 a riqueza americana foi ainda mais concentrada: 0,1% mais rico dos americanos possui cerca de um terço de toda a riqueza líquida da população e mais de 40% de toda a riqueza financeira dos Estados Unidos. -Isso é mais que o dobro da parcela detida pela camada inferior de 80% da população- - assegura ele.
A China e a reversão do polo industrial mundial
Conforme alentado e recente estudo do economista russo Ivan Tselichtchev [4], Xangai já é o maior centro industrial do mundo - faz tempo! Uma enorme batalha pelo mercado chinês está apenas começando e o Ocidente (EUA, Reino Unido, França, Alemanha, Itália) precisa agir rápido para não ficar de fora dessa guerra. A crise atual (-2008-2009-, periodiza ele) demonstrou o -fracasso- do modelo capitalista anglo-saxão; e os efeitos colaterais dessa crise -ainda assustarão o mundo ocidental por muito tempo-.
Assim, a China não é somente uma -fábrica mundial-, mas se transformou num gigantesco laboratório de pesquisas, inclusive em energia -verde-, setor em que já lidera. Em relação às perspectivas da competição no desenvolvimento com o assim denominado Ocidente: a) a China mantém sua moeda desvalorizada; b) as empresas chinesas contam com forte apoio do Estado e investimentos de fundos do governo nessas companhias; c) já é bastante extensa a lista de aquisições chinesas de empresas ocidentais, enquanto o controle acionário de importantes empresas chinesas por companhias ocidentais vem se revelando -efetivamente impossível-; d) o acesso de empresas e investidores ocidentais a segmentos do mercado chinês ou a negócios no país associam-se à transferência de tecnologia; e) políticas e o direito chineses continuam a facilitar o acesso ao -roubo- de tecnologias ocidentais.
De acordo com importantíssimos escritos oficiais da alta liderança do PCCh (-Estratégia militar da China-, China Daily, Pequim, maio de 2015), -No mundo de hoje, as tendências globais rumo à multipolaridade e à globalização econômica intensificam-se, e uma sociedade da informação vai rapidamente ganhando vida-.
Prossegue o documento publicado oficialmente pelo Estado chinês: -Mudanças profundas estão tendo lugar na situação internacional, como manifestas nas mudanças históricas no equilíbrio de poder, na governança global, na paisagem geoestratégica Ásia--Pacífico, e na concorrência internacional nos campos econômico, científico e tecnológico, e militar-.
E mais adiante: -Em futuro previsível, é improvável uma guerra mundial, e a situação internacional deve permanecer de modo geral, pacífica. Contudo, há novas ameaças surgidas do hegemonismo, da política de poder e do neointervencionismo-.
O límpido texto da alta liderança chinesa, além de outras questões instigantes, aborda ainda os problemas da -infiltração-, do -terrorismo- na China, vinculados também (e especialmente) aos permanentes movimentos separatistas pela -independência do Turquistão do Leste- e -independência do Tibete-.
Coroando as conclusões da modernização da estratégia militar chinesa, o documento fala também que -a forma da guerra- está acelerando a evolução dela para a informatização; onde -grandes potências mundiais- estão ativamente ajustando suas estratégias e políticas nacionais de segurança e defesa, e acelerando a transformação e a reestruturação de suas forças militares. Fazendo ainda um longo arrazoado sobre a importância da modernização atualizada dos armamentos, mísseis, aparato de dissuasão nuclear, bem como da retificação do trabalho de formação teórica e prática dos diversos escalões militares das três forças.
Kissinger: reconhecimento da China - e fantasias
Noticiou-se há mais de ano que, ao lado de Ascensão e queda das grandes potências (P. Kennedy), de O antigo regime e a revolução (A. Tocqueville) etc., o líder chinês Xi Jinping recomendou aos dirigentes comunistas e do país a leitura de Sobre a China, do cientista político criminoso de guerra H. Kissinger (Valor Econômico, 22-10-2014).
Nele, da longa construção histórica da aliança sino-americana sobressai - destacaria enfaticamente o Capítulo 8, -Rumo à -reconciliação- - a explícita e ativa condução de Mao Tse-tung e quatro marechais, então -afastados-, às decisões para a grande retificação estratégica da posição chinesa no sistema de relações internacionais. A saber: um novo bloco contra a URSS, fundeado em defesa e desenvolvimento, sintetizo aqui. Frise-se, igualmente: desde aí as relações sino-americanas sempre foram de cooperação e conflito. Na mesma medida em que isso selou a desestruturação do movimento comunista internacional, após -a grande cisão-.
Agora, em Ordem mundial (Objetiva, 2015) [5], a velha ratazana de origem germânica reaparece com as seguintes ideias centrais: a) a emergência da China representa desafio estrutural comparável no século XXI (a dissolução da URSS e o quadro daí resultante na ordem global no final do século XX; ou a ascensão/-oclusão- alemã, negadora da ordem hegemônica do século XX, quando desencadeia duas guerras mundiais); b) o aumento dos desequilíbrios atuais se devem à desestruturação da natureza do Estado em nível internacional (grande variedade de pressões desagregadoras); a globalização é paradoxal: econômica (fluxo de bens e de capital) sofre travamento pela globalização de interesse políticos nacionais dos Estados-nações que persistem; as crises de 1980 (América Latina), 1997 (Ásia), 2001 e 2007(EUA) e 2010 (União Europeia) devem-se a -especulações pródigas- e à invenção de instrumentos financeiros obscuros; c) os mecanismos de consultas internacionais são marcados por rotinas e ineficácias várias, notadamente pela ausência de mecanismos -efetivos- de decisão das grandes potências, apesar dos inúmeros organismos (-na melhor das hipóteses, discussões táticas pendentes-); d) a liderança dos EUA, -ambivalente-, -tem buscado um equilíbrio entre estabilidade e a defesa de princípios universais que nem sempre podem ser conciliado com os princípios soberanos de não interferência ou com a experiência histórica de outras nações-.
Ao se perguntar -para onde vamos--, o influente estrategista (teórico e prático) imperialista reconhece, melancolicamente, que -Uma reconstrução do sistema internacional é o supremo desafio que se coloca diante dos estadistas de nossa época- (p.373). Tendo escrito antes que -os presidentes dos mais importantes competidores no século XXI - os Estados Unidos e a China - se comprometeram a não repetir a tragédia europeia, recorrendo a um -novo tipo de relação entre as grandes potencias-- (p.368).
Mas para Kissinger, claro, sempre principalize-se a mesma degeneração reacionária -genética- do fundamentalismo puritano judaico-cristão, a predestinação divina: -Mesmo ao examinar as lições suscitadas pelas décadas mais difíceis, a afirmação da natureza excepcional dos Estados Unidos precisa ser sustentada- (p.375). Aqui, Kissinger é duplamente esclarecedor: só se busca sustentar aquilo que está ameaçado de ruir - ou cercado ou atacado fortemente.
G-7: um regabofe de endividados
Sob o título -China Zomba do G7: -Convescote de endividados-. E alerta que -Confronto será desastre para a Europa--, o pesquisador em economia financeira Tyler Durden transcreve reportagem do Global Times, jornal subordinado ao Diário do povo, órgão central do PCCh. [6]
Reproduzo partes da análise do GT pela importância. Escreve-se no jornal:
A) Na reunião de cúpula do G7, especialistas e a mídia chinesa não mostraram qualquer interesse por aquela instituição ultrapassada, exceto à Declaração sobre Segurança, cujos termos manifestaram as preocupações dos signatários quanto a -ações unilaterais- no Mar do Sul da China - a China foi o alvo óbvio; b) a agenda e os resultados da reunião do G7 caminharam na direção oposta à tendência global a favor da paz, do desenvolvimento, da cooperação e converteram-se em mera ferramenta geopolítica; c) originalmente o G7 sempre foi um clube de ricaços das grandes potências ocidentais com objetivo de manter a hegemonia coletiva do Ocidente sob mando dos EUA. Depois da Guerra Fria, a Rússia foi incluída no grupamento, que por pouco não se converteu em centro da governança global, e parecia substituir o Conselho de Segurança da ONU - mas a Rússia só era autorizada a discutir política e segurança; d) no alvorecer do século 21, novas economias começaram a aflorar e o centro econômico-político mundial foi sendo transferido gradualmente para o Pacífico Asiático; e) a crise financeira sistêmica de 2008 criou um impasse para o G7, quando se viu uma saída somente com a ajuda das economias emergentes. Os EUA propuseram então ao G20 para discutir problemas econômicos internacionais. Contudo no G20, o comando do G7 nada pôde fazer sem a cooperação com o protagonismo dessas economias; f) EUA e Japão relutam em aceitar o crescente prestígio internacional das economias emergentes, bem como ceder a própria hegemonia. Amainada um pouco a crise global, houve o tal -renascimento- do G7. Mas a performance econômica dos membros do G7 mostra que -a reunião foi um convescote de endividados-; g) as potências ocidentais jamais se cansam de destacar a grande importância que teria o G7 - ele já mostrou que não é capaz de manter a estabilidade regional e, em vez de construir alguma estabilidade, levou o Oriente Médio ao caos. Depois da crise na Ucrânia, o ocidente excluiu a Rússia do G8 original, uma -relíquia da Guerra Fria-; h) claro também que Rússia e China foram alvos principais das discussões, que resolveu continuar a pressionar a Rússia na crise ucraniana. A China voltou-se ao Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (BAII) e aos Mares do Leste e do Sul da China, valendo a pena registrar que membros europeus diferenciaram-se de EUA e Japão nesta questão.
Sofismas de Perry Anderson
-O que não podemos fazer, contudo, é bater em retirada-. (...). Mas a verdade - e os melhores dados econômicos parecem confirmá-la - é que houve uma certa erosão da base industrial na época- (Obama, 28/04/2015). [7]
Não há, pois, coincidência na entrevista do atual imperador negro do Norte, quando se refere (exatamente) a duas das questões centrais que apresentamos no artigo anterior como causas do declínio dos EUA. O que, lamentavelmente procura ser contestado pelo destacado pensador Perry Anderson em uma das conclusões centrais de seu novo livro -A política externa americana e seus teóricos- (BOITEMPO, 2015).
Aliás, abstraindo completamente o impacto definitivo global da crise sistêmica engendrada pelos EUA desde 2007-8, o livro de Anderson não só afunda num festival de circunlóquios de recitação. No exato sentido da reiteração crítica quanto ao método feita pelo grande historiador brasileiro Moniz Bandeira, ao examinar - este sim! - em excepcional profundidade a trajetória imperialista dos EUA, em -A formação do império Americano-: -O critério da verdade não pode consistir em comparar diferentes teorias, mas em compará-las com a realidade- [8].
Quase sempre enfurnado num subjetivismo autoral do stablishment imperial, Anderson insinua apresentar como se isso fosse o altar do saber em matéria da verdade em politica externa. E conclui numa ideia-sofisma conclusiva (e filosoficamente dogmática) de que:
-Uma característica comum dessa escrita à esquerda é não apenas a crítica da hegemonia global dos Estados Unidos, mas a confiança em que ela está em declínio acentuado, quando não em crise terminal. Uma oposição radical ao império americano, no entanto, não exige garantias de seu recuo ou colapsos iminentes. A mudança do equlíbrio de forças em cujo centro a sua hegemonia continua a manter tem de ser reonhecida de forma objetiva, sem pensamentos ilusórios- (ANDERSON, idem, p.8).
Ora, o que - e quem - quer dizer -crise terminal-- Pensa Anderson que engana alguém quando enfia na frase conclusiva de argumentação -não exige garantias de seu recuo ou colapsos iminentes-- Depois de arrolar um número exaustivo (e desnecessário) de intelectuais burgueses e reacionários argumentadores do imperialismo, quem falou em -colapsos iminentes--
Trata-se de uma retórica centrista, para um pensador como Anderson, que sabe perfeitamente que impossível haver - e nunca houve - -colapso iminente- de quaisquer dos impérios que já existiram. Não há nada de -crise terminal- ou -colapsos iminentes- no declínio dos EUA! Há um processo de decadência histórica evidente das posições hegemônicas do imperialismo norte-americano no sistema de relações internacionais atual, assim como se acelerou seu declínio econômico relativo desde a crise. Ponto final.
Mas Anderson cita por três vezes o ex-historiador da CIA Chalmers Johnson e sua trilogia, este um crítico desabrido da expansão militar proveniente da decadência do imperialismo norte-americano. Mas ele não se refere a esta conhecida posição de Johnson! [9] Pesquisador norte-americano, Chalmers Johnson enfatizou corajosamente: -EUA mantém bases em 40 países enquanto atravessam decadência sem precedentes-. As palavras de Chalmers Johnson foram do artigo publicado na revista Ásia Times (21-08-2009). Segundo afirmara em -Blowback. Custos e consequências do império americano-, o que reafirma em -Aflições do império- (publicados no Brasil pela Record), as instituições norte-americanas são comandadas pelo sistema financeiro global, ao complexo industrial-militar e ao aparelho de espionagem (inteligência) do País, prevendo que o governo dos EUA se transformaria num regime policial cruel e mais tirânico ainda.
Epílogo
A retificação estratégica - não se trata de tática, como querem marxistas desorientados - do imperialismo norte-americano relativamente à sua política externa para Cuba, Irã, e agora Brasil, revela de modo cabal a situação de isolamento em que a -extensão estratégica militar excessiva- se meteu. Poderosamente catapultado pela crise capitalista global deflagrada em 2007-8, tal posicionamento imperialista dos EUA processa, especialmente desde os governos (fraudados) fanáticos de G. W. Bush, uma decadência insofismável originária da aceleração de seu declínio econômico relativo. Mesmo sendo em sua moeda, o dólar, o endividamento externo dos EUA alcançou US$ 5,5 trilhões no final de 2014; e o público mais de 1005 do PIB no início de 2015.
Assim, quaisquer análises da situação do sistema de relações internacionais que apenas ressaltem as ameaças de -guerra nuclear- global desse imperialismo, unilateralizando o quadro de forças - seja por -boas intenções- de concentração da tática de ataque no inimigo principal, seja por superdimensionar a questão do poderio militar americano -cometem o erro inaceitável do enterro da dialética.
Ora, Kissinger assim como J. Nye contando a fábula de uma -perspectiva confortadora em Washington- usam mesmo é da retórica e da enganação -num momento em que a hegemonia dos EUA cai visivelmente aos pedaços, em meio à mudança tectônica no nível do poder global-, afirma Alfred W. McCoy, professor JRW Smail de História na University of Wisconsin-Madison [10]. De acordo com McCoy, os movimentos de Washington não passam -de ideia velha-, -mesmo que venham em escala antes inimaginável-; diferentemente, -a ascensão da China ao posto de maior economia do mundo, absolutamente inconcebível há um século, representa coisa nova-. Onde a Nova Rota da Seda, por exemplo, -ameaça virar de cabeça para baixo a geopolítica marítima que modelara o poder no mundo durante 400 anos-.
* Aloísio Sérgio Barroso é doutorando em Economia Social e do Trabalho (Unicamp), Membro da Comissão Nacional de Formação e Propaganda do Comitê Central do PCdoB, diretor de Estudos e Pesquisas da Fundação Maurício Grabois.
Notas
[1] Original em: http://www.paulcraigroberts.org/2015/01/16/ruin-future-paul-craig-roberts - Institute of Political economy, 16-01-2015.
[2] Ver: -O capitalismo nos país das maravilhas-, Antonio Santos, Avante!, 19/03/2015.
[3] Ver: -O sequestro da América. Como as corporações financeiras corromperam os Estados Unidos-, C. Ferguson, Zahar, 2013, pp. 1-30.
[4] Ver: -China versus ocidente: o deslocamento do poder global no século XXI-, DSV, Introdução, 2105.
[5] Cínico como sempre, Kissinger considera, nesse livro, Bush Filho um exemplo de -coragem, dignidade e convicção- pela decidida -transformação do Iraque, de um dos mais repressores Estados do Oriente Médio, em democracia multipartidária- o que quase deu certo, não fosse a subversão cruel da Síria e do Irã.
[6] Ver: -China mocks G7 as -gathering of debtors-, warns -confrontation will be a disaster for Europe-, 15-06-2015. Veja aqui: http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2015/06/china-zomba-do-g7-convescote-de_20.html
[7] Ver: -Para Obama acordo comercial com a Ásia pode reduzir influência da China-, em: Valor Econômico/Wall Street Journal, 28/04/2015. Prossegue Obama: -Se nós não escrevermos as regras, a China escreverá para aquela região-; -Nós seremos excluídos - as empresas americanas e a agricultura americana. E isso significará a perda de empregos nos EUA-.
[8] Por outro lado, Bandeira se refere aí (p. 24) às formulações de Lênin acerca das perspectivas do imperialismo, em seu famoso estudo, dando razão a tese supostamente vigente do -ultraimperialismo-, de Karl Kautsky, com as quais não estou de acordo. Para uma visão distinta da de Bandeira ver:
a) http://www.resistir.info/mreview/editorial_mr_jan04.html; b) a parte 2 do excelente -A contradição em processo. O capitalismo e suas crises-, de Frederico Mazzucchelli, Brasiliense, 1985; c) a Introdução de E. Hobsbawm à -A era dos impérios (1875-1914)-, Paz e Terra, 2003, 8ª edição.
[9] À nota 133 (p. 115) diz o escapista Anderson: -uma trilogia recheada de detalhes pungentes, proporcionando um diagnóstico implacável da Pax Americana- (--). Ora, mas isso é água de flor de laranjeira para o que sublinhava Johnson! A questão é que Johnson passou a ter opiniões mais avançada e ajustada que a de Anderson sobre a temática da decadência americana - isso sim.
[10] Ver: seu longo ensaio Geopolítica do Declínio Norte-Americano Global. Washington x China no século XXI. Em: TomDispatch blog, 07-06-2015, tradução da Vila Vudu, redecastorphoto.