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História

Edição 135 > Coreia: da luta antijaponesa à libertação em 1945

Coreia: da luta antijaponesa à libertação em 1945

Raul Carrion
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(1ª Parte)

Em 2015, completam-se 70 anos da vitória do povo coreano contra o Japão e os 65 anos do início da ?Guerra de Libertação? contra os Estados Unidos, quando pela primeira vez o imperialismo ianque foi derrotado em campos de batalha. Este é o primeiro de três artigos que farão um retrospecto da história da Coreia em sua luta pela libertação nacional e pelo socialismo

A transformação da Coreia em colônia japonesa

A presença humana na península coreana data de 300.000 anos atrás. Sua primeira civilização - Joson Antiga - existiu três mil anos, até 108 a.C. Em 277 a.C., surgiu o primeiro Estado feudal da Coreia. No início do século V d.C., o Estado de Koguryo dominava um território de 2.400 km, de leste a oeste, e de 2.000 km, de norte a sul. Pyongyang era a sua capital. Em 918, o rei Wangkon estabeleceu a dinastia Koryo, unificando pela primeira vez a nação coreana. Ela durou até 1392, quando surgiu a dinastia feudal Joson, o último Estado feudal da Coreia, subjugado no início do século XX pelo Império Japonês.

Já em 1876, o Japão havia imposto ao decadente Estado feudal coreano o Tratado de Kanghwado, reduzindo a Coreia a uma semicolônia. A guerra sino-japonesa de 1904-1905 e a guerra russo-japonesa de 1904-1905 - quando a China e a Rússia foram derrotadas pelo Japão - criaram as condições para o total domínio nipônico sobre a Coreia.

Nessa ocasião, os Estados Unidos apoiaram a ocupação japonesa da Coreia, em troca do apoio japonês à ocupação norte-americana das Filipinas (Pacto Secreto Taft-Katsura). O Tratado de Ulsa - imposto pelo Japão através das armas em 1905 - e o Tratado Coreano-Japonês de Anexação, de 1910, consumaram a transformação da Coreia em colônia japonesa.

A partir de então, usando de brutal violência, os japoneses impuseram o seu domínio sobre a Coreia, apoderaram-se de suas terras e riquezas, reprimiram sua língua e cultura, exploraram cruelmente o seu povo. Em 1925, havia mais de 400 mil japoneses instalados na Coreia. Em 1942, 80% das florestas e 25% das terras cultivadas e a quase totalidade das indústrias estavam em suas mãos.

Os primeiros anos da luta contra a dominação japonesa

Os coreanos nunca aceitaram o domínio japonês. Já em 1908, o movimento Voluntários Antijaponeses chegou a abarcar 70 mil guerrilheiros, mas acabou derrotado em 1910. Todas as rebeliões que se seguiram foram brutalmente esmagadas pelos japoneses. Em 1919, surgiu o Movimento do Exército Independentista, que retomou a resistência armada aos japoneses.

Em outubro de 1926, o jovem Kim Il Sung fundou a União para Derrotar o Imperialismo (UDI), tendo como meta derrotar o imperialismo japonês, alcançar a independência da Coreia e construir o socialismo e o comunismo. Em julho de 1930, Kim Il Sung criou a Associação de Camaradas Konsol, que viria a ser o embrião do futuro Partido do Trabalho da Coreia.

Em abril de 1932, teve início a Guerrilha Popular Antijaponesa, que logo se expandiu para diversas regiões, inclusive a Manchúria. Em março de 1934, a guerrilha transformou-se no Exército Revolucionário Popular da Coreia (ERPC). Nas áreas liberadas, foram sendo organizados Governos Revolucionários Populares, unindo todas as forças antijaponesas.

Em maio de 1936, constituiu-se a Associação para a Restauração da Pátria (ARP) - primeira organização permanente da frente única nacional antijaponesa na Coreia - e foi aprovado o seu Programa de Dez Pontos. Kim Il Sung foi eleito o seu presidente.

A derrota do imperialismo japonês e a ocupação do Sul da Coreia pelos EUA

Ao final da Segunda Grande Guerra, após a rendição alemã, em 8 de maio de 1945, prosseguiu a luta contra o Japão, que continuava ocupando inúmeros países do Pacífico, entre eles a Coreia. Em 8 de agosto, sob a direção de Kim Il Sung, o ERPC iniciou a sua ofensiva geral contra os japoneses. Em 9 de agosto, a URSS declarou guerra ao Japão e atacou as tropas japonesas na Manchúria e na Coreia. Nas principais cidades e regiões, a população sublevou-se. A situação tornou-se insustentável para os japoneses.

Nesse momento, os EUA, sem necessidade - pois o Japão já negociava sua rendição - lançaram duas bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, matando mais de 300 mil pessoas, quase todos civis. Em 15 de agosto, o Japão assinou sua rendição. O ERPC e demais lideranças patrióticas constituíram Comitês Populares em toda a Coreia que, reunidos em Seul, proclamaram em 6 de setembro de 1945 a República Popular da Coreia.

Desrespeitando a autodeterminação do povo coreano, no dia 8 de setembro, os Estados Unidos - alegando um acordo com a URSS - ocuparam com suas tropas todo o Sul da Coreia, até o paralelo 38, inclusive Seul. A seguir, dissolveram os Comitês Populares e prenderam em massa os seus membros. Segundo o historiador norte-americano Bruce Comings, -a informação interna estadunidense acerca de prisioneiros políticos sob a ocupação dos EUA dava 21.458 pessoas na prisão em 1947, e 17.000 em agosto de 1945; dois anos depois, 30.000 supostos comunistas estavam nos cárceres de Rhee e os processos dos suspeitos de comunismo constituíam 80% de todos os casos judiciais. Uma série de -Campos de Tutela- alojavam esses prisioneiros adicionais (...) a embaixada dos EUA estimava que 70.000 pessoas encontravam-se nesses campos- (1).

O primeiro comunicado do general Douglas MacArthur, comandante das tropas norte-americanas, não deixou dúvidas quanto ao caráter da ocupação militar: -como comandante em chefe das Forças Armadas dos Estados Unidos no Pacífico, exerço através das mesmas o controle militar sobre o Sul da Coreia, desde o paralelo 38, e sobre a sua população. (...) Devem ser respeitadas todas as minhas ordens e as ditadas sob a minha autoridade. Os atos de resistência às forças de ocupação ou qualquer ação que possa obstaculizar a tranquilidade pública e a segurança serão castigadas com energia. Durante o meu controle militar o inglês será o idioma oficial- (2).

Em seu informe sobre os três primeiros meses de ocupação, o general Hodge afirmou: -[existe] um crescente ressentimento em relação a todos os estadunidenses na área (...) cada dia que passa em meio a essa situação torna a nossa posição na Coreia mais insustentável e diminui nossa decrescente popularidade (...) a palavra pró-estadunidense é associada a pró-japonês, traidor nacional e colaboracionista- (3).

Após negarem ao povo coreano o direito à autodeterminação, os militares estadunidenses - diante das dificuldades em formar um governo pró-americano no Sul da Coreia - foram buscar nos EUA Syngman Rhee (um septuagenário que lá vivia havia 37 anos) e o impuseram, no início de 1946, como presidente de um fictício Conselho Democrático Representativo, que tinha como principal sustentáculo os antigos colaboracionistas pró-japoneses.

Pouco depois, uma série de greves e passeatas - reivindicando melhores salários e direitos trabalhistas - tomou a cidade de Seul. Em um ato dos grevistas, a polícia foi autorizada a atirar na multidão, matando 41 trabalhadores. Em seguida, centenas de grevistas foram presos, torturados e condenados à pena de morte.

A ocupação norte-americana e o seu apoio aos que haviam colaborado com a ocupação japonesa geraram uma forte repulsa do povo sul-coreano: -Os torturadores e os integrantes de esquadrões da morte, que até bem pouco haviam sido um dos braços do domínio estrangeiro, estavam de volta, circulando pelas ruas com armamento norte-americano, radiotransmissores e jipes.- (4)

No outono de 1946, uma rebelião massiva espalhou-se por quatro províncias. Fortemente reprimidos, os rebeldes iniciaram uma guerrilha que se manteve ativa até 1949. Em outubro de 1948, ocorreu uma importante rebelião no porto de Yosu, sufocada ao custo de mais de 2.000 mortos e 3.000 presos. Na ilha de Cheju a resistência foi sufocada depois de terem sido mortos 60 mil pessoas, terem fugido para o Japão outras 40 mil e terem sido destruídas cerca de 40 mil casas. Das 400 aldeias existentes, só restaram 170.

A reconstrução na Coreia no Norte

Enquanto isso, no Norte, as tropas russas ali estacionadas respeitaram o governo surgido dos Comitês Populares e constituído logo após a vitória contra os japoneses.

Em 10 de outubro de 1945, Kim Il Sung fundou o Partido Comunista da Coreia do Norte, que em fins de agosto de 1946 uniu-se ao Partido Neodemocrático da Coreia, constituindo o Partido do Trabalho da Coreia do Norte (PTCN). Em 8 de fevereiro de 1946, tendo por base os Comitês Populares formados em todo o país, foi constituído o Comitê Popular Provisório da Coreia do Norte - com a tarefa de levar adiante a revolução democrática, anti-imperialista e antifeudal -, o qual elegeu Kim Il Sung como seu presidente.

Em 5 de março - sob o lema -a terra pertence aos camponeses que a trabalham- -, foi editada a Lei da Reforma Agrária na Coreia do Norte, que confiscou as terras de japoneses, pró-japoneses, traidores da nação e latifundiários, e as distribuiu para 725 mil famílias camponesas sem terra ou com pouca terra. O regime permitiu aos ex-latifundiários que desejassem trabalhar a terra se mudarem para províncias vizinhas, onde lhes era concedida a mesma quantidade de terra que aos demais agricultores. Os camponeses obtiveram terras que podiam ser transmitidas aos seus filhos, mas não podiam ser compradas ou vendidas no mercado. Foi criado o imposto único agrícola em espécie, tendo sido abolido o velho sistema de entrega obrigatória de cereais e os impostos sobre a terra e a renda.

Em 24 de junho foi promulgada a -Lei do Trabalho para os operários e empregados da Coreia do Norte-, estabelecendo a jornada de 8 horas e a proibição do trabalho às crianças. No dia 30 de julho, foi assinada a -Lei da igualdade de direitos do homem e da mulher na Coreia do Norte-.

Seguiram-se diversas outras medidas para democratizar as esferas judicial, fiscal, cultural e educacional. Foi estabelecido o ensino gratuito e obrigatório e deflagrada uma grande campanha de alfabetização que, só em 1946, criou mais de 16 mil escolas para adultos. No início de 1949, mais de 2,3 milhões de coreanos haviam sido alfabetizados e o analfabetismo foi definitivamente erradicado no país.

Em 10 de agosto de 1946, foi assinado o -Decreto de nacionalização de indústrias, transportes, comunicações, bancos etc.-, pertencentes a japoneses, pró-japoneses e traidores da nação, que tiveram os seus bens expropriados, sem direito a qualquer indenização. Os capitalistas patriotas e pequenos e médios empresários tiveram os seus bens respeitados.

Em 3 de novembro de 1946, foram realizadas as primeiras eleições democráticas da Coreia, em 5.000 anos de existência. Apesar da campanha que os setores reacionários fizeram pelo boicote às eleições ou pelo voto contra o Partido do Trabalho, 99,6% foram às urnas e 96% votaram a favor das transformações em andamento: -Nas eleições ao Comitê Nacional Popular de novembro de 1946 o PDC obteve 351 representantes, o Chongu-dang 253 e o PTCN 1.102; foram eleitos, ainda, 1.753 representantes postulados como apartidários- (5). Em fevereiro de 1947, foram instalados a Assembleia Popular e o Comitê Popular da Coreia do Norte, tendo por presidente Kim Il Sung. Em seguida foram realizadas as eleições para os Comitês Populares de cantão e de comuna e constituídos os seus órgãos locais de poder.

Em 8 de fevereiro de 1948, o antigo ERPC transformou-se oficialmente no Exército Popular da Coreia.

Fruto de todas essas transformações políticas, sociais e econômicas, a produção industrial aumentou 3,4 vezes entre 1946 e 1949, e a produção para o consumo cresceu 2,9 vezes. Houve um início de diversificação industrial. No ano de 1949, a indústria nacionalizada era responsável por 91% da produção e as cooperativas e o Estado controlavam 57% do comércio. Na agricultura, surgiram as primeiras cooperativas agrícolas e artesanais e um incipiente setor estatal, formado por granjas experimentais e estações de máquinas e tratores.

Segundo Cumings, -72% das crianças frequentavam a escola primária, comparadas com os 42% de 1944; cerca de 40 mil escolas para adultos em todo o país brindavam alfabetização básica a operários e camponeses. Informação estadunidense (...) mostra a produção de lingotes de ferro subindo de 6.000 toneladas em 1947 a 166.000 em 1949, a produção de barras de aço subir de 46.000 toneladas a 97.000, (...) superior à produção japonesa de 1944 (...); a produção industrial subiu 39,6% em 1949(...). O resultado desse esforço extraordinário (...) foi que desde 1940 até meados dos anos 1960 (...) a Coreia do Norte cresceu de maneira muito mais rápida que o Sul.- (6).

Os EUA bloqueiam a reunificação e autodeterminação da Coreia

Apesar de ter sido acertado na Conferência de Ministros de Relações Exteriores de Moscou - em dezembro de 1945 - que a URSS e os Estados Unidos buscariam criar um governo provisório unificado e que no prazo de cinco anos se retirariam da Coreia, os Estados Unidos passaram a trabalhar pela divisão definitiva do país, no contexto da -Guerra Fria-.

Além de dissolverem pela força os Comitês Populares e reprimirem os que defendiam a reunificação da Coreia, criaram e armaram um poderoso exército no Sul - sem possuir qualquer mandato para tanto. Não satisfeitos, propuseram, em setembro de 1947, que a questão da Coreia - que era um assunto a ser resolvido entre as duas potências ocupantes, a URSS e os EUA - fosse para a alçada da ONU, sem ingerência do Conselho de Segurança (onde a URSS poderia exercer o direito de veto). Moscou se opôs, mas os EUA - que naquela época manejavam as Nações Unidas ao seu bel prazer - conseguiram aprovar a proposta. Assim, foi formada a Comissão Temporária das Nações Unidas sobre a Coreia, que convocou -eleições gerais- no país, o que não foi aceito nem pela URSS, nem pelos norte-coreanos, que não permitiram que essa comissão fantoche dos Estados Unidos desenvolvesse as suas atividades no Norte da Coreia.

Em resposta às maquinações dos EUA, realizou--se -em Pyongyang, entre 19 e 23 de abril de 1948, a Conferência Conjunta de Representantes de Partidos Políticos e Organizações Sociais da Coreia do Norte e do Sul - na qual compareceram 695 representantes de 56 partidos e organizações, abarcando mais de 10 milhões de coreanos- (7). A própria imprensa norte-americana foi obrigada a reconhecer que -na Conferência de Pyongyang todas as organizações de direita e de esquerda estiveram representadas, com exceção de três organizações dirigidas por Syngman Rhee, Kim Song Su etc.- (8). Essa Conferência rechaçou as eleições em separado no Sul, exigiu a imediata retirada das tropas soviéticas e norte-americanas e defendeu a realização de eleições conjuntas para criar um governo unificado de toda a Coreia.

Desrespeitando a vontade do povo coreano, a dita -comissão- realizou, em maio de 1948, eleições fraudulentas no Sul. Essas eleições: -foram vergonhosas. Os bandos terroristas assolaram a população; nas seis semanas anteriores foram cometidos quase 600 assassinatos políticos. É claro que ganhou a direita e a comissão internacional considerou o seu triunfo como legítimo e -democrático-. (...) A divisão ficou consagrada- (9).

Segundo Bruce Cuming, -praticamente todos os políticos e partidos políticos de expressão, à direita de Rhee, se negaram a participar nas eleições, incluindo a Kim Kyu-sik, um peculiar centrista coreano, e a Kim Ku, um homem situado, provavelmente, à direita de Syngman Rhee- (10).

Como era de esperar, Syngman Rhee obteve ampla maioria e assumiu a presidência. Poucos dias depois, em 15 de agosto de 1948, sob os auspícios do general MacArthur, foi proclamada a República da Coreia, dividindo de forma definitiva a península. MacArthur ameaçou: -Esta barreira [o paralelo 38] deve ser derrubada e o será. Nada poderá impedir que o vosso povo logre a unidade em liberdade- (11).

Com a posse de Syngman Rhee, chegou ao fim o governo militar de ocupação, mas não a presença militar e a tutela dos EUA sobre o governo do Sul da Coreia. Segundo Vitorino: -seguindo as orientações de Washington (...) Rhee governou a Coreia do Sul em Estado de terror e perseguição. (...) Em 1949, o governo de Rhee mantinha em cárcere 36 mil prisioneiros políticos e um saldo de mortes de mais de 100 mil pessoas- (12).

O próprio presidente Truman teve de confessar a conivência dos Estados Unidos com esses crimes: -Syngman Rhee (...) rodeou-se de homens reacionários (...) e, quando o fim do governo militar lhe deixou as mãos livres para atuar impunemente contra seus inimigos políticos, adotou métodos policialescos para impedir a liberdade de expressão. (...) Entretanto, não tínhamos outro remédio senão apoiá-lo- (13).

Relatando a repressão política na Coreia do Sul, sustentada pelos EUA, Mário Giordano afirma: -Syngman Rhee foi reeleito presidente em 1952 e, novamente, em 1956, exercendo poderes ditatoriais para manter-se no governo até 1960, quando teve como sucessor o general Park Chung Hee, que assume o poder em maio de 1961, após um golpe militar. Park foi reeleito em 1967 e em 1971, mas em 1979 foi assassinado pelo chefe dos Serviços Secretos. Sobe ao poder Choi Kiu Ha, que é deposto pelos militares em 1980. Segue-se a presidência do General Chum Doo Hwan (1980-1988), caracterizada por repressões políticas- (14).

Como se pode ver, não é de hoje que os EUA impõem e apoiam em todo o mundo ditaduras sem qualquer compromisso com a democracia...

Com respaldo norte-americano, o Sul prepara a invasão armada do Norte

Em resposta às eleições fraudulentas realizadas no Sul, o Norte organizou, em 25 de agosto de 1948, eleições diretas para a Assembleia Popular Suprema. Devido ao regime de terror implantado por Syngman Rhee, a única alternativa para a indicação dos representantes do Sul na Assembleia Popular foi a indicação clandestina de delegados que, reunidos em Haeju, elegeram os seus deputados. Assim, em 9 de setembro de 1948 - um mês após a criação da República da Coreia no Sul -, foi constituída no Norte a República Democrática Popular da Coreia (RPDC) e Kim Il Sung foi eleito o seu Chefe de Estado.

Pouco depois, as tropas soviéticas abandonaram a Coreia em respeito à autodeterminação coreana e conclamaram os Estados Unidos a fazer o mesmo. Esses, porém, se negaram a fazê-lo e só se retiraram da Coreia em 30 de julho de 1949, quase um ano depois. Segundo Bruce Cumings, -Os estadunidenses não podiam retirar suas tropas com tanta facilidade, pois estavam preocupados pela viabilidade do regime no Sul, por suas tendências ditatoriais e por suas intenções (declaradas a todo o momento) de marchar em direção ao Norte. Mas muito mais relevante que isso era a crescente importância que a Coreia adquiria para a política mundial estadunidense como parte de uma nova estratégia dual de contenção do comunismo e revitalização da economia industrial do Japão- (15).

Em fevereiro de 1949, falando à Assembleia Nacional, Syngman Rhee afirmou que caso não conseguisse anexar a Coreia do Norte com a ajuda da -Comissão da ONU sobre a Coreia- o -Exército de Defesa Nacional (...) deverá necessariamente marchar sobre a Coreia do Norte- (16). E, em 9 de março, o seu ministro do Interior, Yun Chi Yong, afirmou -que a República da Coreia recupere pela força a terra perdida que é a Coreia do Norte é a única via para reunificar o Norte e o Sul da Coreia- (17).

Em resposta a essas ameaças, em junho de 1949 realizou-se em Pyongyang um encontro para constituir a -Frente Democrática pela Reunificação da Pátria- que conclamou a reunificação da Coreia pela via pacífica. A FDRP apresentou seis pontos para viabilizar essa reunificação pacífica: -1) A reunificação da Pátria deve ser realizada pelo próprio povo coreano; 2) as tropas dos EUA devem se retirar imediatamente da Coreia do Sul; 3) a -Comissão da ONU sobre a Coreia-, organismo ilegal, deve retirar-se sem tardança; 4) efetuar simultaneamente, em setembro de 1949, em todo o território da Coreia do Norte e do Sul, eleições para um órgão legislativo unificado; 5) assegurar a legalidade e a liberdade em suas atividades aos partidos políticos e organizações sociais democráticas; 6) o órgão legislativo supremo, surgido das eleições gerais, deve adotar uma Constituição e formar, sobre essa base, um governo- (18).

Em julho de 1949, logo após a publicação do projeto de reunificação pacífica da FDRP, em resposta, o ministro da Defesa da Coreia do Sul, Sin Song Mo, ameaçou: -Nosso Exército de Defesa Nacional (...) tem a convicção e a força para ocupar completamente, não importa quando, em um dia, Pyongyang e, mesmo, Wonsan ao Norte, se a ordem for dada- (19).

A Coreia do Sul - respaldada pelos EUA - preparava-se febrilmente para agredir o Norte.

* Raul Carrion é historiador e presidente da seção gaúcha da Fundação Maurício Grabois. No PCdoB desde 1969, foi vereador de Porto Alegre por dois mandatos e eleito duas vezes deputado estadual.

NOTAS

(1) CUMINGS, Bruce. El Lugar de Corea en El sol - Una historia moderna. Córdoba: Comunic-arte Editorial, 2004, p. 245.

(2) GARCIA ALVAREZ, Raul I. & PARDILLO GOMEZ, Mayra. Corea Sí. Pyongyang, 1992, p. 115.

(3) CUMINGS, Idem, p. 219.

(4) FRIEDRICH, Jörg. Yalu - à beira da terceira guerra mundial. Rio de Janeiro, 2011, p. 188.

(5) CUMINGS, Idem, p. 251.

(6) CUMINGS, Idem, p. 478-479.

(7) DIVERSOS. História de las actividades revolucionarias del Presidente Kim Il Sung. Pyongyang, 2012, p. 227.

(8) JO AM & NA CHOL GANG. Corea en El Siglo XX. Pyongyang, 2002, p. 98.

(9) TRIAS, Vivian. Historia del imperialismo norte-americano-2. La hegemonía: 1919-1963. Buenos Aires, 1977, p. 224.

(10) CUMINGS, Idem, p. 233.

(11) HOROWITZ, D. Estados Unidos Frente a la Revolución Mundial (de Yalta al Vietnam). Barcelona, 1968, p. 147.

(12) VITORINO, William. Guerra na Coreia - A origem de um conflito. São Paulo, 2010, p. 59.

(13) ZENTNER, Christian. Grandes Guerras de nuestro tiempo - Las Guerras de la Postguerra (I). Barcelona, 1980, p. 70.

(14) GIORDANO, Mário Curtis. História do Século XX. Aparecida (SP), 2012, p. 572.

(15) CUMINGS, Idem, p. 231.

(16) HO JONG HO, KANG SOK HUI & PAK THAE HO. L-impérialisme US, provocateur de la guerre de Corée. Pyongyang, 1993, p. 85.

(17) Idem, p. 85.

(18) Idem, p. 88.

(19) Idem, p. 89.

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