Internacional
Edição 127 > A Síria e a transição para um mundo multipolar
A Síria e a transição para um mundo multipolar
Em setembro, completaram-se 30 meses da crise na Síria, que caracterizamos como uma agressão externa e não como uma guerra civil. Estatísticas nunca confirmadas falam em mais de cem mil mortos até agora. Já se afirmou que o conflito encerra uma nova ordem mundial em evolução: A transição de um mundo unipolar para um mundo multipolar. Trataremos neste artigo de analisar o atual estágio do conflito, suas repercussões e desdobramento, à luz de uma visão de política internacional avançada, revolucionária e marxista

Eric Hobsbawm já disse que o século XX foi o mais curto da história. Começou em 1917 com a Revolução Russa de outubro e acabou com o fim da URSS, em 1991. Se pensarmos em -Ordens Mundiais- como períodos onde certos países foram hegemônicos, podemos dizer que tivemos três -Ordens- no curto século XX.
A primeira delas teve início em 1919 com a assinatura do Tratado de Versalhes em 28 de junho. Em 10 de janeiro de 1920 surge a Liga das Nações com a Inglaterra como nação hegemônica. Essa -Ordem- vai até o final da Segunda Guerra, mais precisamente 24 de outubro de 1945, com a criação da ONU. Durou 26 anos. Nessa Nova Ordem os EUA emergem como potência hegemônica, mas num mundo em equilíbrio com a URSS como contraponto. Essa segunda -Ordem- durará mais tempo - 46 anos - e irá até o final da Guerra contra o Iraque em janeiro de 1991.
Nesse período, a partir dos anos 1970, consolida-se o modelo neoliberal de capitalismo financeiro, -Estado mínimo-, perda de direito dos trabalhadores e precarização do trabalho. É o período Reagan/Thatcher. A América Latina totalmente dominada pelos Estados Unidos, e a URSS acabaria em dezembro de 1991. O mundo passava a ser unipolar.
Vivemos, assim, a partir daí o período de uma terceira -Ordem Mundial-. Os EUA passavam a ser a potência hegemônica. No entanto, o mundo passou por uma nova transição para a multipolaridade. Emergem potências regionais que começam a se fazer ouvir. Como é o caso do da China e Rússia, na Ásia, do Brasil na América do Sul. Existe ainda uma aliança de Cooperação Militar de Xangai. E a própria União Europeia com a sua nova moeda - o Euro - tenta se firmar como contraponto ao dólar.
Conforme já dito, é possível que a Nova Ordem em transição para a multipolaridade esteja sendo construída desde 4 de fevereiro de 2012. Nessa data, a Rússia e a China, depois de muito tempo, vetaram inteiramente uma Resolução no Conselho de Segurança da ONU que, se aprovada, autorizaria um bombardeio sobre a Síria. Iniciava-se, nesse momento, certa volta a uma polarização jamais vista na história recente.
Se considerarmos esse fato como um marco, o mundo unipolar teria durado 21 anos apenas. É nesse contexto que temos de entender a agressão que a República Árabe da Síria vem sofrendo.
Por que o imperialismo quer destruir a Síria-
Um dos países mais antigos da Terra, com vida continuada, a Síria segue sendo o único Estado verdadeiramente laico em todo o mundo árabe. Possui governo integrado por oito partidos, que inclui o principal e majoritário, que é o Partido Socialista Árabe-Sírio, Al Baath; os dois Partidos Comunistas; entre outros. Tem um Parlamento funcionando com 22 partidos com representação, uma Constituição democrática aprovada por mais de 70% da população.
Há ao largo um punhado de ingênuos que acreditam piamente que a intervenção militar contra a Síria é baseada em razões morais (o que pretendem passar à Umma - nação dos crentes - as monarquias do Golfo Arábico), e na defesa de direitos humanos (discurso destinado ao mundo inteiro, principalmente aos não-muçulmanos).
É cinismo puro atribuir ao regime sírio todas as mortes do conflito e a tentativa de atenuar o alcance dos crimes cometidos pelos mercenários estrangeiros. Os Estados Unidos demonstram incoerência extrema quando se colocam ao lado da Al-Qaeda e principalmente de sua filiada, a facção Emirado Islâmico, no Iraque, e no Levante (Al Chams) (1). Pois, os EUA se tornam aliados daqueles que se declararam seus inimigos - os únicos que foram capazes de atacar o coração de seu país.
Uma intervenção na Síria, direta ou indireta, é ilegal e contraria a Carta das Nações Unidas, pois somente o Conselho de Segurança dessa organização mundial tem poderes para autorizar o uso da força e em casos nitidamente evidenciados.
O ataque à Síria está intimamente relacionado com grandes interesses geopolíticos ancorados numa região crucial para o futuro energético do planeta. O verdadeiro pecado da Síria é ser um obstáculo estratégico, há dez anos, no caminho da dominação estadunidense-sionista no Oriente Médio, um exemplo de desobediência inédita, e encorajadora de outras na região. A hegemonia estadunidense-sionista vê o regime sírio ancorado numa vasta aliança de forças que se opõe à dominação estadunidense e, ao mesmo tempo, à expansão israelense.
Não se pode omitir o fato de a Síria ser o único Estado árabe que se mantém firme, de pé, recusando qualquer compromisso com Israel, enquanto as colinas de Golã não lhe forem restituídas, nos termos da lei internacional. O povo sírio está em sua totalidade apoiando o governo na retomada de sua integridade territorial. E é sobre este princípio que o governo local fundamenta a sua legitimidade e o Partido Baath lidera uma coalização de partidos que formam um governo de união nacional. A Síria não aceitará jamais perder as estratégicas colinas.
O que incomoda na Síria, inclusive para os poderosos árabes do petróleo e gás e às pretensões hegemônicas estadunidense-sionistas, é sua lealdade ao nacionalismo árabe, à resistência formada entre Damasco, Hezbolláh (no Líbano) Teerã, que já conta com êxitos importantes desde 2006: a vitória política do Hamas contra a intromissão sionista no processo eleitoral palestino; e a vitória militar do Hezbolláh e seus aliados internos que compõem a resistência libanesa contra a agressão sionista ao Líbano (a chamada -Frente 8 de Março-). A vitória militar sobre as forças sionistas significou que o Líbano não aceita mais ser ocupado, e que cresce a cada dia a resistência palestina.
Desde os levantes populares, em 2011, que derrubaram os presidentes do Egito e da Tunísia, aos quais se vem chamando de -Primavera Árabe-, a rua árabe está inquieta. Milhões têm ido às ruas para reafirmar as reivindicações populares, que vêm sendo sorrateiramente contrariadas pelos regimes resultantes dos levantes. Mais recentemente no Cairo, em junho passado, o movimento Tamarud (-rebeldia- em árabe) mobilizou 22 milhões de assinaturas e levou às ruas 30 milhões de pessoas, que levaram à destituição do presidente Mohamed Mursi, da Irmandade Muçulmana, que tentava levar o Egito, de forma acelerada, a se transformar numa República Islâmica, na linha do Califado da alvorada do Islã do século VII.
Segundo dados confirmados até por satélites, foi a maior manifestação de rua da história da humanidade nos últimos tempos em um país. Mais de 35% de toda a população do Egito foram às ruas contra Mursi. O povo egípcio recusava a política de Mursi que caminhava rumo à subserviência aos EUA, aos ditames das monarquias árabes do petróleo, à sua leniência com relação a Israel, à sua atitude contrária aos interesses do povo sírio e, sobretudo, ao não-cumprimento das reivindicações do povo egípcio que tem o pão e a igualdade como objetivos principais.
O imperialismo perdeu nitidamente espaços no mundo árabe. Mas segue forte. Tem como aliados todas as petromonarquias do Golfo, reacionárias e de extrema-direita. Não há nesses países nenhuma democracia, como eles tanto pregam para a Síria. Financiam aberta e descaradamente mercenários vindos de mais de 80 países distintos, e inclusive libertam presos condenados em seus próprios países para lutarem e morrerem na Síria.
A mídia, mesmo apoiando abertamente esses ataques - perpetrados pelos que ela chama de -rebeldes-, mas que agem como mercenários e terroristas -, aos poucos vem mostrando quem de fato eles são. Graças às redes independentes de TV, vídeos amadores, a imprensa árabe que pratica um jornalismo mais equilibrado, como a TV Al Manar (do Líbano), a Press TV e a Hispan TV, do Irã, a Telesur, da Venezuela, dentre outras, já vai ficando mais claro para o Ocidente que a guerra que se trava na Síria nada tem a ver com a restauração da democracia naquele país árabe.
Como disse Semih Idiz, do jornal conservador turco chamado Hurriyet, a batalha que se trava na Síria não é por democracia ou contra um ditador -cruel-, mas sim para se definir se a Síria seguirá secular ou cairá em mãos de jihadistas que a pretendem governar com base na Sharia. Querem de todos os modos instaurar por lá uma República Islâmica aliada do imperialismo. Perseguem de todas as formas os cristãos e destroem suas igrejas. Mesquitas que não sejam sunitas também são atacadas, assim como os minoritários drusos e alauitas. Abominam a laicidade das instituições.
Ainda assim, os grupos islâmicos que querem depor o presidente sírio, Dr. Bashar Al Assad, estão a cada dia mais divididos. Basicamente temos hoje três grupos: o autoproclamado Exército Livre da Síria (ELS) apoiado pelo Qatar e pela Turquia; o Exército do Islã, que rachou com o ELS, apoiado pela Arábia Saudita e pela Jordânia; e por fim o formado recentemente Estado Islâmico no Iraque e no Levante vinculado diretamente à rede terrorista Al Qaeda. Todos esses agrupamentos recebem apoio tácito diretamente dos EUA e das suas agências de inteligência, das potências europeias (especialmente França e Inglaterra) e do Mossad de Israel, que tem interesse que seja desmontada, destruída, toda a estrutura do Estado nacional sírio. Esses são os atores em jogo, na disputa.
Como afirma o secretário-geral do PC Libanês, o mais antigo do Oriente Médio, Khaled Hadadah, são quatro os objetivos do imperialismo estadunidense na atual fase da luta no mundo árabe: 1- Terminar de implantar o plano chamado -Novo Oriente Médio-, concebido na gestão de George W. Bush e Condoleezza Rice, que prevê a erosão e destruição do Líbano e da Síria; 2- liquidar a causa Palestina; 3- controlar o Egito, com a troca do governo laico por um islâmico ditatorial para conter o crescimento e a força do Irã; 4- impedir que a Rússia volte a ter influência no OM, como no passado a URSS teve.
Por fim, não podemos deixar de mencionar o que, de nosso ponto de vista, é o motivo principal do conflito pela destruição da Síria: a questão econômica. Ainda que o petróleo siga sendo a questão central no mundo hoje, pesquisas sobre extração do xisto betuminoso a preços baixos podem fazer com que o óleo não seja tão estratégico em futuro próximo. No entanto, o gás passa a ser primordial.
Há em curso a construção de um gasoduto pela GASPROM, da Rússia, saindo da Sibéria, e passando pelo Iraque e Síria, cujo destino é oferecer gás para a Europa. O Irã apoia esse projeto. Não é por acaso que o Qatar, que financiava abertamente os terroristas na Síria, queria manter o controle da -torneira síria-.
Chegamos ao fim de uma era-
Desde a deposição, por um golpe, de Muhammad Mossadegh do Irã, em 1953 - há 70 anos -, com ajuda da CIA, o Oriente Médio praticamente não possui Estados independentes e soberanos. São, em sua maioria, protetorados estadunidenses que apoiam Israel. Em algum momento o Egito, sob Nasser, de 1954 até 1970, tinha sido firme defensor dos árabes, em uma época que foi forte o nacionalismo.
Ao Iraque de Saddam Hussein, talvez entre 1989 e 2003, quando o país foi invadido e ele assassinado, também podemos classificar dessa forma. Também a Líbia, de Muammar Kadhafi,podemos afirmar ter sido independente. Mas também este foi deposto e assassinado em 2011. Restou só a Síria, hoje governada por Bashar Al Assad, um jovem médico oftalmologista. Nada mais restou de soberania e independência. Petromonarquias a serviço do imperialismo cedem seus países para bases militares ora americanas, ora inglesas ou francesas. E é justamente essa Síria, com governo nitidamente anti-imperialista, que o imperialismo pretende remover do complexo tabuleiro de xadrez da geopolítica no Oriente Médio.
Destruir o Estado nacional sírio, derrubar o seu governo, passou a ser a agenda dos EUA desde 2011. E sabemos que o grande objetivo mesmo será a destruição do Irã e sua República Islâmica. Uma certa esquerda brasileira e internacional sequer compreende a batalha que se trava naquele país. Chega ao absurdo de falar em -uma revolução popular- (sic), quando se sabe que praticamente não há sírios combatendo o governo, mas sim mercenários contratados a peso de ouro financiados diretamente pelas monarquias do Golfo.
A tal Coalizão Nacional Síria, montada pelos inimigos desse país, é um arremedo de frente política. Não tem unidade e quase todos os seus integrantes moram em Londres, Paris ou Istambul. O tal Exército Sírio -Livre- é formado por militantes fundamentalistas islâmicos vindos de várias partes do mundo. Vão morrer na Síria, cujo exército nacional árabe-sírio que lhes dá combate diuturno já controla praticamente 90% do território, exceto algumas áreas de fronteiras, em especial com a Turquia.
Obama vinha falando desde 2011 em -mudança de regime-. Abandonou faz tempo essa linha. Ano passado passou a falar em -linhas vermelhas que não poderiam ser cruzadas-, referentes ao uso de armas químicas. Sabendo disso, a oposição armada as usou em março e agosto - para forçar um ataque direto dos Estados Unidos e tentar enfraquecer o governo do presidente Bashar.
A partir do ataque de 21 de agosto nos arredores de Damasco, o mundo inteiro apontou imediatamente o dedo para o governo da Síria. Na prática era o que tinha o menor interesse em usar armas químicas contra seu povo e contra seu próprio exército, que fora atingido em cheio. Mas os russos e seus satélites demonstraram que os terroristas, chamados de rebeldes, é que fizeram uso dessas armas.
Iniciaram as ameaças de ataque imediato. Mesmo tendo todo o Estado-Maior de suas forças armadas contra qualquer ataque à Síria, Obama, o -Nobel da Paz-, preparava-se para a sua quarta guerra. Foi derrotado. Perdeu de imediato o apoio do Reino Unido, cujo parlamento negou a David Cameron a autorização do ataque. Se votado fosse na França, o belicoso -socialista- François Hollande teria também sido derrotado.
Restou ao presidente estadunidense pedir ao seu Congresso o apoio. Disse que desta vez -atacaria mesmo que sozinho-. Foi, novamente, derrotado. Desta feita pela diplomacia russa, que, a cada dia mais, ocupa o cenário da política internacional e volta a ocupar um grande espaço no Oriente Médio.
Defendendo a Síria desde os primeiros momentos do conflito, a Rússia apresentou a proposta de que a Síria assinasse o tratado de controle de armas químicas e entregasse seu arsenal para os organismos internacionais. Imediatamente, o governo sírio concordaria com a proposta.
Foi como se Obama tivesse sido salvo da desmoralização pública internacional pelos russos! Quem diria. Ele seria, ao que tudo indicava, fragorosamente derrotado no Congresso. Nunca houve potência que lançou mais produtos químicos sobre outro povo do que os Estados Unidos. Não nos esqueçamos de que nos 13 anos da guerra contra o Vietnã (1962-1975), essa potência lançou dioxinas (agente laranja) contra os vietnamitas na proporção de pelo menos 2,73 Kg por habitante! No Iraque, usou balas de urânio empobrecido. Nisto, os EUA foram seguidos por Israel, que lançou contra os palestinos, em janeiro de 2009, bombas de fósforo branco - fornecidas pelos EUA. Mesmo assim, tiveram a hipocrisia de se manifestarem contra o uso de armas químicas.
Obama não tergiversou em prosseguir com todas as guerras iniciadas pelo seu antecessor. Não só não interrompeu as do Iraque e do Afeganistão, como iniciou a da Líbia e queria atacar a Síria. Criou uma rede mundial de aviões sem piloto - chamados drones - que, à sua ordem, assassinam líderes opositores dos EUA em qualquer país no mundo. Assassinato à distância!
Neste quadro, o recuo para o ataque foi uma questão de horas. Não havia saída. A menos ruim foi -suspender- os ataques que nunca aconteceram. Uma vitória do povo dos Estados Unidos que foi às ruas pressionar seus congressistas a votarem contra a resolução de ataque. Mas, acima de tudo, uma vitória do heroico povo da Síria, de seu governo e de seu exército árabe que vêm resistindo às agressões externas. É bem verdade que estão destruindo o país e expulsando milhares de suas terras. Mas, em pouco tempo, a Síria será reconstruída e os refugiados serão reintegrados às suas casas. Haverá eleições em maio de 2014. Acreditamos ser muito improvável que o atual presidente não seja reeleito. Ele tem sido visto na Síria e no Oriente Médio, como um todo, como um grande estadista, sucessor de Gamal Abdel Nasser.
Algumas conclusões
Não temos dúvida de que a batalha que se trava na Síria hoje é a batalha por uma nova Ordem Mundial. É a batalha que anuncia a transição mundial de um mundo unipolar para a multipolaridade. Será a derrota dos protetorados como Qatar, Arábia Saudita, Jordânia, da Turquia de Erdogan e seu Califado, da Irmandade Muçulmana no Egito, já posta na ilegalidade pelo povo egípcio. O cenário que se desenha é do isolamento ainda maior de Israel e do sionismo que massacra diariamente o povo palestino há 65 anos.
Um novo Oriente Médio vem se desenhando no cenário mundial. Obama vem aprendendo, pelos erros que vem cometendo. Parece ter aprendido que seus aliados na guerra contra a Síria são os tais terroristas que ele diz combater no mundo inteiro, em especial a Al Qaeda de Bin Laden que ele se orgulha em dizer que capturou e matou no Afeganistão.
Tudo indica que uma Conferência de Paz ocorrerá sobre a Síria. Os acertos para isso estão sendo feitos pelas chancelarias da Rússia e dos EUA, com Lavrov e Kerry. Fala-se que se realizará em novembro, em Genebra. O governo sírio participaria e sua oposição desarmada. Obama precisa voltar-se para ajudar a resolver o problema dos palestinos. Tem que restabelecer a paz com o Irã, para desespero do reacionário Benjamin Netanyahu.
O que vimos nesses episódios todos foi que talvez nunca na história recente da humanidade, desde o início do século passado, o imperialismo tenha estado tão acuado quanto agora. Não está derrotado. Mas está mais isolado e a cada dia mais decadente. Não consegue mais tomar uma decisão de atacar um país isoladamente como, por exemplo, Bush tomou em 2003, sem o aval da ONU.
De fato, vemos o mundo em mudança, convulsão e desajuste, como sugere o livro de Amin Maalouf. No entanto, vemos esperança nas forças progressistas, seculares, patrióticas, vemos bons sinais de ampla aliança que envolve comunistas, socialistas, cristãos e muçulmanos patrióticos, como ocorre hoje no governo, no Líbano e na Síria. É possível que a Frente de Salvação Nacional do Egito, que organizou os protestos que depuseram o reacionário Mursi, vença as eleições de 2014, da mesma forma que na Síria. Há que perseverar.
Como diz o excelente John Pilger, mencionando os juízes do Tribunal de Nuremberg: -Qualquer cidadão tem o direito de violar as leis domésticas para impedir crimes contra a humanidade e contra a paz-. Tal qual Pilger, também assim dizemos: toda a nossa honra ao povo da Síria. Povos do mundo inteiro e em especial dos Estados Unidos têm muito que aprender com ele.
* José Farhat é cientista político, diretor de Relações Internacionais do ICArabe.
** Lejeune Mirhan é sociólogo, professor, escritor e arabista. É colaborador do portal Vermelho, da Fundação Maurício Grabois, da revista Sociologia.
*** Khaled Fayez Mahassen é jornalista, empresário e diretor da revista Sawtak.
Nota
(1) Levante é o termo usado para designar a antiga Grande Síria que englobava vários países: Palestina, Líbano, Iraque e Jordânia, além da própria Síria. E Síria em árabe é El Sham: Estado Islâmico.
Bibliografia Consultada
Os artigos abaixo foram todos traduzidos pela vila Vudu de tradutores.
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PORFÍRIO, Pedro. -A Síria que os EUA querem destruir-. Blog Pedro Porfírio, 1º-09-2013.
PORTER, Gareth. -Na pressa para atacar a Síria, EUA tentam impedir que a ONU investigue-. Inter Press Service, 27-08-2013.
ROBERTS, Paul Craig. -Síria: Mais um crime de guerra ocidental em preparação- 29-08-2013.
LEGENDAS
Há ao largo um punhado de ingênuos que acreditam piamente que a intervenção militar contra a Síria é baseada em razões morais e na defesa de direitos humanos
A mídia, mesmo apoiando abertamente os ataques perpetrados pelos que ela chama de -rebeldes-, mas que agem como mercenários e terroristas, aos poucos vem mostrando quem de fato eles são
Em benefício da multipolaridade, a Rússia vem defendendo a Síria desde os primeiros momentos do conflito