Capa
Edição 127 > Jogos de 2016 dão fôlego à transformação do Rio
Jogos de 2016 dão fôlego à transformação do Rio
O Rio de Janeiro vive hoje uma profunda transformação, de tal modo, que projetos essencialmente olímpicos caminham em paralelo à reestruturação da cidade, que deixará legados como o primeiro Centro Olímpico de Treinamento (COT) para atletas de alto rendimento do país

Quem circula pelo Rio de Janeiro atualmente vê que a cidade não é a mesma de alguns anos atrás. Melhorias importantes em áreas como infraestrutura e transportes, entre outros setores, são hoje percebidas pela população como efeito de uma retomada de dinamismo, contribuindo também para gerar novos empreendimentos, mais empregos e renda.
A fantástica paisagem natural, a alegria do povo do Rio e o nosso amor pela cidade nos inspiram a trabalhar cada vez mais para que cariocas e visitantes possam desfrutar mais intensamente este paraíso. Entretanto, a tarefa de mudar para melhor uma cidade tão maravilhosa e complexa não é simples e exige muita energia transformadora. Nossa metrópole tem características culturais, geográficas e, principalmente, históricas que tornam maior esse esforço de renovação.
Sem contar que, antes de a cidade ganhar a disputa para sediar os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016, predominava um sentimento de dúvida sobre a capacidade do Rio de dar a volta por cima e superar sua história recente. Dezenas de empresas transferiram suas atividades para outros estados; profissionais qualificados e pensadores de altíssimo nível foram buscar desafios e oportunidades em outros locais; e minguaram os investimentos públicos e privados em todos os segmentos. Por aqui, o esvaziamento de décadas deixou um rastro de problemas administrativos e fundiários mais complexos que os de outras cidades do país.
Capital da colônia, do Reino português e do Império e da República do Brasil, o Rio também teve status de estado antes de finalmente tornar-se capital estadual. Essas mudanças, porém, não foram acompanhadas de todos os ajustes burocrático-administrativos necessários. Um dos principais exemplos remanescentes desse imbróglio histórico é o Theatro Municipal do Rio que, apesar de ter seu nome associado à esfera de ação da Prefeitura, pertence ao governo do estado.
No Rio, a integração com a natureza também é uma de suas características mais marcantes - e razão de a cidade ter sido elevada à categoria de Paisagem Cultural da Humanidade, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em julho do ano passado. Nesse contexto, a manutenção e a melhoria da qualidade ambiental são compromissos permanentes da Prefeitura. Mas a responsabilidade sobre o saneamento de rios e lagoas é dividida entre diferentes esferas governamentais, exigindo conjugação de esforços para a execução de grandes projetos de despoluição das águas.
Ainda devido à sua importância histórica, o Rio tem uma rede de escolas públicas do Ensino Fundamental maior do que a da cidade de São Paulo, onde há o dobro de habitantes. E as unidades de saúde municipais são sobrecarregadas pelo afluxo de pacientes oriundos de outras cidades da Região Metropolitana.
Regularização fundiária é mais complexa no Rio
Assim, combater os problemas do município quase sempre exige o alinhamento entre níveis de governo. É o caso da revitalização da Região Portuária, cujas instalações e operação são de propriedade e atribuição federais. Ali, mais da metade dos terrenos não eram, e ainda não são, de propriedade municipal, o que dificultou a requalificação dessas áreas em nossa cidade, diferentemente do que ocorreu em outras metrópoles mundiais.
A construção dos principais eixos viários estruturais que integrariam a cidade - prevista no plano Doxiadis, de 1965, do qual só saíram do papel as linhas Amarela e Vermelha - também esbarrou nessas questões. Isso porque, entre outros aspectos, o metrô e a ferrovia, por exemplo, estão sob controle do governo estadual.
Os Jogos de 2016 vieram em ótima hora, em que a estabilidade e a recuperação econômica do país, combinadas ao maior dinamismo de setores como o de petróleo do Rio e, posteriormente, à pacificação de comunidades locais, foram o pano de fundo para a mudança das expectativas. O compromisso assumido com entidades nacionais e internacionais também impulsionou a união de esforços dos três níveis de governo para a realização de projetos fundamentais à regeneração do nosso espaço urbano.
Nesse novo cenário, os Jogos vêm funcionando como motor de mudanças estruturais, dando sentido de urgência aos problemas e soluções, nos três níveis de governo. Vontade política e capacidade de execução não faltam à Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, que tem contado com o empenho dos demais níveis de poder.
A transformação mais significativa em curso é o projeto de mobilidade urbana. Antes, o Rio mantinha a lógica do desenvolvimento linear dos sistemas de transporte: um do Centro ao Recreio dos Bandeirantes e outro do Centro a Santa Cruz, ao longo da Estrada de Ferro e da Avenida Brasil. Com os Bus Rapid Transit (BRTs), 152 km de ovas vias cortarão a cidade, incluindo a Transoeste - concluída - e a Transcarioca - a ser entregue em 2014. O Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) agregará outros 28 km na Região Portuária e no Centro e será integrado a metrô, ferrovia, ônibus, barcas e aeroporto.
Com a implantação dos novos corredores de transporte de massa, a atual frota de cerca de nove mil ônibus será reduzida em um terço após 2016. Cerca de 60% da população usarão transporte de alta capacidade, em comparação com os atuais 20%. O meio ambiente também será impactado positivamente, já que combustíveis mais limpos e sistemas de locomoção mais eficientes contribuirão para diminuir a poluição.
A exemplo do que já ocorreu - em alguns casos há décadas - em outros países, finalmente a Região Portuária está sendo revitalizada. Cinco milhões de metros quadrados de área estão em processo de transformação acelerada, e os reflexos positivos já podem ser percebidos no entorno. Viabilizado pela maior Parceria Público-Privada (PPP) em curso no país - cerca de R$ 8 bilhões -, o projeto não compromete recursos orçamentários tão necessários a setores prioritários, como saúde e educação.
Revitalização valoriza também as Zonas Norte e Oeste
Os dados econômicos também refletem os efeitos do legado da grande transformação em curso para a cidade. No primeiro semestre deste ano, Campo Grande, Madureira e Centro foram os bairros de maior valorização imobiliária, resultante de investimentos da Prefeitura na Transoeste, no Parque Madureira e no Porto Maravilha.
Outros projetos transformadores são o de controle das enchentes na Praça da Bandeira, que vai livrar a região dos alagamentos históricos que prejudicam comerciantes, moradores e pessoas que circulam neste importante elo entre o Centro e a Zona Norte; a macrodrenagem da Bacia de Jacarepaguá, em curso; e a duplicação do Elevado do Joá, importante ligação Zona Sul-Barra, em licitação.
A rede hoteleira, deteriorada pela falta de investimentos nas últimas décadas, também vive renovação significativa, com 75 novos projetos de hotéis que representam 16 mil quartos e mais de 10 mil empregos diretos.
Ainda motivados pelos Jogos, os Ginásios Experimentais Olímpicos trouxeram o conceito de excelência em educação e esporte. Às três unidades em funcionamento se somarão, até 2016, mais três colégios. Os mais de 500 mil estudantes das 1.076 escolas da rede pública municipal também estão sendo beneficiados pela universalização do ensino de inglês, por meio do programa Rio Criança Global.
Os projetos essencialmente olímpicos caminham em paralelo à reestruturação da cidade, como o de construção do Parque Olímpico e Paralímpico, da Vila dos Atletas e do Campo de Golfe. O primeiro, por meio de uma PPP que viabilizou substancial aporte de recursos privados; e os demais, integralmente bancados pelo setor privado, fato inédito na história dos Jogos.
Além de planejado para tornar-se um bairro sustentável após 2016, o Parque Olímpico deixará como legado esportivo o primeiro Centro Olímpico de Treinamento (COT) para atletas de alto rendimento do país. Com essa infraestrutura, o Rio estará capacitado para receber competições internacionais de alto nível.
O Rio vive hoje uma profunda transformação; que é resultado, portanto, do empenho dos três níveis de governo, da confiança do setor privado e também do apoio da população. Só assim todas essas mudanças - que provocam alterações importantes e até alguns transtornos - puderam e continuarão a acontecer.
Neste mês de novembro de 2013, que marca os mil dias para os Jogos, o legado para a cidade é evidente e já contribui para recuperar o destaque do Rio nos cenários nacional e internacional. O tempo nos pressiona a agirmos para aproveitar e não desperdiçar esse impulso precioso. Todos, a começar por nós, exigem a prolongação dos efeitos positivos dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos para muito além de 2016.
* Eduardo Paes é prefeito da cidade do Rio de Janeiro
LEGENDAS
Eduardo Paes e o presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman, com a bandeira olímpica no Cristo Redentor
Projeto de revitalização da Zona Portuária promete uma das mais radicais reformas urbanísticas da história do Rio de Janeiro