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Edição 125 > Pesquisa agropecuária e a revolução produtiva no Brasil

Pesquisa agropecuária e a revolução produtiva no Brasil

Maurício Lopes*
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Com a agricultura baseada em ciência, o Brasil passou a priorizar a incorporação de tecnologia, os ganhos de produtividade e a sustentabilidade do modelo agrícola. Três grandes conjuntos de conhecimentos podem ser considerados os agentes dessa mudança: a transformação de solos ácidos, e de baixa fertilidade, em solos férteis; a tropicalização e a adaptação de plantas e de animais aos biomas brasileiros, e o desenvolvimento de uma plataforma de práticas conservacionistas e de defesa ambiental inéditas

A aposta na inteligência estratégica

Ciência, tecnologia e inovação no Brasil e os recursos a elas destinados por políticas públicas e ações de governo e do setor privado ocupam espaços consideráveis em fóruns de discussão sobre o tema. Comparações entre o desempenho do país e o de outras nações, em relação aos dispêndios em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) ou ao número de pesquisadores dedicados à inovação tecnológica, têm sido feitas com frequência. Reflexões recentes, por sua vez, indicam que, além dos maiores investimentos em capacitação de pessoas e em infraestrutura de inovação, a atenção aos processos de inteligência estratégica e a aposta em think-tanks são caminhos a seguir.

Laboratórios modernos, campos experimentais estruturados, equipamentos atualizados e pessoas preparadas correspondem a uma infraestrutura de inovação desejável. No Brasil, essa infraestrutura tem melhorado, graças à maior sensibilidade do governo federal para as questões ligadas à Ciência, Tecnologia e Inovação, e aos recentes investimentos na área. Mas dados disponíveis no portal do Ministério da Ciência e Tecnologia mostram que continuamos abaixo de outros países emergentes quanto aos dispêndios nacionais em P&D em relação ao Produto Interno Bruto (PIB).

No tocante aos processos de inteligência estratégica, vem crescendo a consciência de que nosso sistema de inovação deve fazer uso de procedimentos mais sistemáticos de antecipação ou antevisão de riscos, desafios e oportunidades. Países como China, Japão, Coreia do Sul e Estados Unidos têm fortalecido cada vez mais suas capacidades em inteligência estratégica e competitiva. É admirável a quantidade de think-tanks, de grupos de estudo, de núcleos de análise e antecipação com os quais esses países contam. As grandes corporações, inseridas nos mercados mais dinâmicos e competitivos, há muito adotaram a visão de inteligência competitiva e estratégica em lugar do modelo episódico de planejamento estratégico. Núcleos de inteligência operam em tempo integral em trabalhos de observação, análise de cenários, prospecção e estudos avançados, buscando vislumbrar futuros possíveis e estratégias sobre como lidar com esses futuros.

No caso da pesquisa agropecuária, é reconhecida a sua contribuição para a economia brasileira. A aplicação dos resultados gerados pelos pesquisadores, aliada a políticas públicas e a incentivos governamentais, fez com que a agricultura se tornasse pilar importante da nossa economia, como demostram dados sobre o PIB do país. Esse bom desempenho da agricultura e o reconhecimento aos esforços da pesquisa agropecuária sinalizam que somos capazes, com a infraestrutura e as estratégias adequadas, de enfrentar os desafios que se apresentam ao nosso país e à humanidade.

É, no entanto, muito importante que nos preparemos para a um futuro desafiador. Teremos que enfrentar as mudanças de clima, que atingirão de maneira mais intensa os países do cinturão tropical do planeta, onde estão os ambientes mais desafiadores para a atividade agropecuária; precisaremos trafegar em uma economia mais pressionada na direção da descarbonização, com a substituição das fontes de energia fósseis; teremos que assegurar a presença dos nossos produtos em mercados ávidos por segurança, qualidade e novas funcionalidades; teremos que assegurar rastreabilidade e certificação dos nossos produtos; e será necessário lidar com o desperdício de alimentos e, em decorrência disso, com a perda de energia e água, que são recursos cada vez mais escassos; teremos, enfim, que tratar de forma inteligente e planejada múltiplas questões complexas que se avolumam diante de nós.

Há preocupações pertinentes à queda na eficiência das técnicas tradicionais de elevação de produtividade das culturas, o que exigirá métodos avançados na agricultura e na pecuária, originados em áreas como a nanotecnologia, a bioinformática e a biotecnologia. Há, ainda, preocupações sobre a segurança biológica, devido à escalada de pragas e doenças, além da necessidade de se fortalecer o padrão nutricional e alimentar das populações.

A percepção imediata, em função do grande sucesso alcançado pela nossa agropecuária, pode ser a de que estamos totalmente preparados para tais desafios. Que temos pesquisadores, instituições de pesquisa, infraestrutura e os recursos suficientes. Que estamos atentos e desenvolvendo as estratégias adequadas. De fato, o Brasil alcançou um patamar de desenvolvimento científico e tecnológico na agricultura, que nós dá segurança em relação ao futuro. No entanto, devemos ter sempre os pés no chão. Somos capazes sim, mas devemos fortalecer a consciência de que será necessário esforço cada vez maior para acompanharmos as constantes mudanças de paradigmas nos mercados e nos ambientes de inovação tecnológica.

A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), sensível a esta visão, instituiu, em dezembro de 2012, o Sistema Agropensa, um ambiente de observação e análise desenhado para orientar as estratégias da Empresa. O Agropensa produzirá informações qualificadas para o norteamento dos nossos programas de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PDI) e o trabalho dos nossos parceiros, de forma a continuarmos contribuindo para que agricultura continue dando grandes saltos no Brasil. O nosso principal objetivo é fortalecer a capacidade da Empresa de responder aos novos desafios da agropecuária brasileira e, ao mesmo tempo, preparar-se para antecipar e enfrentar os desafios do futuro.

O Sistema Agropensa se dedicará a coleta, organização e análise de informações relevantes, tendo autonomia para contestar criativamente, porém, com respaldo em evidências científicas, as tendências dominantes. Os dois grandes objetivos do novo Sistema são: (1) produzir e difundir conhecimentos e informações em apoio à formulação de estratégias de pesquisa, desenvolvimento e inovação para a Embrapa e instituições parceiras, e à tomada de decisão dos setores público e privado; e (2) mapear e apoiar a organização, integração e disseminação de base de dados e de informações agropecuárias.

Doravante os estudos de futuro e a antecipação de cenários serão realizados de forma sistemática pela Embrapa, e várias atividades já estão sendo empreendidas nesse sentido pelo Sistema Agropensa. Tal estratégia nos permitirá tomar decisões de forma mais segura em relação a vertentes de inovação complexas e dinâmicas, como a biotecnologia, a nanotecnologia, processos e sistemas de monitoramento por satélite e gestão territorial, automação e agricultura de precisão, agricultura e mudanças climáticas, dentre outras.

Se o Brasil pretende continuar liderando o processo de inovação agropecuária em momentos tão dinâmicos e desafiadores, é imprescindível a adoção de estratégias mais aprimoradas de gestão, para antevisão de futuros possíveis e desafios a eles associados. Não há dúvidas de que o agronegócio brasileiro precisará se nortear por estratégias cada vez mais sofisticadas de inteligência estratégica e competitiva, se quisermos aproveitar os benefícios das mudanças de paradigmas esperadas no campo da inovação tecnológica.

A revolução produtiva no Brasil

As últimas quatro décadas marcaram transformações sem precedentes na agricultura brasileira. Em 40 anos, o Brasil deixou uma condição de importador de alimentos para se tornar um dos maiores produtores e exportadores mundiais do setor agropecuário. Vários fatores contribuíram para este salto; entre eles o aumento nos investimentos em extensão rural e na ampliação dos recursos do crédito aos produtores. Em especial, cabe destacar o grande investimento feito pelo país em conhecimento, fator fundamental para tornar a agricultura nacional forte e competitiva.

Com a agricultura baseada em ciência, o Brasil passou a priorizar a incorporação de tecnologia, os ganhos de produtividade e a sustentabilidade do modelo agrícola. O resultado desse conjunto de fatores foi a transformação do campo no Brasil, que multiplicou praticamente por seis vezes a sua safra de grãos: de 30 milhões de toneladas, em 1973, para uma cerca de 180 milhões de toneladas, como previsão para 2013.

Três grandes conjuntos de conhecimentos podem ser considerados os grandes agentes dessa mudança: a transformação de grandes extensões de solos ácidos, e de baixa fertilidade, em solos férteis; a tropicalização e a adaptação de plantas e de animais originários de todas as partes do mundo aos biomas brasileiros, e o desenvolvimento de uma plataforma de práticas conservacionistas e de defesa ambiental inéditas. Trata-se de conquistas de todos os segmentos do setor: das instituições de pesquisa, universidades, assistência técnica, do setor empresarial e dos produtores.

Os desafios do futuro são enormes. A população mundial continua a crescer, a ver sua renda aumentar e, assim, a demandar mais produtos agrícolas, exigindo a intensificação dos cultivos e criações e colocando maior pressão sobre os recursos naturais. Nesse cenário, torna-se fundamental ampliar a capacidade de analise e de antecipação, bem como desenvolver uma base científica cada vez mais sofisticada. É fundamental estarmos preparados para as batalhas que teremos no futuro, com a conjugação de esforços em redes e em modelos de interação mais dinâmicos e inovadores.

Por outro lado, a pesquisa pública tem a responsabilidade para com os milhões de pequenos produtores que precisam de conhecimento e tecnologia para alcançar o mercado, aumentando sua renda e bem-estar. Não basta que as instituições públicas e privadas sejam competentes em criar novos conhecimentos, é preciso que elas sejam bem sucedidas em ajudar o produtor a usá-los.

Um grande número de propriedades do meio rural ainda não usufrui de excelência tecnológica, pois lhes falta escala de produção e assistência técnica que lhes permitam usar as tecnologias disponíveis, em especial as tecnologias que poupam terra e insumos e aumentam a produtividade do trabalho.

A Embrapa não tem mandato para ser protagonista no trabalho de assistência técnica aos produtores, mas ela pode contribuir para o fortalecimento da assistência técnica pública e privada, cuja presença junto a todos os agricultores é essencial para o desenvolvimento agrícola nacional.

Nesses 40 anos aprendemos muito sobre o Brasil e sobre a gente brasileira. Aprendemos muito sobre a nossa capacidade criativa e empreendedora. Aprendemos que podemos realizar mais do que ousávamos acreditar. Esses são apenas os primeiros sinais de uma grande revolução produtiva, que deve consolidar o papel do Brasil como líder em inovação agropecuária para o mundo tropical.

* Maurício Lopes é presidente da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária)

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