• Home
  • Nossa História
    • Nosso Time
  • Edições
    • Principios de 101 a atual
    • Coleção Principios - 1 a 100
  • Índice Remissivo
  • Contato

Revista Principios

  • Home
  • Nossa História
    • Nosso Time
  • Edições
    • Principios de 101 a atual
    • Coleção Principios - 1 a 100
  • Índice Remissivo
  • Contato

Energia

Edição 122 > O petróleo na América do Sul - ara não repetir a História

O petróleo na América do Sul - ara não repetir a História

Luís Eduardo Duque Dutra
Twitter
FaceBook

A primeira metade do século 21 abre uma oportunidade única para a região se inserir definitivamente na indústria petrolífera mundial

A maldição da abundância é um fenômeno recorrente ao longo dos últimos cinco séculos na América do Sul. Contudo, durante o século passado, a vocação petrolífera da região só se confirmou na Venezuela. Após o segundo choque do petróleo, no subcontinente, a lenta redemocratização, a fuga de capitais e quase duas décadas perdidas não inibiram o crescimento da produção, do consumo e das reservas de petróleo. Uma franca melhora ocorreu na última década, com a completa reversão das expectativas e dos resultados.

Surgiram novos países no cenário regional e a Venezuela não é mais o único foco. A América do Sul aumentou sua participação na indústria mundial do petróleo e, ao final da última década, destacou-se pelo incremento do potencial exploratório com a incorporação de reservas não convencionais: petróleo pesado da Venezuela, ultraprofundo no Brasil e de folhelho na Argentina. Cerca de um quinto das reservas provadas mundiais está localizado no subcontinente.

No setor petrolífero, a reconstrução dos instrumentos de intervenção do Estado foi lenta. A abertura ao exterior exigiu a modernização das estatais, como foi o caso da Ecopetrol e da Petrobras, e a constituição de agências reguladoras. Sucessivas rodadas de licitações de blocos exploratórios, durante a década passada, transformaram a estrutura dos mercados nacionais, trouxeram novos capitais e mais competição, gerando uma nova dinâmica de crescimento e uma onda de investimentos.

Trata-se de um novo espaço econômico, geograficamente contínuo e politicamente em consolidação, onde se destacam a Argentina, o Brasil, o Chile, a Colômbia, o Equador e o Peru, além da Venezuela, e onde o capital petrolífero encontra as condições apropriadas para se multiplicar. Na América do Sul, existem oportunidades para o grande capital no que diz respeito ao aproveitamento do potencial petrolífero não convencional e também existem oportunidades para as operadoras independentes e para o capital local desenvolver jazidas menores, num sem fim de bacias sedimentares, ainda desconhecidas em sua geologia.

A primeira metade do século 21 abre uma oportunidade única para a região se inserir definitivamente na indústria petrolífera mundial. O grau de amadurecimento institucional, o potencial em reservas e a disposição dos investidores externos se conjugam, mas não bastam. O desafio financeiro e tecnológico do aproveitamento do petróleo não convencional é proporcional ao desafio de regular o setor, promover o desenvolvimento industrial local e fazer bom uso da renda extraordinária apropriada pelo Estado.

O foco do estudo é exclusivamente o petróleo, não sendo abordado o gás natural, cuja importância foi crescente na região e que é um reconhecido instrumento de integração regional. A região tratada é a América do Sul, mas, em razão da fonte das informações ter sido a BP Statistical Review, também estão incluídas as nações que formam a América Central e o Caribe; o que não impede, como será visto, de identificar os principais países da América do Sul. O comércio intrarregional não foi abordado e será objeto de estudo próximo. O objetivo foi avaliar as perspectivas de reprodução ampliada do capital nas atividades de E & P. Em sequência, é analisada a evolução da produção, do consumo e das reservas nas últimas quatro décadas. A natureza que representa o desafio do desenvolvimento do óleo não convencional, as oportunidades para os operadores independentes e para o capital local são objetos das três seções finais.

Este estudo foi feito para subsidiar a iniciativa da ANP, contida na Proposta de Ação no 26/2012, de buscar uma harmonização maior da atuação dos reguladores na América do Sul. Ele não é reservado e não faz uso de informações protegidas pela propriedade intelectual.

***

A vocação petrolífera da América do Sul é quase tão antiga quanto a indústria. Na Venezuela e na Colômbia, a produção remonta às primeiras décadas do século 20, assim como na Argentina, onde o gás natural acabou por assumir uma pioneira e notável participação na matriz energética a partir de meados do século passado. A despeito desta vocação histórica e de numerosas bacias sedimentares ainda pouco conhecidas, o subcontinente permaneceu relativamente à margem do mercado internacional na segunda metade do século passado.

Na produção mundial, a participação da região não é expressiva e manteve-se relativamente estável, como pode ser visto pelo gráfico 1. Nos últimos quarenta anos, ela esteve em torno de 9%. Na verdade, chegou a cair fortemente, para depois recuperar-se, ficando abaixo do que representava em 1971 (9,29% versus 8,83%) no ano passado; se forem consideradas as informações publicadas pela BP Statistical Review. Esta acanhada participação não condiz com a vocação extrativa da América do Sul, nem com as perspectivas que se abriram a partir do início do século 21 com o rápido crescimento econômico verificado na região e, muito menos, condiz com o seu potencial petrolífero em termos de reservas como será visto adiante.

 

 

Gráfico 1: Produção de petróleo na América do Sul e Central em relação à produção mundial, em percentagem (1971, 1981, 1991, 2001, 2011).

 

Na tabela a seguir estão discriminados os principais produtores da região e o volume produzido em cinco momentos diferentes, de forma a se poder acompanhar a evolução nos últimos quarenta anos. A soma da produção de petróleo dos países sul e centro-americanos chegou a cair durante a década de 1970, mas, nos últimos trinta anos, voltou a se recuperar de forma que, em 2011, ela alcançou 7,4 milhões de barris por dia; quase o dobro da produção em 1981 (3,7 milhões de barris por dia). Na região, naturalmente, o peso da Venezuela era e ainda é muito grande, embora esteja diminuindo ao longo do tempo. No último ano, no maior país produtor da região, o volume médio de petróleo escoado dos poços (2,7 milhões de barris por dia) foi menor que há dez anos atrás (3,1 milhões de barris por dia) e bem menor do que há quarenta anos atrás (3,6 milhões de barris por dia). O decréscimo da produção Venezuela acabou por contaminar o desempenho da região.

 

 

Tabela 1: Produção de petróleo na América do Sul e Central, por países selecionados e produção mundial, em milhões de barris por dia (1971, 1981, 1991, 2001, 2011)

 

As décadas de 1970 e 1980 foram particularmente difíceis para quase todos os países da região. Os únicos que apresentaram um crescimento considerável da produção de óleo bruto foram os três primeiros listados na tabela acima: Brasil, Colômbia e Equador. Os choques petrolíferos sinalizaram o esgotamento da ampliação do capital verificada após o fim da Segunda Guerra Mundial e a crise da dívida, na década seguinte, ao racionar o financiamento externo, dificultou a retomada do crescimento. A produção do petróleo foi fortemente afetada pela deterioração das condições macroeconômicas. No decorrer da década de 1970, a queda da produção da região foi expressiva: em 1971 eram 4,7 milhões barris produzidos em média por dia, em 1981, o volume foi um milhão menor. Durante a década seguinte, a produção da América do Sul e Central tratou de recuperar a perda anterior; em 1981, a produção voltou a 4,7 milhões de barris por dia. Assim, foram vinte anos sem progresso no que diz respeito à produção de petróleo na região.

O contexto político e sua evolução devem ser considerados. A despeito da disparidade e de sua distinta velocidade, natural se lembrado o número de paí­ses envolvidos (na América do Sul são 12 e na América Central são mais 20 nações, incluindo 13 caribenhas), constata-se um percurso comum na construção da democracia em substituição às ditaduras militares. A falência das políticas públicas, a espiral inflacionária e a crise da dívida foram decisivas para a contestação política dos antigos regimes de exceção. Em sequência, em particular no subcontinente sul-americano, parecendo que por contágio, uma a uma, as diferentes nações foram definindo os marcos para a lenta redemocratização e a volta dos coronéis e generais à caserna.

Se a recessão econômica e o estágio de transição política não eram favoráveis, menor ainda era a disposição para investir. Após 1982, os preços do petróleo iniciaram um movimento de baixa que atingiu seu mínimo só no final da década seguinte. De quase 40 dólares por barril, os preços caíram para apenas 12 dólares por barril em julho de 1999. Na captação de recursos, as grandes petroleiras deixaram de ser as preferidas e passaram a competir com as empresas da nova economia: informática, comunicações e biomédica, que registravam muito melhor desempenho nas bolsas.

Na reposição das reservas, variável estratégica para uma petroleira, a situação não era melhor. Ela se fazia a custos crescentes, com o desenvolvimento de jazidas cada vez mais profundas e em regiões cada vez mais remotas. Para piorar, o acesso às reservas mais baratas se tornou cada vez mais difícil, em razão da competição com as petroleiras estatais, que assumiam gradualmente um papel preponderante. Entre programas de corte de custos, de demissão voluntária e de desinvestimento, a partir da década de 1990, quando buscou novas províncias, o grande capital petroleiro deu preferência às vastas áreas na Ásia, abertas depois do fim da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).

Até o final da década de 1990, à exceção da Venezuela e de alguns poucos países relativamente pequenos (como Trinidad e Tobago e Equador), o restante da América do Sul e Central estava à margem do mercado internacional do petróleo. A região não despertava muito interesse. O que explica, em parte, a queda da produção durante a década de 1970 e a lenta recuperação a partir da década seguinte. Como foi visto, a outra parte da explicação reside nas condições macroeconômicas negativas e no estágio de transição política em curso com a redemocratização. De qualquer forma, o subcontinente estava fora do portfólio do capital petrolífero e para-petrolífero. Ademais, à exceção sempre da Venezuela, nenhum outro país dispunha de algum papel preponderante na geopolítica internacional da energia.

***

Este cenário pouco favorável na região como um todo, tem um interessante contraponto, se considerado um subconjunto determinado de países. Se forem selecionados apenas os quatro primeiros países discriminados na tabela anterior e que estão na Tabela II, o desempenho é muito melhor, com um significativo aumento da produção.

 

Tabela 2: Produção de petróleo na América do Sul e Central, por países selecionados e produção mundial, em milhões de barris por dia (1971, 1981, 1991, 2001, 2011)

País/ano 1971 1981 1991 2001 2011

Brasil 175 220 643 1.337 2.193

Colômbia 224 140 430 627 930

Equador 4 213 307 416 509

Peru 64 194 116 98 153

Sub-total 467 767 1.496 2.478 3.784

Total Mundo 50.839 59.533 65.190 74.767 83.576

 

 

 

Brasil, Colômbia, Equador e Peru têm um desempenho notável no decorrer das últimas quatro décadas. A produção dos quatro países somadas foi multiplicada por mais de 8 entre 1971 e 2011. É interessante observar que o crescimento se fez, em cada um, a seu ritmo. O Brasil cresceu sempre, o Equador, quase sempre, mas, principalmente durante a década de 1970. A Colômbia deslanchou a partir de meados da década de 1980 e o Peru voltou a crescer na última década.

Uma leitura mais detida da tabela anterior destaca o ganho de velocidade recentemente. O ritmo de crescimento da produção de petróleo nos quatro países, durante a última década, é um claro indício das mudanças em curso. No período em análise, ocorreu a expansão da fronteira da produção para novas áreas, o que trouxe, naturalmente, novos atores ao mercado internacional do petróleo. O inédito papel destes países corresponde ao aumento da participação destes na produção regional e na produção internacional.

Dentro da região, os quatro países assumiram uma importância crescente na produção total. A participação mais que quintuplica no período em análise, como pode ser observado pelo gráfico 2. De marginais, em 1971, juntos, respondiam por menos de 10% da produção de óleo bruto, eles passam a responder por mais da metade desta produção, quarenta anos depois. A evolução da participação dos mesmos quatro países na produção mundial também é digna de menção. Ela mais que quadruplica, saindo de menos de 1% em 1971, para alcançar 4,5%, no ano passado.

Evidentemente, a despeito do crescimento sustentado, Brasil, Colômbia, Equador e Peru ainda são marginais no cenário internacional, mesmo se considerados em conjunto. A aceleração da produção recente, contudo, indica que esses países passaram a atrair as atenções do capital petroleiro e para-petroleiro e que o cenário desfavorável, predominante nas últimas três décadas do século passado se desfez ao longo da primeira década do século 21. Isoladamente, nos quatro países, e fora o off-shore nas costas do Brasil, a produção ainda não dispõe de escala, mas, com certeza, vistos em conjunto, após o desenvolvimento recente, já é possível a definição de estratégias de ampliação do capital num portfólio articulado de ativos sob uma clara base regional. Portanto, as perspectivas para o crescimento da produção na próxima década são muito melhores do que as vigentes até o final do século passado.

***

A análise da evolução do consumo de petróleo corrobora o sentimento de que, a partir do início da década passada, a América do Sul e Central experimentaram uma importante aceleração da atividade econômica, que trouxe consigo a expansão da indústria do petróleo e a abertura de oportunidades de investimento cada vez mais interessantes para o capital externo. A tabela 3 contém as informações sobre o consumo da região e de seus principais países nos mesmos períodos observados anteriormente. O crescimento da demanda por óleo foi sustentado durante todo o intervalo e, na média anual, ele foi duas vezes superior ao constatado no mundo (4,5% versus 2,1%); num claro indicador do processo de industrialização ainda em andamento nesta parte do planeta.

 

Tabela 3: Consumo de petróleo na América do Sul e Central e produção mundial, em milhões de barris por dia (1971, 1981, 1991, 2001, 2011)

País/ano 1971 1981 1991 2001 2011

Argentina 479 457 425 425 609

Brasil 582 1.124 1.488 2.030 2.653

Chile 108 108 146 227 327

Colômbia 121 161 211 227 253

Equador 24 69 103 137 226

Peru 96 136 111 146 203

Trinida & Tobago 42 32 24 26 34

Venezuela 211 435 402 622 832 Cresc

Demais A. do S. & C 563 771 798 1.104 1.104 Anual

Total A. do S. & C 2.225 3.294 3.709 4.945 6.241 4,5%

Total Mundo 47.941 59.405 66.799 77.245 88.034 2,1%

Fonte: BP Statistical Review

 

Fora a Argentina e Trinidad e Tobago, nações distintas das demais por terem a matriz energética assentada essencialmente no gás natural, todos os países da região tiveram o consumo de petróleo em contínua ascensão. Além disso, entre eles, existe uma forte diferença quanto ao ritmo de crescimento. O gráfico a seguir dá uma ideia da elevada sensibilidade do consumo de petróleo ao aumento da riqueza em algumas nações do subcontinente. Dois países exportadores e dois países tradicionalmente importadores (Equador, Venezuela, Brasil e Chile) conheceram um crescimento rápido da demanda. As taxas anuais superiores a 5%, ao longo de tanto tempo, no Brasil, Chile e Equador, refletem a firme consolidação do petróleo na matriz energética dos três países. Na Colômbia, o crescimento se deu a um ritmo menor, uma vez que a competição com o carvão é acirrada, embora este incremento esteja ainda acima da média verificada no resto do mundo e mesmo na própria região.

 

Gráfico 4: Média de crescimento anual do consumo de petróleo em determinados países da América do Sul e Central, em percentagem, entre 1971 e 2011.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A despeito do forte incremento do consumo de óleo ao longo dos quarenta últimos anos, ao se retornar à tabela anterior, é perceptível que, durante a última década, nem toda a região seguiu o mesmo padrão. Ao contrário, se considerados os países que não estão discriminados e que não são nem grandes produtores de óleo, nem grandes economias, o consumo de petróleo não aumentou. Entre 2001 e 2011, os países não discriminados mantiveram rigorosamente o mesmo nível de consumo: 1,1 milhão de barris por dia em média. Embora também tenham conhecido a retomada do crescimento econômico e tenham sido beneficiados pela mudança favorável dos termos de trocas internacionais, decorrente da valorização dos produtos agrícolas e minerais, como importadores de petróleo, neles, o consumo do produto mostrou-se sensível ao aumento significativo dos preços a partir de meados de 1999. De qualquer forma, é mais um indicador de que, com reservas e produção crescendo em alguns países, a região dispõe de uma diversidade suficiente para gerar numerosas oportunidades de comércio intrarregionais.

***

A evidência de que o potencial para ampliação do capital petrolífero na região é bastante favorável está principalmente nas reservas e nas perspectivas de descobertas em futuro próximo. As informações sobre o volume dessas reservas e sua evolução no tempo estão nos gráficos e tabelas a seguir, mas, vale observar que o período escolhido é um pouco mais curto que o analisado até aqui. As informações disponíveis sobre reservas se iniciam em 1981, portanto, após as duas crises do petróleo. Ademais, a definição do conceito de reservas e sua estimação em barris recuperáveis revestem-se de grandes dificuldades por agregarem à incerteza geológica, elementos econômicos, para se determinar o volume provado e, assim, o petróleo viável economicamente de ser aproveitado nas jazidas. Há de se ter cuidado ao usar essas estatísticas. A seguir, quando não qualificado, o termo reservas é entendido pelo que a literatura especializada denomina como -provada-.

Na tabela a seguir, estão listados os países detentores das maiores reservas de óleo da região. O peso da Venezuela, hoje, a maior reserva do mundo, à frente da Arábia Saudita, é detectado de imediato. Em 1981, o país respondia por cerca de dois terços (73,2%) das reservas da América do Sul e Central. Ano passado, o volume das reservas venezuelanas correspondia a mais de nove décimos (91,1%) do total localizado neste subcontinente. O incremento significativo das reservas ocorreu no final da década passada, quando as reservas conhecidas de petróleo pesado da região do Orinoco passaram a ser incluídas entre as reservas provadas. Assim, economicamente, elas são as mais custosas e marcam a fronteira da produção em termos de viabilidade do aproveitamento do recurso.

 

Tabela 4: Reservas provadas de petróleo na América do Sul e Central e reserva mundial, em bilhões de barris (1981, 1991, 2001, 2011)

País/ano 1981 1991 2001 2011

Argentina 2,2 1,7 2,9 2,5

Brasil 1,5 4,8 8,5 15,1

Colômbia 0,5 1,9 1,8 2,0

Equador 0,9 1,5 4,6 6,2

Peru 0,9 0,8 1,0 1,2

Trinida & Tobago 0,6 0,6 1,0 0,8

Venezuela 19,9 62,6 77,7 296,5

Demais A do S. & C. 0,8 0,6 1,4 1,1

Total A do S. & C. 27,2 74,6 98,8 325,4

Total Mundo 696,5 1032,7 1267,4 1652,6

Fonte: BP Statistical Review

 

Com ou sem o petróleo pesado, ao qual voltaremos oportunamente, no decorrer dos últimos trinta anos o desempenho da região em termos de descoberta é digno de nota; principalmente, se lembrado que ela não estava entre as prioridades de investimento do capital petroleiro e parapetroleiro. Sem contar o óleo pesado do Orinoco (220 bilhões de barris), o volume de reservas quase quadruplicou; mais exatamente, foi multiplicado por um fator de 3,88, ao saltar de 27,2 bilhões de barris para 105,4 bilhões de barris entre 1981 e 2011. Fora da Venezuela, ao longo de todo esse período, descobriu-se muito petróleo e em diferentes partes da América do Sul. Esta é a maior novidade, que surge a partir da última década junto com a retomada do crescimento econômico na região.

A emergência de novos atores e a expansão da fronteira exploratória podem ser bem observadas com a ajuda das informações contidas na tabela a seguir. Sempre de dez em dez anos, nela estão as estimativas de reservas provadas para três países sul-americanos pré-selecionados. Brasil, Colômbia e Peru não são tradicionais produtores e exportadores de petróleo. Nunca estiveram no foco do capital petroleiro. Contudo, neles, o incremento de reservas foi significativo: elas saem de apenas 2,9 bilhões de barris, em 1981, para 18,3 bilhões de barris, no final do ano passado. Portanto, as reservas somadas dos três países foram multiplicadas por nada menos que 6,3, em três décadas.

 

Tabela 5: Reservas de petróleo no Brasil, Colômbia e Peru, em bilhões de barris (1981, 1991, 2001 e 2011)

 

País/ano 1981 1991 2001 2011

Brasil 1,5 4,8 8,5 15,1

Colômbia 0,5 1,9 1,8 2,0

Peru 0,9 0,8 1,0 1,2

Total 2,9 7,5 11,3 18,3

fator de multiplicação entre 2011 e 1981 6,3

Equador 0,9 1,5 4,6 6,2

fator de multiplicação entre 2011 e 1981 6,9

Fonte: BP Statistical Review

 

Mas, não foram apenas os três países citados que surgiram precisamente no período em análise. Existe pelo menos um outro país que merece destaque. A inclusão do Equador no grupo anterior acrescenta uma nação de perfil distinto. Muito rapidamente, o Equador se tornou um exportador de petróleo, sendo um dos membros da OPEP. Geograficamente pequeno em relação aos outros, demonstrou-se extremamente rico em jazidas petrolíferas. Nos últimos trinta anos, as suas reservas saltaram de 0,9 para 6,2 bilhões de barris, num ritmo de incremento ainda acima daquele já observado no conjunto dos três países pré-selecionados.

Já constatada anteriormente, a emergência desses novos atores se adiciona à perspectiva aberta pela significativa ampliação das reservas. A despeito do desinteresse histórico das grandes petroleiras em produzir na região e muito antes da melhoria das condições macroeconômicas verificadas na última década, a expansão da fronteira exploratória foi sustentada desde o início da década de 1980. Hoje, como resultado, existem reservas abundantes que asseguram numerosas oportunidades de investimento e realização de lucro com o aproveitamento das novas jazidas localizadas nos quatro cantos da América do Sul e Central.

***

A certeza da existência de condições favoráveis para acelerar a reprodução do capital petrolífero na região surge quando se leva em conta, enfim, as reservas do Orinoco. Fica também evidente que, longe do foco do grande capital, a região confirmou finalmente sua vocação petrolífera que remonta ao início do século passado. No gráfico a seguir, depreende-se do crescimento da participação da região nas reservas mundiais, o excelente resultado acumulado nas últimas três décadas e todo o potencial de desenvolvimento da indústria de petróleo disponível para ser realizado na presente.

Antes da inclusão do petróleo pesado do Orinoco, a participação da região já tinha crescido de forma substancial. O primeiro aumento das suas reservas foi feito principalmente após a crise do petróleo e realizou-se apesar da crise da dívida e da fuga de investimentos externos. As adições subsequentes permitiram manter as reservas da América do Sul e Central com uma participação acima de 7% nas reservas mundiais, quase o dobro do que dispunha a região à saída do segundo choque petrolífero (3,9%).

Como fica claro pelo gráfico, as reservas do Orinoco são suficientes para catapultar a região a uma posição relevante na indústria do petróleo e na geopolítica da energia mundial. Ao somá-las às demais reservas da região, a participação dela nas reservas totais do planeta atinge praticamente um quinto. Se pelo menos parte deste petróleo pesado e das expectativas de seu aproveitamento se realizar no curso da presente década, a América do Sul deixará de ser marginal. Além disso, não será por falta de jazidas de petróleo e oportunidades de investimento que ela seria impedida de dar continuidade às transformações iniciadas na década passada.

 

Gráfico 5: Reserva provada de petróleo na América do Sul e Central em relação à reserva mundial, em percentagem (1981, 1991, 2001, 2011)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fonte: Elaboração própria a partir da BP Statistical Review.

 

*Luís Eduardo Duque Dutra é economista, professor adjunto da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola de Química

 

A íntegra deste artigo pode ser lida na página

eletrônica da Princípios: revistaprincipios.com.br

 

 

voltar

Editora e Livraria Anita Garibaldi - CNPJ 96.337.019/0001-05
Rua Rego Freitas 192 - República - Centro - São Paulo - SP - Cep: 01220-010
Telefone: (11) 3129-4586 - WhatsApp: (11) 9.3466.3212 - E-mail: livraria@anitagaribaldi.com.br