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Edição 122 > O desafio de “reinventar” o Recife
O desafio de “reinventar” o Recife

Uma vitória espetacular alcançada numa batalha complexa, marcada por acirrada disputa e ingentes desafios táticos, da qual resulta um novo quadro político, onde a hegemonia antes exercida pelo PT passa às mãos do PSB, tendo o PCdoB como coprotagonista - assim se pode sintetizar o resultado do pleito municipal de outubro no Recife.
Geraldo Julio, do PSB (com o autor dessas linhas, do PCdoB, na vice), partiu com apenas 4% de intenção de votos, contra 42% do candidato do PT, senador Humberto Costa e 20% do ex-governador Mendonça Filho, do Democratas, e venceu no primeiro turno com exatos 51,15% dos votos válidos (453.380). O petista findou com 17,43% e o democrata com apenas 2,25%.
Amplitude tática e combatividade
Tamanha alteração na correlação de forças no curso da batalha se deveu, de um lado, à amplitude (coalizão de 14 partidos: PSB, PCdoB, PTB, PSD, PR, PV, PMDB, PTN, PSC, PRP, PRB, PDT, PSL e PTC) e à flexibilidade tática, combinadas com consistente unidade de propósitos, notável capacidade de mobilização popular e desempenho hábil e aguerrido do candidato a prefeito, que caracterizaram a Frente Popular.
Fez-se o diálogo com praticamente todos os setores organizados da sociedade, concomitantemente com a ocupação de territórios eleitoralmente estratégicos, mobilizando mais de 300 candidatos a vereador, lideranças estudantis, sindicais, comunitárias e personalidades do mundo da cultura, da ciência e da tecnologia e dos meios religiosos. A TV e o rádio refletiram bela e contagiante campanha de rua.
No plano tático, ênfase em propostas inovadoras para a cidade; tendo a candidatura do senador Humberto Costa, como ?concorrente?, não propriamente ?adversária? (na expectativa de aliança num hipotético segundo turno), posto que o PT integra a coalizão que governa Pernambuco; e contraponto prioritário com as candidaturas de Mendonça Filho, do Democratas e, secundariamente, de Daniel Coelho, do PSDB.
Essa tática sofreu flexões, na medida em que o PT (dividido internamente e sob queda acelerada nas pesquisas) escolheu como alvos o PSB, o candidato Geraldo Júlio e, por fim, o governador Eduardo Campos, provocando polarização à esquerda. Foi preciso repelir a campanha agressiva e tendenciosa do candidato petista, assim como, nas duas últimas semanas, igualmente a do postulante tucano (que ao final ocupou o segundo lugar com 27,65% dos votos) - sem entretanto prejudicar o foco no novo projeto de cidade.
Programa avançado
O Recife vive agora um ambiente de enorme expectativa. Como bem assinalou a economista Tânia Bacelar em debate recente, predomina na população a crença de que é possível reordenar o uso dos espaços públicos, recuperar a participação popular e ?reinventar? a cidade. O programa de governo - peça construída no percurso da campanha - estimula essa expectativa. Traduz a fusão de reclamos, aspirações e propostas recolhidas em extensa ausculta à sociedade com a apreciação técnica criteriosa. Guarda sintonia com os projetos de desenvolvimento ora encetados em plano estadual, pelo governo Eduardo Campos, e federal pela presidenta Dilma Rousseff.
Compromissado com a democratização da gestão, o programa se assenta em cinco eixos: organizar a cidade; qualificar os serviços; promover os Direitos Humanos, a proteção e emancipação social; multiplicar as oportunidades, através do desenvolvimento econômico e da inovação tecnológica; profissionalizar a gestão.
Duro trabalho de ?reinvenção? da cidade, sim; como nos inspira Cecília Meireles, para quem ?...a vida, a vida, a vida,/a vida só é possível/reinventada.?
* Dep. estadual pelo PCdoB, vice-prefeito eleito do Recife