Internacional
Edição 102 > O socialismo é o futuro – construa-o agora!
O socialismo é o futuro – construa-o agora!
Chris Matlhako, ex-dirigente sindical sul-africano, é o atual Secretário de Relações Internacionais do Partido Comunista da África do
Sul. Nesta entrevista ele comenta os avanços recentes no processo político sul-africano e os desafios colocados diante dos comunistas
com a vitória de Jacob Zuma nas eleições de 22 de abril

Princípios – Qual o significado da expressiva vitória do Congresso Nacional Africano (1) nas eleições de abril? Qual a importância
dessa vitória para o aprofundamento da Revolução Democrática Nacional (2)?
Chris Matlhako – A vitória do Congresso Nacional Africano (CNA) foi importante por várias razões. Ela foi, depois de uma campanha
acirrada. A mídia hegemônica conduziu uma campanha dura, assim como a elite e as classes médias fizeram uma oposição igualmente dura.
Há uma luta de classes forte na África do Sul. E todas as forças reacionárias organizaram-se contra a eleição de Jacob Gedleyihlekisa
Zuma, em uma campanha eleitoral viciada contra o presidente do CNA.
Outro aspecto importante das eleições é que, na África do Sul, as elites e a mídia também estavam contra a aliança entre o CNA e o
Cosatu (3). Viam essa aliança como um problema a mais. O Partido Comunista da África do Sul (PCAS) e o Cosatu foram vistos como a
única possibilidade viável para que nosso povo alcance seus objetivos políticos. Ao mesmo tempo, essa coligação entre o Partido
Comunista e o Cosatu, dentro da grande aliança com o CNA, foi interpretada como um elemento que empurrava toda essa aliança para a
esquerda, no quadro da política sul-africana.
As eleições foram muito importantes, também, para a consolidação do CNA. Reconfirmou-se a confiança de nosso povo nessa frente
política. A maioria da população votou a favor da aliança e do CNA, porque acreditava nesse instrumento como capaz de assegurar que os
sul-africanos alcancem o desenvolvimento e a estabilidade que desejam.
As eleições foram importantes ainda no sentido de o CNA estar agora tomando uma consciência bastante profunda das dificuldades
superadas após a campanha eleitoral, dificuldades existentes também dentro do próprio CNA, onde houve muita luta interna pela
presidência dessa frente política.
As eleições de 22 de abril de 2009 reconfirmaram o CNA como a principal força política da África do Sul. A contribuição do Partido
Comunista nessas eleições reside no fato de por meio dele ter se manifestado a efetiva contribuição da esquerda, sobretudo em áreas
muito difíceis, nos setores mais pobres – particularmente aviltados nos últimos quinze anos, depois de implantados os programas de
privatização, de terceirização. Os mais pobres foram as vítimas que mais diretamente sofreram os efeitos perniciosos das políticas
neoliberais. E eles continuaram a acreditar na aliança com o CNA como meio para superar esses difíceis desafios. O Partido conduziu
uma campanha, muito bem-sucedida, de luta contra as políticas neoliberais, nos últimos seis, oito anos. Nesse período, o partido tem
estado na linha de frente da luta contra as políticas neoliberais sempre confiante no poder das classes trabalhadoras, e sempre
lutando para merecer a confiança depositada pelos trabalhadores no CNA e na aliança de governo, de modo que aqueles votos não sejam
desrespeitados e que o CNA e a aliança continuem a implementar as mudanças de que a África do Sul necessita.
Por fim, as eleições marcaram uma importante vitória, depois de 15 anos de governo em que nem todas as promessas puderam ser
cumpridas. O povo poderia ter dito “basta de promessas, chega daqueles que prometem tanto e nada fazem”. Mas, após 15 anos, o povo da
África do Sul continua a acreditar em um governo que, mesmo não tendo conseguido fazer tudo o que prometeu, continua viável como
instrumento para organizar o povo no sentido de seguir avançando. Enquanto em outros países do continente depois de 15 anos de governo
a lua-de-mel acaba e o povo desiste de confiar e de esperar. Na África do Sul, como mostraram as últimas eleições, o CNA ainda tem
maioria de 2/3 dos votos.
Princípios – Que fatores foram decisivos para a vitória eleitoral do CNA?
Chris Matlhako – Ao nosso ver, esses resultados só foram alcançados em função do acerto da aliança estratégica entre Partido
Comunista, Cosatu e CNA. Embora uma parte da classe trabalhadora tenha se afastado do CNA por causa de políticas muito estreitas que
beneficiaram apenas porções muito pequenas da sociedade sul-africana, a presença do Partido e do Cosatu na aliança de governo dá voz
aos mais pobres.
Princípios – Quais os principais desafios a serem enfrentados pelo PCAS na nova conjuntura aberta com a vitória de Jacob Zuma?
Chris Matlhako – O principal desafio está relacionado às responsabilidades que assumimos. Para citar um exemplo, o ministro da
educação superior é membro do Partido Comunista. Temos outros membros no governo do CNA, em ministérios e com função de coordenação
política no Parlamento, em todos os níveis, tanto no governo nacional quanto nos das províncias. Cabe a todos aqueles ocupantes dessas
importantes funções de governo defender e fazer valer os princípios, os ideais e o programa do PCAS. Claro, num governo de aliança,
pode haver diferentes concepções, num ou noutro ponto, mas o importante, o ponto em que não pode haver concessões, está em que a
concepção geral das políticas do Partido deve manifestar-se na condução do Estado.
E, de fato, o Partido está sabendo apreciar e aproveitar as oportunidades que se abrem. Estamos encontrando meios para avançar no
programa da aliança. Há, hoje, melhores relações na aliança, com o Partido e também com o Cosatu; antes elas eram mais difíceis. O
Partido está conseguindo apresentar suas ideias e recomendações, que estão sendo devidamente consideradas.
Queremos crer que a consolidação dessa aliança criará um centro de gravidade na vida política da África do Sul. Essa é a melhor
oportunidade não só para superarmos os efeitos da atual crise econômica internacional, mas também para darmos conta do desafio de
assegurar que a sociedade sul-africana possa avançar nas políticas democráticas, segundo as prioridades apresentadas no manifesto de
nosso partido.
Temos cinco áreas às quais é necessário dar atenção prioritária, sendo a educação a primeira e mais importante – a educação e
qualificação dos jovens e profissionais. Essa é a mais importante de nossas prioridades, e por isso o Partido reivindicou, e obteve,
no âmbito do governo do CNA, o Ministério da Educação. Também consideramos importante a questão dos transportes. O transporte público
na África do Sul é um problema crucial. É preciso construir uma rede de estradas e vias para interligar todas as regiões do país. Uma
rede de transporte público barato, acessível e que ofereça segurança. Igualmente importante é a questão das liberdades sociais, assim
como as áreas de saúde e a habitação.
Princípios – Na visão do PCAS, de que forma estão relacionadas a luta de classes e a luta de libertação nacional nas condições da
África do Sul?
Chris Matlhako – A questão nacional tem grande relevância no contexto da África do Sul, onde o apartheid é ainda um problema
importante. As questões do nacionalismo são importantes para avançar, e também para construir alianças que favoreçam as forças
progressistas.
O PCAS trabalha, na África do Sul, para organizar os pobres, os trabalhadores e as forças populares. Nas palavras de Lênin, as
políticas de alianças são importantes para o alcance dos objetivos táticos. O PCAS, portanto, considera com muita seriedade a política
de alianças. A aliança com o CNA tem contribuído para que ele organize cerca de 3 milhões de trabalhadores na África do Sul, superando
várias divisões superficiais, de raça, religião, idioma e outras. Um trabalho de organização muito importante para nossa Revolução
Democrática.
Um dos objetivos que temos de alcançar na África do Sul, para nossa Revolução Democrática, é o de construir a África do Sul como
nação, de construir a ideia da nação sul-africana. O PCAS está muito empenhado nessa luta, e nós temos boas condições de dar nossa
contribuição para ela. Nas interconexões entre raça, religião e gênero há importante espaço para que se construa a ideia de uma nação
sul-africana, sem divisões raciais, nem religiosas, nem discriminação de gênero ou qualquer outra.
Princípios – Que impactos a crise econômica mundial acarretou para a luta dos comunistas na África do Sul?
Chris Matlhako – Claro, a crise econômica global também está afetando a África do Sul, embora não do mesmo modo como os países
desenvolvidos. Nela, a principal dimensão da crise econômica não é financeira, nada tem a ver com bancos, crédito e liquidez. Mas, é
sistêmica e afetou toda a economia nacional. A África do Sul é uma economia de exportação de matérias-primas, sobretudo de recursos
minerais. Os preços de todas as commodities que exportamos – como ouro, diamantes – desabaram. E isso impactou toda a economia sul-
africana, porque os setores de mineração, energia e os financeiros monopolizados são os grandes empregadores. Quando o setor de
mineração para de empregar, imediatamente os níveis de desemprego sobem muito, acarretando graves efeitos sociais para a África do
Sul. A principal crise por nós enfrentada hoje é a de altíssimo desemprego, que gira em torno de 38 a 42%. São números inadmissíveis
para qualquer país em desenvolvimento.
Nossa responsabilidade, como Partido Comunista, é a de extrair dessa crise as oportunidades que puderem existir. Uma delas é começar a
construir as bases de uma economia nacional não tão exclusivamente dependente das exportações; uma economia em que a indústria
nacional tenha mais peso. Hoje, a África do Sul exporta suas riquezas minerais para a China e vários outros países, e é obrigada a
importar máquinas, serviços e inúmeros bens manufaturados, a preços muito altos. Isso resulta de traços coloniais sistêmicos de nosso
desenvolvimento, que precisam ser firmemente combatidos.
A crise, além do mais, também é uma oportunidade para que o país contemple um futuro de mais longo prazo, olhando além do presente
imediato. É preciso mobilizar os trabalhadores e os pobres, na África do Sul, para consolidarem um poder com o qual possam confrontar
os interesses do capitalismo. Hoje, estamos em uma situação em que o Estado pensa antes em resgatar bancos e empresas em dificuldades
financeiras do que em aplicar os mesmos recursos na economia produtiva. Frente a essa situação, o Partido tem insistido em que se
firmem acordos de livre comércio com o objetivo de isolar a África do Sul dos impactos negativos da crise econômica. Devemos tomar
medidas como, dentre outras, incentivar a construção de infraestrutura, indispensável para que possamos oferecer melhores condições de
vida à população.
Esperamos, ainda, conquistar uma política industrial mais efetiva, de modo que a África do Sul passe a produzir, localmente, os
produtos que hoje é obrigada a importar. Deve ser possível para o Estado sul-africano – e o Partido Comunista contribuirá nesse
processo – elaborar melhores políticas industriais, indispensáveis para gerar os empregos que faltam à sociedade sul-africana.
O problema é que estivemos nos últimos seis, sete anos presos a uma política macroeconômica muito estreita, que fez cair os níveis de
emprego sob a hipótese de que, assim, se atrairiam investimentos estrangeiros para a África do Sul. Essas políticas não apenas fizeram
crescer o desemprego, também provocaram a queda dramática dos indicadores de qualidade de vida da população. Queremos crer que a
eleição de Jacob Zuma será importante para abrir espaço à implementação de novas políticas econômicas. Temos interesse, é claro,
nessas mudanças macroeconômicas, mas nosso principal empenho é transformar os fundamentos da economia sul-africana. Nos últimos seis,
sete anos houve pequenas mudanças macroeconômicas que, de fato, alteraram pouco a economia sul-africana. Eram sempre as mesmas pessoas
no comando da política econômica, mesmo que já vivêssemos sob condições mais democráticas.
Com isso, não foram criadas novas relações de integração dos negros na sociedade dos brancos. Aconteceu apenas de alguns poucos deles
serem “integrados” – como em uma xícara de “café irlandês”: café muito preto, na parte de baixo, e uma camada bem fina de leite
branco, em cima, com respingos de café. Esse tipo de estrutura social explica a situação em que vive a maioria negra na África do Sul:
muitos negros muito pobres na parte de baixo, uma faixa média de brancos e pouquíssimos negros que realmente conseguiram beneficiar-se
de melhores condições de vida. O governo recém-eleito parece ser uma boa oportunidade para o PCAS e outros partidos de esquerda
poderem enfrentar essas políticas, lutando por melhores condições de vida para a maioria da população sul-africana.
Princípios – Como o PCAS se posiciona em relação às políticas de promoção da igualdade racial adotadas pela África do Sul nos últimos
anos?
Chris Matlhako – A política conhecida como black empowerment, por um lado, criou, de fato, um grupo muito pequeno de negros mais bem
capacitados. Esse grupo acaba servindo como “amortecedor” entre a grande maioria, que é negra, e uma pequena minoria de brancos, que
continuam a comandar a economia. Somos, sim, contra esse tipo de empowerment econômico dos negros.
Por outro, entendemos que, dado a maioria da população na África do Sul ser negra, os negros têm, sim, de ter mais poder, e têm de ter
direitos. Então falar em empowerment econômico dos negros, na África do Sul, deve ser falar do empowerment econômico da maioria. O
projeto implementado é, porém, fantasioso, porque o que se vê é a “produção” de alguns poucos, muito poucos multimilionários negros
absolutamente indiferentes à luta por melhores condições de vida para toda a população sul-africana.
Princípios – Como os comunistas sul-africanos veem atualmente a relação entre reforma e revolução?
Chris Matlhako – A questão das reformas é importante e, na África do Sul, muitas pessoas têm recebido muito bem as campanhas do
Partido. No momento atual por que passa nosso país, estamos engajados no “aqui e agora”. É um momento de reformismo e de construção do
socialismo. Mas fazemos uma distinção entre reformas e objetivo revolucionário estratégico. Não nos interessam o reformismo, as
reformas pelas reformas. É importante entender essa distinção, porque não seríamos realmente marxistas se, como revolucionários que
somos, perdêssemos o momentum, o “aqui e agora”, para esperar alguma circunstância especial, no futuro, supostamente “ideal” para
“implantar” o socialismo. O socialismo virá da luta constante, contínua, da incansável pressão da classe trabalhadora e dos pobres. O
que significa que não devemos ignorar as forças do “aqui e agora”, que contribuem para o aprofundamento e a consolidação da Revolução
Democrática. Há considerações e questões que entendemos como críticas, no “aqui e agora”, para não perdermos de vista o objetivo
estratégico, que é o socialismo.
Princípios – Desde 1995 o PCAS tem afirmado que o socialismo está na ordem-do-dia, ideia expressa através da consigna “visão de médio
prazo”. Que significa isso?
Chris Matlhako – Em 1995 nosso Partido criou um slogan que se difundiu na África do Sul: “O socialismo é o futuro – construa-o
agora!” Naquele momento, o Partido já antecipava a importância de manifestar a potência do movimento em direção ao socialismo, mas as
condições ainda não eram favoráveis. Alguns anos depois da queda do muro de Berlim, com as dificuldades que acossavam os países do
campo socialista, entendíamos ser preciso continuar a articular as ideias de luta pelo socialismo como objetivo estratégico. Ao mesmo
tempo, era preciso dirigir o movimento no “aqui e agora”, com um programa particular adequado à realidade de então.
Naquele momento, o Partido elaborou um programa para a transformação do setor financeiro. A campanha do Partido visava à maioria dos
sul-africanos sem contas em bancos – e que não podiam permanecer à margem. As faixas definidas pelos bancos e as tarifas bancárias
tinham de ser reduzidas. Hoje, essas tarifas na África do Sul são as mais altas do mundo, altas até para o mundo desenvolvido, o que é
uma anomalia. Os bancos trabalham organizados, entre eles mesmos, para impedir o acesso da maioria dos sul-africanos a serviços
bancários. Por isso, o Partido propôs a criação de bancos populares, ou bancos estatais para fazer as intervenções necessárias na
sociedade, de modo que os mais pobres também tivessem acesso a serviços bancários. E propusemos o programa de empréstimos sociais e de
reforma urbana. A sociedade sul-africana é muito fragmentada. O trabalhador rural é muito mais pobre que o urbano. Praticamente todo o
desenvolvimento só beneficia as áreas urbanas.
Aquelas campanhas visavam a atacar essas divisões e, em vários sentidos, alteraram radicalmente as perspectivas políticas de luta da
classe trabalhadora e dos pobres. O que é o momentum de que estamos falando? São os meios e as oportunidades para construir melhores
condições de vida para a classe trabalhadora e os pobres. Essas campanhas foram bem-sucedidas na consolidação das posições do CNA,
inclusive na mídia. Articulamos os cinco campos do poder que têm de ser geridos, na África do Sul: as estruturas do Estado, o campo
ideológico, a mídia, a produção da riqueza e as relações comunitárias. Todos são campos de poder. E foram definidos como áreas nas
quais o Partido e seus militantes, organizações e ativistas teriam de atuar, para garantir que as decisões fossem tomadas levando em
consideração nossa influência. No Estado, isso incluía tudo que tivesse a ver com planejamento e prestação de serviços públicos,
políticas, decisões. Tudo isso estava resumido e integrado no slogan “O socialismo é o futuro – construa-o agora!” Queríamos que, na
década seguinte, os principais beneficiários da democracia na África do Sul fossem os trabalhadores e os pobres.
Princípios – Qual o papel da participação popular para o aprofundamento da Revolução Democrática Nacional?
Chris Matlhako – Nos manifestos do CNA e do PCAS listam-se algumas áreas-chave, como educação, saúde e economia. Neles o Partido
destaca a importância da participação popular para manter os avanços que se obtenham nessas áreas. Se se fala de saúde, a própria
classe trabalhadora tem de participar na modelagem das reivindicações e das políticas que tenham a ver, por exemplo, com saúde
pública. Exigimos que a classe trabalhadora e os pobres tenham voz também na tomada de decisões junto aos corpos diretivos dos
hospitais, bem como de outras instituições. Não nos interessa que a classe trabalhadora e os pobres só participem no momento das
eleições, e depois tenham de esperar mais cinco longos anos. A participação tem de ser contínua, em todos os aspectos da vida de nosso
país. Assim também se fará a revolução, como o Partido Comunista a entende.
Princípios – Aqui no Brasil, o presidente Lula tem insistido na necessidade de estreitar relações com o continente africano. Como você
enxerga essa iniciativa?
Chris Matlhako – Trata-se para nós de algo muito importante. Há muitas semelhanças que unem o Brasil não apenas à África do Sul, mas
também aos vários países do continente africano que falam português. Além disso, há semelhanças econômicas e políticas entre nossos
países – duas “potências do sul”. Temos de criar um contrapeso ao imperialismo, e esse contrapeso terá de ser ancorado nas maiores
forças progressistas que constituem um “eixo do bem”: Brasil, África do Sul, todo o continente africano, a Índia progressista. É
importante elaborarmos isso em termos globais, em termos comerciais, mas também em outras áreas, como a das relações entre nossos
povos. Falamos de um ícone revolucionário brasileiro, o negro Osvaldão, típico representante das conexões entre África e Brasil. Os
africanos orgulham-se da contribuição que dão e recebem no contexto da diáspora e das lutas de resistência ao colonialismo e ao
imperialismo, bem como nos contatos entre América Latina e África, particularmente com o Brasil, nas lutas por uma sociedade
igualitária.
Princípios – Ano que vem a África do Sul será sede do Mundial de Futebol. Que tipo de expectativas isso vem criando?
Chris Matlhako – Em primeiro lugar será ótimo para as relações entre nossos povos que o Brasil hospede a Copa do Mundo de 2014. Do
ponto de vista da África do Sul, a ideia de abrigar a Copa do Mundo de Futebol tem a ver com a possibilidade de construir a
infraestrutura que nosso país ainda não tem. Considerada a crise econômica, será importante meio para criar empregos e, sobretudo,
para construir algo de que a África do Sul carece muito: estradas e, em geral, a infraestrutura de transportes. Toda a infraestrutura
de transportes a ser construída para a Copa do Mundo está sendo esperada, na África do Sul, como uma espécie de legado que, embora
seja construído para a Copa do Mundo, perdurará depois dela. O mesmo vale para as questões de segurança e, também, para outros
mecanismos que, esperamos, possam servir como catalisadores do desenvolvimento econômico, não só nas cidades onde haverá jogos, mas em
todo o país. Atualmente já há muitas instalações sendo construídas, embora o país esteja um pouco atrasado. Teremos muito prazer em
apresentar nossas “vuvuzelas” (buzinas) aos torcedores brasileiros que nos visitarem (risos).
Ana Maria Prestes é doutoranda em Ciências Sociais pela UFMG e Ronaldo Carmona é mestrando em Geografia Humana pela USP
Notas:
(1) Ampla frente progressista em cujo âmbito atua o Partido Comunista.
(2) Revolução Democrática Nacional é o nome dado pelos comunistas da África do Sul ao processo vivenciado pelo país desde o fim do
apartheid.
(3) Congress of South African Trade Unions, a central sindical sul-africana.