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Edição 102 > O internacionalismo de massas na resistência ao imperialismo

O internacionalismo de massas na resistência ao imperialismo

José Reinaldo Carvalho
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A disjuntiva entre socialismo e barbárie é mais atual do que nunca. Contudo, pode-se ver no cenário mundial uma forte reação contra uma possível predominância do barbarismo. No Brasil, amplia-se a luta pela paz e pela solidariedade internacional. Na América Latina, a luta democrática e popular evoluiu extraordinariamente nos últimos 10 anos. Nossa tarefa é reforçar esses processos revolucionários 
 

Um dos aspectos fundamentais da atuação do PCdoB é a luta anti-imperialista, essência de sua linha política. Mesmo quando estão na
ordem-do-dia lutas estritamente internas – como a questão nacional, a ampliação da democracia, as melhorias sociais e os processos
internos de reivindicação popular –, ainda que se analise o cenário apenas do ponto de vista brasileiro, a questão anti-imperialista
permanece presente. Isso porque não se pode conceber a questão nacional desligada de um sistema de dominação imperialista montado
secularmente no Brasil e cujo desmonte é uma obra que depende de medidas muito complexas resultantes de um processo revolucionário.
Para as forças democráticas, patrióticas e populares brasileiras, isto significa não haver uma “muralha da China” a separar a questão
nacional das questões democrática e social.

A luta contra o sistema de dominação imperialista em nosso país só pode ser conduzida vitoriosamente se isto for levado em
consideração, pois esta consciência terá como corolário a fixação de alvos e tarefas ajustados à realidade, à correlação de forças, ao
nível da batalha em suas distintas etapas. Não haverá fórmulas simples, mas a luta anti-imperialista se favorecerá de formulações
programáticas corretas, métodos amplos e políticas de alianças que correspondam ao propósito de unir, organizar e mobilizar
ponderáveis forças sociais e políticas.

Ilusões no “imperialismo benigno”

Nos últimos anos, particularmente durante os dois mandatos de George W. Bush, o imperialismo estadunidense proclamou e levou a efeito
uma espécie de tirania global. Endureceu suas políticas interna e externa, esta última sistematizada na Estratégia de Segurança
Nacional, conhecida como “doutrina Bush”, um corpo de ideias de cariz abertamente fascista. A humanidade passou a viver a época da
“guerra infinita ao terrorismo”, das guerras preventivas, da violação do direito internacional, da perseguição a países considerados
integrantes do “eixo do mal”, do combate estratégico a países que aspiram a jogar um papel de destaque no concerto internacional, de
instrumentalização das Nações Unidas, das ações unilaterais. A época, enfim, em que se tornou natural o chefe de turno da
superpotência imperialista começar o discurso sobre o estado da União com a frase “A América está em guerra”.

Em tal contexto cresceu sobremaneira o papel e o lugar ocupado pelo combate anti-imperialista na orientação das forças políticas de
esquerda, destacadamente dos comunistas. No Brasil, foi sensível o aumento da atividade internacionalista que se traduziu na
multiplicação das ações de massas, no surgimento de novas frentes, entidades e coordenações entre forças anti-imperialistas, no
crescimento e na ampliação da luta pela paz e na solidariedade internacional. Surge o internacionalismo de massas, o internacionalismo
do povo brasileiro e isto é um mérito das forças progressistas e de esquerda de nosso país. No que diz respeito especificamente ao
Partido Comunista do Brasil, têm sido fecundas a ação prática nesse sentido e a contribuição para plasmar esse internacionalismo de
massas.

Tem sido uma característica saliente também da agremiação comunista brasileira a reflexão política e teórica, resultando em análises e
orientações que marcam época quanto à compreensão sobre a crise do capitalismo, ao progressivo declínio histórico do imperialismo
norte-americano relativamente ao apogeu de outros períodos históricos e à emergência de novos polos econômicos e de poder geopolítico,
assim como na indicação de estratégias e táticas de luta. Revelou-se, assim, o anti-imperialismo, como um aspecto político, ideológico
e prático da linha política geral e da atividade concreta do partido dos comunistas e de outras forças aliadas de esquerda.
A formação dessa consciência anti-imperialista e internacionalista se faz em meio a polêmicas e exige também o combate às ilusões.
Algumas análises convenientemente situam os dois mandatos de George W. Bush como um hiato na história do imperialismo norte-americano
e creem que os Estados Unidos enfrentaram dificuldades para harmonizar a agenda de afirmação da sua hegemonia unipolar no pós-guerra
fria com os princípios do multilateralismo. É uma leitura benevolente do que seria um imperialismo “benigno”, porque defensor de
princípios multilaterais, que sofre o “maligno” desvio do unilateralismo.

Tais ilusões devem ser combatidas, mormente agora, quando o imperialismo norte-americano procede a flexões em sua política externa e
encontra-se empenhado na mudança de imagem e na fixação de um perfil de potência que supostamente apregoa a democracia, o respeito à
soberania nacional e ao direito internacional e promoverá uma correção de rumos na política externa no sentido do multilateralismo e
da não intervenção política e militar nos assuntos de outros países. Estas ilusões estão na base de outra – a de que emergirá,
democraticamente e sem conflitos, uma nova ordem multipolar em que os Estados Unidos serão uma espécie de primus inter pares na
“comunidade internacional” e até um aliado ou parceiro estratégico, não mais o inimigo principal a combater.

De igual importância para a prática internacionalista dos comunistas é o combate às ilusões sobre as possibilidades de regeneração do
capitalismo, tão em voga até pouco tempo antes de eclodir a presente crise econômica e financeira. Cegos às evidências de crise
estrutural e sistêmica, de declínio progressivo e relativo da superpotência norte-americana, de deterioração do padrão dólar e do
“longo crepúsculo do capitalismo”, na brilhante formulação de Jorge Beinstein, economista e ideólogo do Partido Comunista da
Argentina, não foram poucos os que se deixaram ofuscar pela efêmera e limitada expansão da “era Clinton”. Trombetearam a retomada da
“liderança econômica dos Estados Unidos” e chamaram de “catastrofistas” àqueles que insistiam em denunciar perante os trabalhadores e
os povos as mazelas do capitalismo como sistema inerentemente gerador de crises.

O anti-imperialismo num cenário contraditório

O internacionalismo dos comunistas e do povo brasileiro é exercido numa situação mundial paradoxal, marcada por uma unidade de
contrários. De um lado, há as ameaças à própria sobrevivência da humanidade e, de outro, as potencialidades revolucionárias e
libertadoras das forças progressistas e dos povos, que derivam da própria realidade objetiva. As ameaças à sobrevivência humana, à
paz, à segurança internacional, à democracia, aos direitos dos povos e à soberania nacional fazem parte das políticas levadas a efeito
pelas potências imperialistas, pela grande burguesia monopolista e pelas oligarquias financeiras internacionais.

As políticas que põem em prática são antagônicas aos interesses dos povos e aos direitos dos trabalhadores. A perdurarem essas
políticas, a perspectiva é a da degradação continuada da humanidade e de suas condições de vida. Por isso, sem nenhum dogmatismo, se
faz mais atual do que nunca a disjuntiva vislumbrada pelos fundadores do marxismo – e verbalizada por Rosa Luxemburgo nas primeiras
décadas do século passado – entre o socialismo e a barbárie. Estamos convencidos de que ou detemos o curso perigoso que o mundo está
seguindo – e para detê-lo é preciso muita luta – ou a perspectiva da humanidade é a degradação, a barbárie.
De outro lado, há muitas potencialidades, perspectivas e possibilidades de luta.Analisando os elementos mais marcantes do atual quadro
internacional, justifica-se a adoção, na ordem-do-dia, da luta anti-imperialista e do internacionalismo como tarefas essenciais dos
comunistas. Quando nos referimos às ameaças contidas nas políticas do imperialismo, estamos também tratando da política de guerra,
intervencionista e de militarização do planeta.

A partir de meados dos anos 1990 – depois da derrocada do socialismo na URSS e no Leste europeu e da crise que isso ocasionou para os
movimentos sociais e os partidos políticos de esquerda – vem acontecendo um processo de retomada da luta dos povos. Este é o lado
contraditório que alimenta as potencialidades do desenvolvimento da resistência à ofensiva do imperialismo e do capitalismo.

Internacionalismo de massas

Em face dessa realidade, os comunistas praticam seu internacionalismo e imprimem a este um caráter de massas e de trabalho de frente
única, ao que estamos denominando de internacionalismo de massas ou o internacionalismo do povo brasileiro.

A multiplicação de atividades internacionalistas pelas entidades do movimento sindical e popular, a ação multilateral e multissetorial
do Cebrapaz (Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz), hoje na presidência do Conselho Mundial da Paz, a rea-
lização de tribunais anti-imperialistas, dos encontros contra a Alca e dos Fóruns Sociais mundial, continental e brasileiro, assim
como de manifestações contra as guerras imperialistas têm marcado o movimento democrático, popular e anti-imperialista no Brasil nos
últimos anos. As bandeiras da paz e da solidariedade com os povos são essencialmente revolucionárias, sendo falso confundir a luta
pela paz com reformismo, pacifismo e capitulação. Como demonstra a experiência, a bandeira da paz e da solidariedade aos povos tem
caráter intrinsecamente revolucionário. Como assinala o Projeto de Resolução Política do 12º Congresso do Partido Comunista do Brasil,
“A luta pela paz surge como uma das mais importantes frentes de combate anti-imperialista. Luta que assumiu dimensões gigantescas
quando da agressão norte-americana ao Iraque e que, embora num nível diferente, tem sido constante e diversificada, contra as armas
nucleares, contra as bases militares, contra as guerras de ocupação”. Esta luta ganha ainda maior significado com a campanha que o
Cebrapaz realiza contra a 4ª Frota da Marinha de Guerra dos Estados Unidos, relançada para ameaçar os países e povos da América Latina
e do Caribe.

Foco da solidariedade internacional

Neste contexto, é fundamental que os comunistas atuantes nos movimentos sociais incorporem a bandeira da luta contra a guerra, pela
paz e pela solidariedade com todos os povos atingidos pela guerra imperialista. Os comunistas são solidários aos países do Oriente
Médio agredidos pelos Estados Unidos e por Israel.

O Iraque e o Afeganistão foram invadidos logo depois do 11 de setembro, sob o pretexto de caçar Osama Bin Laden. A ocupação dura até
hoje. No Iraque, os Estados Unidos concentraram nos últimos seis anos o grosso de suas ações no Oriente Médio. Gira em torno de 150
mil o número de soldados americanos e aliados atuantes no país árabe. Agora, anuncia-se o aquartelamento dessas tropas e um plano
ainda vago de retirada em 2011, elaborado em suas linhas principais pelo governo de Bush e ratificado pelo atual presidente dos EUA,
Barack Obama, que anuncia o deslocamento do eixo da intervenção militar estadunidense na região para o Afeganistão, onde tem havido
cruentas ações terrestres e bombardeios aéreos. Tanto no Iraque quanto no Afeganistão desenvolve-se uma encarniçada resistência
popular, identificada pela propaganda oficial com o terrorismo. Obviamente o movimento popular e a solidariedade internacional
identificam-se com a resistência nacional antiocupação.

O Líbano, por sua vez, sofreu com a guerra provocada por Israel, instrumento dos EUA na região, e conseguiu vencer. Pela primeira vez,
o exército israelense sofreu uma derrota acachapante numa guerra com um país árabe. Por isso o Hezbollah se transformou numa força
política decisiva e hoje conta com o respaldo de vastas camadas da população libanesa e de todo o Oriente Médio.

A Palestina, com seu povo martirizado há mais de 60 anos, é depositária da solidariedade militante dos comunistas e do povo brasileiro
em sua luta pela criação do Estado livre, soberano e independente, tendo por capital Jerusalém.

Mesmo nos casos em que os comunistas não tenham identidade ideológica, sua solidariedade é indeclinável para com os Estados nacionais
agredidos e ameaçados pelo imperialismo. Há 30 anos, desde a Revolução Popular que derrubou a monarquia despótica do xá Reza Pahlevi,
os Estados Unidos perderam uma das suas principais bases na região do Oriente Médio. Desde então, eles conspiram para derrubar o
governo iraniano e intervir no país.

A solidariedade militante se volta também para o conjunto dos países socialistas e não pode ser indiferente, sob falsos pretextos, às
pressões, chantagens e ameaças do imperialismo estadunidense à República Popular Democrática da Coreia.

América Latina e EUA – Interesses antagônicos

Um dos polos mais importantes da luta anti-imperialista na atualidade é a América Latina. A região sempre foi, e continua sendo, alvo
da cobiça e dos planos de dominação do imperialismo. Os interesses dos povos e nações latino-americanos e caribenhos são antagônicos
aos do imperialismo estadunidense, mesmo quando este se apresenta, através de jogadas políticas, com nova linguagem e roupagem.

O quadro político e a luta democrática e popular na América Latina experimentaram extraordinária evolução ao longo dos últimos 10
anos. Desde 1998 – quando Hugo Chávez foi eleito presidente pela primeira vez – há uma verdadeira onda de movimentos sociais e
políticos e vitórias eleitorais de forças progressistas. Esse processo teve reflexos em países como Uruguai, Brasil, Bolívia, Equador,
Nicarágua, Argentina, El Salvador. A luta é para que este novo ciclo tenha prosseguimento, que essa onda de vitórias progressistas se
prolongue e se consolide. Na Colômbia persistem os impasses decorrentes da vigência de um regime antidemocrático, ao passo que o
movimento popular insiste em construir saídas para o conflito armado. No México, cresce a oposição a um governo que é resultado da
fraude e se distingue pelo entreguismo e a corrupção. No Peru, o exercício de políticas antipopulares e o massacre a populações
indígenas desmascaram o governo e fazem crescer o clamor por mudanças.

No contexto latino-americano, Cuba se destaca como força simbólica maior, inspiradora de todos os movimentos revolucionários do
continente.

Uma posição internacionalista do movimento social brasileiro é indissociável da solidariedade a esse heroico povo, à sua luta contra o
bloqueio e pela libertação dos seus heróis encarcerados nos Estados Unidos.

Em meio a tudo isso surgem situações – e o caso mais típico é a Venezuela – em que da vitória eleitoral, o presidente vencedor se
proclama anti-imperialista, revolucionário, defensor da libertação dos povos e da revolução socialista, o que aparece como o fator
mais novo e dinâmico da luta pela libertação nacional e social na região. Nossa tarefa é reforçar esses processos revolucionários,
democráticos e progressistas com todos os matizes que possam ter.

José Reinaldo Carvalho é jornalista, escritor, especialista em Política e Relações Internacionais, secretário de Relações
Internacionais do PCdoB e diretor do Cebrapaz.

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